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A escolha de Kátia Abreu: entre o Ministério e o futuro político

Saída do PMDB do governo coloca ministra numa sinuca de bico. Ou muda de partido ou entrega o cargo.

Daniele Bragança ·
29 de março de 2016 · 9 anos atrás
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Kátia Abreu é empossada ministra da Agricultura. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado.
Kátia Abreu é empossada ministra da Agricultura. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado.

Nesta terça-feira (29), o PMDB oficializou a saída do partido da base de apoio do governo Dilma Rousseff. A decisão coloca os cargos dos ministério ocupados pelo partido a disposição da presidente. Segundo a direção do partido, ninguém está autorizado a ocupar cargos no governo federal em nome do PMDB, mas há ministros que querem ficar, mesmo que signifique contrariar a decisão da sigla.

Publicamente, apenas Celso Pansera (PMDB-RJ), ministro da Ciência e Tecnologia, afirmou que não sairá do governo. Outra que talvez permaneça é Kátia Abreu (PMDB-TO), atual ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Enquanto o partido debandou do governo por aclamação durante reunião do diretório nacional em Brasília realizada nesta tarde, Kátia Abreu dava entrevistas defendendo a presidente do impeachment.

Desde que a ameaça do PMDB de sair do governo ficou mais evidente, pipocam boatos na imprensa que Abreu procura outro partido para continuar no Ministério.

Não que isso seja inédito na história da carreira política da ministra. Após a aproximação entre a líder dos ruralistas no Senado e a presidente Dilma acontecer, ainda nos primeiros anos da primeira gestão da presidente, a senadora mudou o tom nos discursos e foi peça-chave para a aprovação do Novo Código Florestal.

Vinda do Democratas (DEM, antigo PFL), partido que foi filiada de 1996 a 2011, Kátia disputou pelo partido (e venceu) a vaga de primeira suplente, deputada (2003) e senadora (2007). Em 2011, foi para o Partido Social Democrático (PDS), de onde saiu em 2013 para o PMDB, então principal partido da base aliada, quando viu a chance de chegar ao Ministério da Agricultura.

Nas eleições de 2014, a senadora subiu no palanque para fazer campanha para a presidente. O apoio foi recíproco: Dilma também apoiou a senadora e chegou a gravar um vídeo pedindo votos para ela. As duas foram reeleitas e no finalzinho daquele ano, Dilma oficializou a ida dela para a equipe de ministros, mesmo com críticas dos ambientalistas e de grupos indígenas.

Isso porque, como líder dos ruralistas, Abreu se destacou no Congresso como uma das principais vozes em defesa do Agronegócio e por apresentar e defender propostas de flexibilização da legislação ambiental e indígena. É autora da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, de 2013, que veta a demarcação de terras indígenas em áreas invadidas.

Uma das propostas apresentadas pela senadora, em 2007, foi o projeto de Decreto Legislativo Nº 90, que quer excluir o símbolo de alerta transgênico das embalagens (o triângulo amarelo com um T maiúsculo).

Empossada, Dilma deu carta branca para que a senadora fortalecesse e desburocratizasse o Ministério da Agricultura. Em apenas um ano e três meses de mandato, o setor do agronegócio continuou dando bons números, apesar da recessão econômica. E o Plano Safra continuou recebendo levas de dinheiro, sem ser atingido pelo corte orçamentário.

Isso não foi suficiente para manter a fidelidade dos ruralistas, que estão deixando o governo, junto com o PMDB. É esse setor político que sustenta Kátia Abreu.

A ministra tem como opção ir para algum partido da base aliada que se mantenha fiel ao governo até o fim, ou ficar sem partido. A outra opção é entregar o cargo e voltar para o Senado, decisão que leitores da revista Globo Rural, publicação voltada ao setor, aprovam: numa enquete no site do veículo, 63% dos leitores acham que a ministra deveria deixar o MAPA em caso do PMDB romper com o governo. Em entrevista nesta terça-feira para a rádio CBN, a ministra afirmou que esperaria a decisão do partido para anunciar seu destino.

 

 

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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Comentários 2

  1. George diz:

    Bem feito. Se atrelou a um cadaver, agora vai afundar junto.


  2. Robson diz:

    Kátia Abreu poderia ir para o PV de Álvaro Dias – que pede a substituição do termo 'agrotóxico' por 'fitossanitário'. Merecem-se!