Notícias

Urbanização até 2030 prejudicará 200 espécies ameaçadas

Projeção de novo estudo diz que áreas urbanizadas crescerão quase três vezes, multiplicaram produção de carbono e reduzirão biodiversidade.

Vandré Fonseca ·
20 de setembro de 2012 · 13 anos atrás
Chongqing, na China, é uma das cidades que mais cresce no mundo. Foto: Harvey Barrison
Chongqing, na China, é uma das cidades que mais cresce no mundo. Foto: Harvey Barrison

Manaus, AM –  Até 2030, investimentos em infraestrutura, como estradas e pontes, devem acelerar a urbanização em todo o mundo, causando grandes impactos sobre a biodiversidade e aumento da emissão de gases de efeito estufa. O alerta está sendo feito por pesquisadores de três universidades americanas: Yale, Texas A&M e Boston. Eles publicaram esta semana um artigo com a projeção e os impactos do crescimento das cidades para as próximas duas décadas, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Segundo a projeção dos pesquisadores, existe uma grande possibilidade (mais de 75% de chances) de 1,2 milhões de quilômetros quadrados de área serem urbanizadas nos próximos 18 anos. Isso significa que as cidades podem crescer 185%, entre os anos 2000 e 2030.

Para a Mata Atlântica, um dos biomas do planeta mais afetados pelas cidades, a previsão é a urbanização crescer 160% nas primeiras três décadas do século.

Um dos resultados dessa expansão é um risco ainda maior para animais já ameaçados . A pesquisa levou em conta espécies encontradas nos sites da Aliança para a Extinção Zero, que indica áreas onde existem animais em perigo de serem extintos. Segundo o estudo, pelo menos 1 em 4 espécies encontrados nessas áreas podem ser afetadas pela urbanização, se medidas sustentáveis não forem adotadas.

No total, são 205 espécies sob risco: 139 anfíbios, 41 mamíferos e 25 pássaros, hoje, considerados Criticamente Ameaçados ou Ameaçados na Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). Só no continente americano, 134 espécies de animais ameaçados devem ser afetados pela urbanização.

Ainda segundo o estudo, a urbanização de novas áreas deve emitir o equivalente a 5% das emissões de carbono provocadas pelo desmatamento e mudanças no uso do solo. Atualmente, a derrubada e a degradação de florestas correspondem entre 6% e 17% das emissões de carbono antropogênicas.

A urbanização, de acordo com os pesquisadores, ainda é uma questão local, mas as análises que eles fizeram demonstram que ela causa impactos globais sobre a biodiversidade e emissão de carbono. “’Temos de reconsiderar a política de conservação e o que se considera uma cidade sustentável”, diz Burak Güneralp, um dos autores e professor assistente na Universidade Texas A&M. Ele acredita que prefeitos e administradores precisam considerar como a expansão urbana vai afetar outras espécies e o valor destas espécies para a atual e para as futuras gerações de seres humanos.

“O mundo experimentará uma expansão urbana pela construção de cidades sem precedentes nas próximas duas décadas”, afirma Karen Seto, da Universidade de Yale e autora principal do estudo. “As mudanças ambientais e sociais associadas a ela serão enormes, mas ainda temos oportunidades”, completa. Para os pesquisadores, é preciso adotar práticas sustentáveis, como redução de gastos de energia e capacidade de enfrentar situações imprevistas, no planejamento das cidades.


Saiba mais

Nome do estudo: Global forecasts of urban expansion to 2030 and direct impacts on biodiversity and carbon pools (algo como “Projeções globais de expansão urbana até 2030 e seus impactos diretos sobre a biodiversidade e carbono”). Autores: Karen C. Setoa,Burak Güneralpa e Lucy R. Hutyrac

Leia também

Reportagens
30 de abril de 2025

Situação da biodiversidade no RS após enchentes será conhecida em até 3 anos

Serão avaliadas áreas federais e estaduais. A manutenção da vegetação nativa conteve estragos em unidades de conservação

Análises
30 de abril de 2025

Entre a floresta e a violência: o custo de ser mulher e defensora ambiental

É essencial que as políticas de proteção incorporem uma abordagem interseccional e de gênero. Isso exige a criação de programas de proteção específicos para mulheres defensoras

Salada Verde
30 de abril de 2025

APA Baleia Franca sob ataque: sociedade protesta contra tentativa de redução

Abaixo-assinado sai em defesa da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, em Santa Catarina, alvo de projetos de lei que tentam reduzir e até mesmo extinguir a APA

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Comentários 1

  1. Pedro diz:

    Da antinomicidade e paradoxalidade que parecem erupcionar nas diversidades da ocupação humana aglomerada, uma delas entre milhares, há entre 2 cidades, Daka capitalzona de Bangladesh e Prostêjov no interior da República Tcheca. Um visitante ainda que fugaz, turbinado por um sentimento que não é seu, mas que lhe foi dado de um mundo superior, vai ter os ponteiros intelectuais de seu cérebro levados ao VDO. É que aquela do delta do Ganges está num planeta, a europeia noutro, ambos como que distantes, desconhecidos e inimagináveis, antinômicos e paradoxais para a lógica do amor sem fronteiras. O alento humilde e escatológico da transitoriedade humana é que vai serenar o coração magnânimo daquele visitante…:)