A mídia impressa americana deu sinais de fraqueza em 2008. Os problemas financeiros do New York Times, a concordata do grupo que controla o Chicago Tribune e o anúncio do fim da edição impressa do Christian Science Monitor são eventos marcantes deste fim de ano. A debilidade dos negócios nos EUA ajudou, mas, o que começamos a assistir, é o fim da mídia de papel. Com sinal trocado, no Brasil, a boa performance econômica e a ainda baixa penetração da internet fez a circulação de jornais impressos crescer. Mas em uma questão de anos devemos chegar ao mesmo ponto.
É natural que o fenômeno comece pelos jornais. Hoje, aquela maçaroca de papel, além de sujar a mão de tinta e ser desajeitado de ler, só trás notícias velhas. Chega depois da TV, do rádio e, na mídia escrita, da internet. Com freqüência, abro a porta de manhã e, ao ver as manchetes estendidas no chão, penso que entregaram o jornal de ontem. Se o jornal local fosse o New York Times ou o Washington Post já poderia desistir da assinatura. Todo o conteúdo dos mesmos já se encontra online e aberto ao público em geral. Como leio O Globo, ainda preciso pagar para ter acesso às matérias completas e colunas que não são de acesso livre. O New York Times também costumava cobrar pelo acesso integral. Mas percebeu que a edição impressa estava estagnada e abrir o conteúdo multiplicaria os leitores e a receita de publicidade online. Numa difícil decisão, preferiu canibalizar o produto velho e se atirar em direção ao novo. A opção ainda mais radical do Christian Science Monitor, um jornal de porte médio, foi passar a ter uma edição impressa semanal e todo o resto online. Parece um formato inteligente, já que as notícias diárias são descartáveis. As matérias especiais, que demandam tempo e calma para saborear a leitura, ficam muito mais interessantes no formato de revista, com qualidade de impressão superior e formato fácil de manusear.
Mas as revistas também começam a ser atingidas. A tradicional revista de informática PC Magazine terá sua última edição impressa em janeiro de 2009. A partir daí, será inteiramente digital e distribuída por e-mail. Os editores ressaltam vantagens da nova forma, como ser portátil, interativa, atualizada continuamente, parecida visualmente com a edição impressa e, como se tudo isso não bastasse, verde. Quer dizer, não vai gastar mais papel para ser impressa, combustível (e fumaça) para ser distribuída e poupará trabalho humano de entrega, mecânico e desinteressante. Bem, os saudosistas ainda podem imprimir em casa.
Vocês já imaginaram quantas árvores seriam poupadas se nós parássemos de imprimir jornais e revistas? Quanta área, hoje plantada com eucalipto, poderia ser reconvertida a florestas de árvores nativas? O mundo consome cerca de 300 milhões de toneladas de papel por ano. A imprensa usa 13% (39 milhões de toneladas) e a categoria material para escrever e impressão outros 30%. Ou seja, em um mundo onde a informação fosse toda eletrônica seria possível economizar 43% do consumo de papel. Como uma tonelada de papel para impressão custa no mínimo 12 árvores, sem mídia impressa seria possível poupar pelo menos 468 milhões de árvores por ano (39 milhões x 12). É um bocado de árvore. Olhando esses números, a expressão dead tree media (mídia de árvore morta) ganha outro peso.
A boa notícia é a queda de 6% do consumo per capita de papel nos países ricos, entre 2000 e 2005. Mas a maior força do atraso diz respeito a uma característica das pessoas: a escravidão ao hábito. Aprendi muito escrevendo para O Eco que, coerente com o seu conteúdo, já nasceu devidamente online. Há quatro anos, quando comecei a escrever essa coluna, me impressionou ver o trabalho dos jovens jornalistas contratados. Eles não imprimiam nada, algo impossível para mim. Passado esse tempo, me gabo por imprimir pouco. Com o Snagit, guardo recibos de pagamentos online no PC e os encontro facilmente no disco rígido usando o Google desktop. Anoto documentos em formato PDF com o Acrobat, leio jornais online e praticamente não imprimo fotografias. Aos poucos, estou conseguindo aposentar a minha impressora e as da imprensa também.
Aliás, é cada vez mais comum ver usuários de computador que não têm impressora. Para não correr o risco de perder tudo numa pane, uso o Mozy, um serviço de backup online que é uma barganha, custa dez reais por mês, funciona automaticamente e não tem limite de armazenamento.
Assim, aproveito para desejar um Ano Novo com muita qualidade de vida. E sem papel.
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