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Como a pecuária brasileira pode ser imune às pressões comerciais

A fragilidade no controle da cadeia da carne representa uma vulnerabilidade ambiental e comercial para o país. Ela precisa ser enfrentada com transparência

23 de julho de 2025
  • Paulo Barreto

    Sonha com um mundo sustentável e trabalha para que este desejo se torne realidade na Amazônia. É pesquisador Sênior do Imazon.

O Brasil vive um momento crítico em sua relação comercial com os Estados Unidos. A recente investigação aberta pela administração do presidente americano Donald Trump, alegando práticas comerciais injustas e riscos relacionados ao desmatamento ilegal na Amazônia, colocou o país novamente ao centro das atenções internacionais. Neste cenário delicado, é importante que o país apresente soluções concretas aos desafios que são nossos e que podem ser resolvidos com tecnologia disponível.

Em 2024, o Radar Verde analisou, com base em dados públicos e verificáveis, a transparência e o controle de fornecedores nas cadeias de carne bovina na Amazônia, especificamente em plantas frigoríficas habilitadas para exportar aos EUA. Os resultados são claros: as empresas precisam melhorar. Cerca de 90% das plantas frigoríficas avaliadas têm eficácia baixa ou muito baixa em relação ao controle do desmatamento em suas cadeias produtivas, especialmente entre os fornecedores indiretos.

O estudo O quanto os frigoríficos habilitados a exportar para os Estados Unidos comprovam o controle dos seus fornecedores de gado para evitar o desmatamento na Amazônia também revelou que nenhuma das plantas frigoríficas analisadas publicou dados auditados sobre o controle dos fornecedores indiretos, o que representa uma falha significativa no cumprimento das exigências do projeto de lei conhecido como Lei Florestal Norte-Americana (Forest Act). As plantas frigoríficas avaliadas estão expostas a riscos significativos de desmatamento que abrangem cerca de 6,6 milhões de hectares de floresta, área equivalente a cerca de três vezes o estado de Nova Jersey, nos EUA, ou pouco mais de três vezes o estado de Sergipe, no Brasil.

Cerca de 90% das plantas frigoríficas avaliadas têm eficácia baixa ou muito baixa em relação ao controle do desmatamento em suas cadeias produtivas, especialmente entre os fornecedores indiretos.

Essa fragilidade no controle representa uma vulnerabilidade ambiental e comercial, e precisa ser enfrentada com soluções brasileiras. Não se trata de aceitar passivamente críticas externas, muito menos submissão às pressões internacionais. Pelo contrário, enfrentar o desafio com transparência é o melhor caminho para afirmar a soberania brasileira. O Radar Verde é exatamente isso: uma iniciativa nacional, independente, que fornece dados públicos e auditáveis para aprimorar as políticas empresariais e fortalecer a reputação do setor produtivo brasileiro.

As empresas que assumem a transparência como valor central não apenas reduzem os riscos ambientais, como também conquistam diferenciação em mercados internacionais exigentes. Transparência, portanto, não é um custo ou uma concessão a interesses estrangeiros, mas um investimento estratégico que protege e amplia o acesso do Brasil a mercados valiosos.

Neste contexto, o Brasil tem a oportunidade de demonstrar liderança. Nossa resposta mais contundente não está na retórica defensiva ou no confronto direto, mas na demonstração de que somos capazes de resolver nossos problemas internamente, com ferramentas brasileiras. A transparência é a arma estratégica que protege nossa soberania, abre caminho para um futuro em que o agronegócio brasileiro consolida seu protagonismo sustentável com base em soluções próprias.

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