Notícias

Congresso altera de limites de parque em SC para obras contra cheias no Vale do Itajaí

PARNA Serra do Itajaí perde 2 hectares para construção de barragem, mas ganha outros 156 hectares como compensação; o projeto, aprovado por consenso na Câmara, segue para sanção

Gabriel Tussini ·
5 de dezembro de 2024

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (4), o substitutivo do Senado ao projeto de lei 292/2020, que altera os limites do Parque Nacional da Serra do Itajaí, em Santa Catarina, para a construção de uma barragem de contenção de cheias no rio Itajaí-Mirim. A área a ser alagada, calculada pelo ICMBio como de 2,02 hectares entre os municípios de Botuverá e Presidente Nereu, será retirada dos limites da unidade. Como compensação, serão adicionados ao parque 156 hectares de terras públicas, num ganho total de 154 hectares.

O texto original, proposto pelo Poder Executivo no governo Bolsonaro, justifica que o projeto partiu da Secretaria de Estado de Defesa Civil de Santa Catarina para a prevenção de enchentes no Vale do Itajaí. No texto do substitutivo do Senado – elaborado por Jorge Seif (PL-SC) e aprovado em julho na Comissão de Meio Ambiente da casa – foi incluído um novo memorial descritivo para a unidade, assinado pelo atual presidente do ICMBio, Mauro Pires, e feito em conjunto com a equipe gestora do parque nacional. 

O substitutivo do Senado, porém, prevê um ganho de área menor ao parque do que o previsto inicialmente – o texto original, enviado pelo governo federal em 2020, previa uma área adicional de 317,6 hectares ao parque, mas o texto de Jorge Seif, feito em acordo com o ICMBio, descreve uma área total de 57.328 hectares, 154 hectares a mais do que o previsto no decreto de criação do parque, de 2004. Nas justificativas, Seif se limita a dizer que a área de compensação “é muito superior à área destinada às barragens”. O relator na Câmara, Carlos Chiodini (MDB-SC), recomendou a aprovação sem novas alterações.

Antes da votação, que aprovou o projeto de forma simbólica, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) defendeu a importância da desafetação e construção da barragem. “A exposição de motivos lembra que é fundamental a contenção das cheias recorrentes do rio Itajaí-Mirim, a montante da cidade de Botuverá. Isso implica numa intervenção humana na natureza, só que no sentido de equilibrar as condições de vida, e de todas as vidas, não só humanas, daquela região”, avaliou o deputado.

“As intervenções que, aparentemente, numa olhada superficial, poderiam merecer algum reparo, afinal, vai se alterar os limites de um parque, vai se fazer uma construção. Mas elas visam o interesse público, a proteção do próprio meio ambiente e a proteção de vidas na região”, completou Alencar, afirmando que “fizemos uma consulta ao ICMBio, que confirmou que a decisão foi muito bem acordada”.

Lídice da Mata (PSB-BA), fazendo o encaminhamento de bancada governista, também destacou a concordância do ICMBio com o projeto. “Essa é uma matéria importante para prevenir enchentes. Foi um projeto encaminhado pelo outro governo, já passou pelo Senado, recebeu mudanças técnicas, aperfeiçoamentos. O atual governo considera que ele está de acordo tecnicamente com esse projeto. O ICMBio encaminha favoravelmente, e o governo, portanto, aplaude e encaminha favoravelmente”, disse a vice-líder do governo Lula na Câmara. O projeto agora segue para sanção presidencial.

Segundo o projeto, a zona de amortecimento do parque “será definida no seu plano de manejo e aprovada por ato da entidade gestora da unidade de conservação”, o ICMBio. “Enquanto não houver definição sobre o limite da zona de amortecimento no plano de manejo, será considerado como tal o limite de quinhentos metros em projeção horizontal, a partir do perímetro da unidade”. A distância de 500m, porém, já é o adotado no plano de manejo da unidade de conservação (página 356).

Assim como já constava no decreto de criação, há a retirada de uma área de 273 hectares dos limites do parque. Nesse local funciona uma área militar, a Área de Instrução do Batalhão (AIB) – uma zona de treinamento – administrada pelo 23º Batalhão de Infantaria do Exército.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

Leia também

Reportagens
7 de julho de 2022

Políticos de SC se unem para reduzir proteção do Parque Nacional da Serra do Itajaí

Projeto de lei para mudar categoria do parque já tramita na Câmara dos Deputados. Unidade protege 57 mil hectares de Mata Atlântica em nove cidades catarinenses

Notícias
8 de maio de 2014

A biodiversidade do Parque Nacional da Serra do Itajaí

Lagarto, cobra, aranha, borboleta. Veja fotos que mostram a incrível biodiversdade de um dos mais importantes Parques Nacionais da região Sul do Brasil.

Reportagens
1 de setembro de 2004

Boa vizinhança

Novo Parque Nacional protege as águas e o verde quase intacto da Serra do Itajaí, em Santa Catarina, beneficiando 500 mil habitantes dos municípios do entorno.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.