Com a juba e os braços dourados que contrastam com os pelos pretos do resto do corpo, o carismático e ameaçado mico-leão-baiano agora tem uma data própria no calendário de Ilhéus, no sul da Bahia. No final do ano passado, o animal foi declarado como mascote oficial e patrimônio da biodiversidade do município. Com o reconhecimento veio também o Dia Municipal do Mico-Leão-Baiano, celebrado neste 26 de março, junto com o Dia Nacional do Cacau. A sobreposição de datas comemorativas não é à toa, já que os plantios agroflorestais de cacau – conhecidos como cabrucas – são usados pelo primata e tornaram-se aliados da sua conservação.
“É um símbolo para a biodiversidade e para conservação no município, e também é uma forma de agregar valor aos produtos da região que estão relacionados ao mico-leão, como o cacau. Ilhéus é um dos maiores produtores de cacau da Bahia e o mico vive na cabruca também”, destaca o coordenador da Iniciativa para Conservação do Mico-Leão-Baiano, Leonardo Oliveira. “O mico ajuda a cabruca, assim como a cabruca ajuda o mico”, completa o biólogo.
O coordenador foi um dos principais articuladores por trás do reconhecimento municipal, consolidado na Lei Municipal n°. 4.315, de dezembro de 2024, com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para a espécie, avaliada nacionalmente como Em Perigo de extinção, e que só pode ser encontrada na Mata Atlântica da Bahia.
A lei estabelece que o Dia Municipal do Mico-Leão-Baiano poderá promover ações de educação ambiental, divulgação de pesquisas, materiais informativos sobre a espécie e a realização de eventos.
“Serão tomadas medidas, estabelecidas em planejamento estratégico, de educação, de natureza científica, de avaliação, de conscientização e de deliberação, capazes de proteger e conservar esse patrimônio da biodiversidade municipal”, determina o texto da lei municipal.
A espécie
O mico-leão-baiano ou da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) recebe esse nome por ser encontrado exclusivamente no sul da Bahia, nas porções de Mata Atlântica do estado. Apesar de registros históricos da espécie numa pequena porção do oeste de Minas Gerais, o mico-leão é considerado extinto do lado mineiro.
O desmatamento e a fragmentação das florestas são as principais ameaças ao primata. Nesse contexto, a cultura do cacau, tradicionalmente plantado em sistema agroflorestal no sul da Bahia por meio das cabrucas, tornou-se um grande aliado da conservação do mico.
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