Manaus, AM — Os passarinhos machos com malária cantam menos e dançam menos. E isto é ruim para eles, porque as fêmeas estão observando, comparando, escolhendo o par para o acasalamento. Para pesquisadores que estudaram a malária no uirapuru-de-coroa-azul (Lepidothrix coronata), esses sintomas da doença podem mostrar às fêmeas o quanto o pretendente é saudável e ajudar na decisão.
O artigo que apresenta o estudo está na publicação científica Journal of Avian Biology de janeiro e fez parte do mestrado da bióloga Mariane Bosholn, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ela observou uma população do uirapuru-de-coroa-azul no município de Careiro Castanho (AM), 100 quilômetros ao sul de Manaus. Depois de localizar os grupos, fez a captura com redes de neblina. Depois de exames, os passarinhos eram libertados com anilhas coloridas.
A prevalência da malária entre os passarinhos é de 47%, segundo os dados. A infecção dura, geralmente, de sete a quinze dias, mas há indivíduos que nunca se curam, segundo a bióloga. “Eles podem apresentar fraqueza, perde de apetite e de peso e, quando a infecção é muito grave, podem até não voar”, afirma a pesquisadora do Inpa. A malária nas aves é provocada por uma espécie diferente do plasmódio que infecta seres humanos. Mas os mosquitos que transmitem a malária às aves ainda são desconhecidos.
Normal
A malária em aves não é uma novidade. A doença está associada, por exemplo, a extinção de espécies no arquipélago do Havaí. No caso dos L.coronata amazônicos, normalmente eles resistem, embora fiquem abatidos. “(A malária) tem efeitos negativos em diferentes espécies de aves, podendo até matar”, , afirma Mariane Bosholn. “Entretanto alguns indivíduos se tornam resistentes e por isso conseguem sobreviver”, completa.
O uirapuru-de-coroa-azul é uma espécie abundante na floresta amazônica, encontrada no sub-bosque, voando em altitudes de dois a quatro metros. A fêmea é verde, mas o macho é preto com um topete azul, de onde vem o nome da espécie. Para se exibirem e tentar conquistar as fêmeas, os machos formam leques, que podem ser solitário ou compostos por até sete indivíduos. Os estudos da bióloga continuam. Durante o doutorado, Mariane Bosholn vai avaliar mais efeitos da malária sobre o comportamento do passarinho. Entre as informações que ela busca está como as mudanças hormonais afetam a infecção por malária nos indivíduos.
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