Todos os verões o arquipélago português dos Açores é invadido por uma horda de espécies exóticas. São turistas do continente europeu: alemães, ingleses, suecos, franceses, espanhóis e até mesmo lusitanos. Vêm em busca das belíssimas paisagens naturais e pastoris dessas nove ilhas vulcânicas. Uma das principais atividades dos visitantes é trilhar algumas das picadas açoreanas. Bem sinalizadas e mantidas, essas picadas levam o pitoresco nome de “pequenas rotas” e percorrem os traçados de antigos caminhos rurais usados para o transporte terrestre nas ilhas até muito recentemente.
Com efeito, a maioria dessas trilhas, como a da Lagoa do Fogo na Ilha de São Miguel e as do Monte Brasil e da Serreta, na Ilha Terceira, são belíssimas e não deixam nada a dever a nenhuma caminhada na Mata Atlântica ou na Floresta Amazônica. O único problema é que a especificidade desses passeios está ameaçada por outro tipo de espécies exóticas invasoras: as vegetais. Como parte da Macaronésia, os Açores hospedam a floresta laurissilva, uma das mais antigas e mais ameaçadas do mundo. Até a última glaciação, ocupava toda a parte sul da Europa. Hoje apenas subsiste nos Açores , na Madeira e nas Canárias. Mesmo nesses ambientes insulares encontra-se ameaçada.
No caso dos Açores, segundo o pesquisador Eduardo Dias, cerca de metade das 300 espécies nativas do arquipélago, incluindo 80 endêmicas, estão ameaçadas pela expansão descontrolada de 700 espécies exóticas invasoras e pelos pastos cada vez mais abundantes na região que chega a prover o Portugal continental com mais de um terço de suas necessidades de leite e carne. Segundo Eduardo Dias, entre as conseqüencias estão a diminuição da capacidade do solo em reter água, aumento de pragas, perda de biodiversidade e “redução do interesse dos eco-turistas que vêem aos Açores em busca da laurisslva e acabam por caminhar entre pastos e hortências”. O blogueiro esteve na Terceira este fim-de-semana e constatou que o botânico tem razão, há exóticas por todo o lado. Ainda assim, por mais que concorde com o apelo urgente de Eduardo Dias para que o Governo “introduza na agenda política, de uma forma visível e forte, a proteção da biodiversidade” e tenha consciência do pecado que estou escrevendo, gostei. É que as paisagens são efetivamente espetaculares!
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