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Há algo de podre, e não é no reino da Dinamarca

Enquanto a Dinamarca avança na produção de orgânicos, Brasil segue alcançando recordes de consumo de todo tipo de veneno agrícola.

13 de agosto de 2015 · 9 anos atrás
  • Guilherme Purvin

    Pós-doutorando junto ao Depto. de Geografia da FFLCH/USP, graduado em Direito e Letras pela USP. Doutor em Direito (USP). Membro da Academia Latino Americana de Direito Ambiental. Escritor.

Foto: Arthur Tahara
Foto: Arthur Tahara

Definitivamente, se há algo de podre hoje, certamente não está no Reino da Dinamarca. Enquanto no Brasil a venda de agrotóxicos saltou de dois bilhões de dólares em 2001 para mais de oito bilhões e meio em 2011, levando nosso país desde 2009 a receber o título de maior consumidor mundial dessas substâncias comprovadamente cancerígenas, a Dinamarca anuncia que irá dobrar, até 2020, a área destinada à agricultura orgânica (em relação à área reservada em 2007). Os contrastes são evidentes.

No Brasil, o Ministério da Agricultura, totalmente desvinculado de qualquer preocupação com a saúde pública e a ecologia, afirma que os agrotóxicos são extremamente relevantes para o desenvolvimento do país.

Na Dinamarca, o Ministério da Alimentação, Agricultura e Pesca (Ministeriet for Fødevarer, Landbrug og Fiskeri) anunciou que, em 2015, a receita obtida com a venda de alimentos orgânicos alcançou a marca de 8% do total de vendas – ou seja, o mais elevado índice de vendas de produtos orgânicos em todo o mundo. Esse número não surgiu por acaso. De 2007 até hoje, o índice elevou-se em 228% e continua a crescer. Em igual período, o volume das exportações de alimentos orgânicos aumentou em quase quatro vezes. E essa tendência parece continuar. Tal crescimento na exportação acaba oferecendo maior segurança no mercado para que se prossiga nos investimentos ecológicos.

Já em nosso país, refém do agronegócio que patrocina a manutenção do governo PT no plano federal, o que tivemos, sob os auspícios de José Genoíno, foi a revogação da Lei 8.974/95 e da Lei 4.771/65 e a abertura do território para um indiscriminado plantio de transgênicos o que, na prática, significa total dependência dos laboratórios fabricantes e detentores das patentes genéticas. Há um ano, os jornais anunciavam que pelo quinto ano consecutivo o Brasil ficava em segundo lugar no planeta (perdendo apenas para os EUA) em área de cultivo de transgênicos, alcançando 23% do total mundial.

As áreas destinadas à expansão da agricultura orgânica na Dinamarca são, essencialmente, terras públicas. Neste ano o governo dinamarquês destinará 34 milhões de coroas para o fortalecimento da exportação ecológica até 2018. Esse dinheiro irá para a promoção de negócios, participações em cadeias de varejo e de food service e para marcas ecológicas dinamarquesas. Enquanto isso, no Brasil de Dilma Roussef, Kátia Abreu e Izabella Teixeira, somente entre 2012 e 2013, a área com uso de transgênicos aumentou em 3,7 milhões de hectares, mais do que o triplo da média mundial de aumento.

Dependente das importações de uma China em crise, o país se vê agora numa sinuca de bico, tendo nos bastidores o trágico aumento da incidência de câncer junto aos trabalhadores rurais.

 

 

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Comentários 2

  1. Maria Lúcia Gouveia diz:

    As graves doenças pelo uso inadequado de agrotóxicos devem ter também impacto da saúde dos consumidores. No Brasil as providências no que diz respeito à saúde são tomadas com décadas de atraso. Até pouco tempo ainda usavam na lavoura o famigerado BHC, banido há décadas em países desenvolvidos. A saúde do agricultor, do consumidor e da população como um todo, não é prioridade nesse governo. Lamentável!


    1. ... diz:

      Concordo, infelizmente não importa, justamente porque o capital é o que realmente importa para eles. As mesmas empresas que fabricam os fertilizantes agrícolas, são as mesmas que produzem remédio, a BASF por exemplo.
      Os lóbis ganham milhões para fazer o que fazem. Se criarmos leis para banir o uso de agrotóxicos as indústrias ficariam no prejuízo sendo isso algo quase impossível de acontecer .