Salada Verde

Ibama ‘divulga’ licença de Belo Monte

Instituto negou consulta ao processo de licenciamento à reportagem de ((o))eco. Horas depois, documento foi publicado na internet.

Redação ((o))eco ·
27 de janeiro de 2011 · 14 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
As corredeiras que serão alagadas com a construção de Belo Monte (foto: Donizete Tomé)
As corredeiras que serão alagadas com a construção de Belo Monte (foto: Donizete Tomé)

Na manhã desta quarta-feira, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou acesso da reportagem de ((o))eco ao processo de nº 02001.001848/2006-75, da UHE Belo Monte, alegando que o documento estava desatualizado, na falta dos pareceres mais recentes. Ainda na tarde desta quarta-feira, no entanto, um novo parecer foi publicado no Sislic – o sistema de informações de licenciamento na internet.

A repórter Nathália Clark, correspondente em Brasília, esteve na sede do Ibama com uma petição feita com base na Lei 10.650, de 16 de abril de 2003 – que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações ambientais existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Em 2007, o então diretor do Licenciamento do Ibama, Luiz Felipe Kunz Jr., garantiu à reportagem de ((o))eco o acesso ao parecer negativo ao licenciamento das usinas hidrelétricas do rio Madeira.

O documento publicado nesta quarta-feira concede uma licença de instalação parcial, uma vez que o consórcio que construirá de Belo Monte não cumpriu as condicionantes impostas pelo próprio Ibama quando emitida a licença prévia em 21 de julho de 2010. Licença parciais, no entanto, não existem na legislação ambiental brasileira.

Na prática, a licença dá a largada à construção de Belo Monte. O documento publicado nesta quarta permite a construção do canteiro de obras da Usina, no Rio Xingu, Pará. A autorização, assinada pelo presidente interino, Américo Ribeiro Tunes, permite a supressão de vegetação em uma área de 238 hectares. O documento autoriza a Norte Energia, empresa responsável pela obra, a iniciar a implantação de infraestrutura de apoio (acampamento, canteiro industrial e área de estoque de solo e madeira).

Veja ensaio fotográfico “O Xingu que morrerá”

A Norte Energia havia solicitado a concessão de uma LI parcial em outubro de 2010. O Ministério Público Federal, porém, já havia anunciado que iria entrar com uma nova ação na Justiça caso o Ibama emitisse alguma autorização parcial antes da licença de instalação.

O Ministério Público Federal no Pará divulgou nota afirmando ser ilegal a autorização concedida hoje, pois esta desconsidera as condicionantes impostas pela Licença Prévia, que ainda não foram cumpridas pelas empresas responsáveis. Em audiência pública do último dia 7 de dezembro, realizada pela subcomissão do Senado Federal que acompanha Belo Monte, revelou-se que a SPE Norte Energia * não teria fluxo de caixa para bancar os custos das condicionantes da LP.

A empresa divulgou nota no início da noite através de sua assessoria de imprensa. “A Norte Energia S.A., empresa responsável pelo empreendimento, reconhece que entre os pontos de discussão de um grande projeto hidrelétrico, o que recebe maior atenção da sociedade e da mídia são os licenciamentos ambientais”, afimou. Mas não deu mais detalhes sobre o cumprimento das condicionantes. (equipe ((o))eco)

Leia aqui a nota completa da Norte Energia

* Em projetos de elevados custo e complexidade como Belo Monte, é comum que consórcios se estruturem por intermédio de Sociedades de Propósito Específico (SPE), cujo objeto social fica restrito à construção e operação de uma usina hidrelétrica (UHE).

Leia também

Reportagens
28 de outubro de 2024

COP16 ainda não viu a cor do dinheiro para proteger a biodiversidade mundial

Chefes de estado tentarão desatar os nós do financiamento, enquanto países investem 2% do orçamento anual em conservação

Reportagens
25 de outubro de 2024

Segundo turno em João Pessoa traz disputa entre candidatos de direita

Atual prefeito Cícero Lucena (PP) é favorito contra o ex-ministro Queiroga (PL); ele promete terminar obra de parque paralisada por problemas ambientais, e bolsonarista quer afrouxar legislação urbanística

Notícias
25 de outubro de 2024

Degradação florestal na Amazônia em 2024 é a maior dos últimos 15 anos

De acordo com números do SAD-Imazon, a degradação no bioma atingiu 26 mil km², o equivalente ao estado de Alagoas. Queimadas são responsáveis, diz instituto

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.