Manaus, AM — Quem achava chato o barulho dos periquitos-de-asa-branca (Brotogeres versicolurus) em Manaus não poderia imaginar que eles se tornariam ainda mais escandalosos depois de mortos. A morte de aproximadamente 200 aves na Avenida Efigênio Sales, na quinta-feira (27 de novembro), em frente a um condomínio de luxo, fez surgir uma onda de protestos nas redes sociais exigindo uma investigação e medidas para proteger as aves. Esta mobilização resultou em um ato realizado no domingo, que reuniu mais de cem pessoas no local onde os periquitos foram encontrados mortos.
Ainda não se sabe o que causou a morte das aves. A suspeita dos manifestantes é que eles tenham sido envenenados. No dia em que foram encontrados mortos, 40 periquitos foram recolhidos pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para análises. Nesta segunda-feira, um periquito foi submetido a necropsia. Amostras serão enviadas para análise na Universidade Federal de Minas Gerais. Até a Delegacia do Meio Ambiente iniciou investigação.
O biólogo Mário Cohn-Haft, curador da Coleção de Aves do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explica que os periquitos-de-asa-branca são característicos da várzea, mas que se adaptaram bem à vida na cidade de Manaus. Durante o dia, encontram alimentos em abundância nas mangueiras e outras árvores frutíferas. À noite buscam proteção em árvores altas e isoladas, como as palmeiras imperiais que enfeitam a entrada do condomínio Efigênio Sales.
“A abundância especialmente alta na área dos condomínios do V-8 (Avenida Efigênio Sales) se deve às condições seguras para dormir oferecidas pelas palmeiras imperiais”, explica Cohn-Haft. “Não estão necessariamente comendo naquela região, mas aparecem para se empoleirar e passar a noite”.
Embora, a revoada de periquitos represente um espetáculo para boa parte da população de Manaus, para o condomínio de luxo se tornou um problema, principalmente devido ao barulho. Os periquitos não se calam durante a noite. Quando eles chegaram há três anos, o condomínio conseguiu autorização do Ibama e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente para proteger as palmeiras com telas. Não resolveu, periquitos continuaram a buscar abrigo nas árvores próximas.
No domingo, os manifestantes conseguiram que o Corpo de Bombeiros retirasse e libertasse periquitos que haviam ficado presos nas telas. Partes da tela também foram retiradas para análise. Os manifestantes querem saber se não existe alguma substância nelas que poderia ter causado a morte dos periquitos-de-asa-branca. O síndico do condomínio esteve nesta segunda-feira no Ipaam, para prestar esclarecimentos e também para discutir uma forma de manejar e ao mesmo tempo assegurar a integridade dos periquitos.
O certo é que mesmo após o possível atentado, os periquitos-de-asa-branca não se calaram. Eles continuam a fazer barulho em vários pontos da cidade de Manaus, principalmente na Avenida Efigênio Sales. E agora, eles não estão gritando sozinhos.
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