As baleias jubartes realizam todo ano uma longa rota de migração entre o litoral do nordeste do Brasil e a Antártica. Nesse caminho, normalmente entre os meses de junho e julho, cruzam as águas do Rio de Janeiro. É nesse corredor migratório que pesquisadores do projeto Ilhas do Rio têm monitorado, desde o ano passado, o trânsito desses gigantes em alto-mar. Somente neste ano, as expedições do projeto avistaram 58 indivíduos nessa rota carioca de migração. Apesar disso, os pesquisadores alertam para outra presença nada ilustre no corredor: lixo marinho.
“Algo que nos impressionou foi a quantidade de resíduos, o que também vem sendo estudado pelo projeto para entender como esses animais interagem com o lixo marinho”, explica Liliane Lodi, pesquisadora do Projeto Ilhas do Rio, especialista em cetáceos.
Ainda de acordo com Liliane, o corredor migratório ainda é pouco estudado no litoral do Rio. Ao todo, o projeto realizou cinco saídas de campo, nas quais foram observados 28 grupos que totalizaram 58 baleias-jubartes (Megaptera novaeangliae). Os animais por vezes passavam solitários, outras vezes em grupos de até sete indivíduos. Num destes bandos maiores, os pesquisadores registraram a interação pacífica com 30 golfinhos-fliper (Tursiops truncatus).
A partir de fotos, foi possível identificar individualmente 18 indivíduos – já que cada jubarte possui suas próprias marcas na nadadeira, uma espécie de impressão digital única em cada animal. Dessa forma, os pesquisadores podem traçar o histórico de vida desses animais e monitorar sua presença anualmente no corredor.
Além disso, as saídas de monitoramento renderam um registro inédito: uma jubarte acompanhada de um filhote fêmea recém-nascido no Monumento Natural das Ilhas Cagarras, arquipélago que é ponto de abrigo e descanso para as baleias em sua rota anual pelo Oceano Atlântico. A jubarte “carioca da gema”, como brincam os pesquisadores, foi batizada de Heloísa, em homenagem à Garota de Ipanema, imortalizada nas letras da música de Vinícius de Moraes. De acordo com a especialista em baleias, a presença do filhote é um indicativo de que as ilhas do Rio de Janeiro podem se tornar uma área de reprodução para a espécie, assim como o arquipélago de Abrolhos, no Bahia.
O projeto, conduzido pelo Instituto Mar Adentro, conta com curadoria técnica do WWF-Brasil e patrocínio da Associação IEP e JPG.
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