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Para ver e ouvir

Há apenas um mês no mercado, a obra ilustrada mais completa sobre aves brasileiras pode acabar em poucos dias. Quem comprou, tem em casa uma preciosidade.

Andreia Fanzeres ·
22 de março de 2006 · 18 anos atrás

Aos 17 anos, o paulista Tomas Sigrist quis comprar um livro sobre aves brasileiras. Procurava algo que, além de informações técnicas sobre os animais, tivesse sobretudo as imagens de todos eles. Não encontrou. Por mais de 20 anos, o desenhista de pássaros das horas vagas aguardou que esse tipo de publicação fosse lançada. E nada. O tempo passou, Tomas se profissionalizou e, há seis anos, cansou de esperar. Resolveu ele mesmo preparar a obra ilustrada mais completa sobre aves brasileiras. “Aves do Brasil: uma visão artística” foi lançada no mês passado.

Editado pela AvisBrasilis com apoio da Fosfertil e do Ministério da Cultura, o livro tinha a modesta pretensão de ser uma obra de arte. Mas já nasce como a principal referência brasileira sobre aves, cujo conteúdo, minuciosamente desenhado por Sigrist, pode ajudar – e muito – trabalhos em conservação da natureza, a começar pela identificação correta das aves.

Foram mais de 10 mil páginas de anotações e rascunhos em duas décadas de andanças pelo país. Sigrist buscou sempre “modelos vivos” para inspirar seus desenhos, assim podia registrar melhor seus hábitos e habitat. Quando não era possível, teve de recorrer a museus para pintar as aves empalhadas.

São 3 mil desenhos de todas as 1.870 espécies registradas no Brasil. As fotografias são elementos raros no calhamaço de 672 páginas. Mas são belíssimas. Através delas, Sigrist apresenta, na primeira parte do livro, os principais domínios naturais brasileiros. Optou por ambientar o leitor com a diversidade de paisagens (inclusive as alteradas pelo homem) para revelar as espécies de aves mais comuns e as mais peculiares de cada região.

Em seguida, o livro traz informações gerais sobre ornitologia, morfologia das aves, padrões de comportamento, alimentação, aspectos reprodutivos e detalhes como variedade de penas, bico, narinas, trajetória em vôo, tipos de canto, etc. Abordagens complexas para um marinheiro de primeira viagem no mundo das aves, mas está tudo ali para quem quiser aprender.

Junto com a caracterização das aves, o livro traz um CD com enxutíssima seleção de 59 sons de pássaros mais facilmente encontrados perto de áreas urbanas. “A idéia é educar o ouvido, mostrar como os sons podem ter modulagens diferentes em situação de acasalamento, em um canto territorial ou de alerta, por exemplo”, explica Sigrist.

No CD, o leitor curte a diversidade do repertório como o coro do uru-capoeira (01) (Odontophorus capueira) durante o crepúsculo, os gritos e chamados do anu-preto (07) (Crotophaga ani), o canto territorial do arapaçu-liso (20) (Dentrocincla turdina), a espontaneidade do famoso bentevi-verdadeiro (30) (Pitangus sulphuratus), o som marcante da araponga (45) (Procnias nudicollis) ou a longa seqüência de trinados do entufado-preto (28) (Merulaxis ater), que com a repetição de seu canto resolve o problema da reverberação do som em florestas repletas de obstáculos, como na Serra do Mar.

Desenhos detalhados

Mas a menina dos olhos desse “Aves do Brasil” é a terceira parte. São 130 páginas repletas de imagens das aves brasileiras, com seus devidos nomes vulgares, científicos e mapas de distribuição geográfica. Alguns casos são surpreendentes, como a ocorrência do guará-vermelho em dois restritos locais: um ponto mínimo do litoral paulista e outro no extremo norte do continente sul-americano. Ou ainda a distribuição do tuiuiú, ave que nos faz lembrar do Pantanal mas que é nativa de praticamente todo território nacional.

Algumas das espécies mereceram mais de um desenho, mostrando diferenças morfológicas entre machos e fêmeas ou adultos e filhotes, por exemplo. Detalhes sobre cada uma das aves ilustradas seguem no capítulo posterior, inclusive sobre o status de conservação de cada espécie.

Para fechar com chave de ouro, o livro dá dicas sobre a técnica e a prática da observação de aves. O autor sugere os melhores equipamentos, o que anotar, os cuidados que o observador deve ter em campo para fotografar, desenhar e estudar os bichos.

Sem dúvida, uma obra para a vida toda. Mas ainda restrita a poucos. Ornitólogos e observadores profissionais que sabiam do lançamento do livro apressaram-se para reservar seu exemplar, com preço promocional de R$ 195. Nesta primeira leva, foram colocadas à venda apenas 1.500 unidades. E, diante da procura, elas podem se esgotar nas próximas semanas. A compra deve ser feita pelo site da AvisBrasilis. Para quem não conseguir, só há uma alternativa: rezar pela segunda edição. 

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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