Salada Verde

Mistério de morte de peixes solucionado

Resultado parcial sobre morte de peixes no Pantanal aponta fenômeno natural. Porém impacto pode ter sido agravado por ação antrópica.

Redação ((o))eco ·
14 de fevereiro de 2011 · 14 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Mortandade foi registrada na Baía do Dourado (foto: Imasul)
Mortandade foi registrada na Baía do Dourado (foto: Imasul)
Campo Grande (MS) – Relatório preliminar do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), órgão responsável pela gestão ambiental do Estado, indica que a mortandade de peixes ocorrida no fim de janeiro na sub-bacia do Rio Negro, um dos principais tributários da Bacia do Alto Paraguai onde está localizado o Pantanal, pode ter sido ocasionada pelo fenômeno natural da decoada. Porém, as autoridades ainda aguardam laudo toxicológico para saber se havia defensivos químicos nas amostras de água, muito utilizados para limpeza de pastagens.

Estima-se que cerca de 870 a mil toneladas de peixes de várias espécies como pintado, cachara, piranha, armau, jurupoca, pacu, piau, piraputanga, mandi e barbado foram encontrados mortos boiando no dia 26 de janeiro no rio Negro.

A decoada é característica do ecossistema do Pantanal, quando ocorre consumo de oxigênio pela decomposição da matéria orgânica associado à menor taxa de dissolução deste gás no ambiente devido a uma maior temperatura, como resultado das variações do nível de água no complexo baía-rio. Normalmente ela acontece em meados de março na calha do rio Paraguai, mas há ocorrências em pequena escala em outras áreas.

A ocorrência ganhou destaque na mídia nacional e causou espanto a ambientalistas, pesquisadores e autoridades da área ambiental já que coincidiu com o período do defeso, época em que somente é permitida a pesca de subsistência pelos moradores ribeirinhos cadastrados pelo governo estadual.

O documento informa que a morte dos peixes não ocorreu na calha do rio Negro e sim na “Baía do Dourado” na fazenda Santa Sophia e na “Baía da fazenda Rio Negro” na fazenda homônima, que têm contato direto com as águas do rio Negro.

A área atingida (fonte: Google Earth/Imasul)
A área atingida (fonte: Google Earth/Imasul)

De acordo com o Diretor de Desenvolvimento do Imasul, Roberto Gonçalves, foram realizados os exames da demanda química e bioquímica de oxigênio (DQO e DBO) das amostras coletadas no dia 31 de janeiro. Em visita à campo entre os dias 01 a 03 de fevereiro, foram visitadas sete propriedades rurais na região. Em todas elas os proprietários, gerentes ou administradores foram contatados, informados e orientados sobre as ações do Imasul. Também foi solicitado que mantivessem contato com a Gerência de Recursos Pesqueiros e Fauna em caso de novas ocorrências de mortandade de peixes.

Técnicos do Imasul fazem coleta para análise da qualidade da água (foto: Imasul/divulgação)
Técnicos do Imasul fazem coleta para análise da qualidade da água (foto: Imasul/divulgação)

“A decoada ocorre geralmente devido à combinação de vários fatores, que vão desde a seca anterior, temperatura do ambiente, quantidade de matéria orgânica levada para a água, podendo ser agravada pelo mau uso do solo e das águas. Sendo assim, a planície pantaneira não está livre do fenômeno de forma geral”, revela Roberto.

“Nesse caso particular a água de qualidade ruim chegou em duas baías marginais ao rio Negro no momento que não estava chovendo no local, mas nas redondezas. As águas dessa chuva vieram lavando o campo, trazendo água que já estava acumulada, quente e com muita matéria orgânica em locais rasos da planície adjacente e desaguando dentro essas baías”, explica.

Na viagem dos dias 1 a 3 de fevereiro foram encontrados poucos peixes em estado de decomposição. “Observamos algumas espécies em bom estado e alevinos, que nasceram no final de 2010, que não foram afetados. O ambiente está se recuperando com a água que vai sendo diluída com a de melhor qualidade”, esclarece.

Roberto destaca ainda que a área atingida envolve 100 mil hectares de áreas protegidas, entre o Parque Estadual do Rio Negro e três RPPNs: “São unidades de conservação de proteção integral. Por outro lado, na região só é permitida o pesque e solte e a pesca de subsistência, dessa forma, os estoques pesqueiros tendem a ser mais significativos do que as áreas onde a pesca esportiva é liberada. Isso favorece uma recuperação mais rápida do ambiente”.

Sendo a causa natural ou antrópica, Roberto faz uma ressalva: “Verificamos uma série de eventos para as quais devem estar associadas às mudanças climáticas do planeta. Infelizmente isso já pode ser sentido no Pantanal.” (Fábio Pellegrini)

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