Que agradável surpresa. Quando todos achavam que nada poderia fazer frente ao pacote de medidas ambientais anunciado pelo governo do Paraná para comemorar a Semana do Meio Ambiente, uma ação sem precedentes aconteceu nesta quinta-feira, 2 de junho. Foi deflagrada a maior operação de combate à corrupção e ao desmatamento ilegal já realizada na Amazônia. É claro que a notícia foi recebida com festa pela maioria dos ambientalistas, mas com ressalvas.
“Esta é, sem dúvida, a melhor notícia da Semana do Meio Ambiente”, atesta o pesquisador Adalberto Veríssimo, do Imazon, que realiza estudos na Amazônia há 17 anos. “Eu não tenho lembrança de algo que tivesse chegado perto na região”, completa. Paulo Adário, coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace, exultava, em Manaus, com os resultados da operação desencadeada pelo governo contra seus funcionários corruptos. “Ela é tudo o que a gente vem defendendo como meio de impedir o desmatamento ilegal na região. O que a Amazônia precisa para endireitar é mais, muito mais presença do governo”, disse.
O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) concorda. “Lógico que essa ação foi importante, mas de nada vai adiantar se, depois dessa onda de prisões, não forem implantados instrumentos que evitem ainda mais corrupção”. Além disso, não perde a chance de dar uma alfinetada no governo: “Não é interessante ver a Curupira deflagrada logo depois que explode o índice de desmatamento?”.
A repercussão da mega-operação está apenas começando, e deve gerar desdobramentos. O deputado José Sarney Filho (PV-MA), relator da CPI do Tráfico de Animais e Plantas Silvestres, afirmou que a ação deve subsidiar novas investigações da Comissão. “Vamos requisitar e analisar esses inquéritos na CPI, e convocar os envolvidos. Pode ser que o caso tenha outras dimensões, como ligações com o tráfico de animais e a biopirataria”, suspeita. O depoimento dos 87 presos no primeiro dia da operação deve ajudar a ampliar as investigações.
Quem não apareceu em público justamente nesta quinta-feira foi o governador do Mato Grosso. Blairo Maggi, sojicultor e desmatador de marca maior, tratou de ficar sumido do mapa enquanto os policiais federais faziam uma devassa no seu estado, prendendo inclusive seu secretário de Meio Ambiente. Assessores disseram que ele estava viajando, mas voltou às pressas para Mato Grosso e, à noite, convocou uma reunião para discutir a nova crise.
“O governador Blairo Maggi tem que dar explicações”, exige Gabeira. “Ele é apontado como principal responsável pelo desmatamento na Amazônia, a ministra Marina Silva afirma que o Mato Grosso é o estado que mais recebeu dinheiro para combatê-lo e agora o presidente da Fema, equivalente à Secretaria de Meio Ambiente do Estado, está preso”. Gabeira afirmou que vai criar uma comissão para ir ao Mato Grosso colocar Maggi contra a parede. “Ele vai ter que se explicar”, diz.
Leia também
Entrando no Clima#41 – COP29: O jogo só acaba quando termina
A 29ª Conferência do Clima chegou ao seu último dia, sem vislumbres de que ela vai, de fato, acabar. →
Supremo garante a proteção de manguezais no país todo
Decisão do STF proíbe criação de camarão em manguezais, ecossistemas de rica biodiversidade, berçários de variadas espécies e que estocam grandes quantidades de carbono →
A Floresta vista da favela
Turismo de base comunitária nas favelas do Guararapes e Cerro-Corá, no Rio de Janeiro, mostra a relação direta dos moradores com a Floresta da Tijuca →