A flor de lótus é conhecida por sua beleza, mas também por ser capaz de brotar da lama. Algumas raras pessoas nos lembram esse fenômeno, como foi o caso dos três ministros Antônio Herman Benjamin, Rosa Weber e Luiz Fux, nos quatro dias de julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE. Lama não faltou e não tem faltado ali e, infelizmente, por muitos cantos de nossa nação. Todavia, em meio a desfaçatez, sarcasmos e discursos que deixaram nossos estômagos revirados, eis que brotam gotas de esperança nas posturas desses defensores de uma transparência tão almejada. Capitaneados pela exemplar conduta de lisura e elegância do relator do caso pela cassação da chapa, trazem um Brasil que inspira orgulho e merece aplausos e gratidão!
O foco aqui é o ministro Antônio Herman Benjamin, referência e conhecido há muitos anos por defender a questão ambiental com excelência, agora com destaque na mídia e nas redes sociais de todo o país. A excelência sempre pautou seu trabalho na defesa do meio ambiente e dos direitos do consumidor. Seu pioneirismo nas áreas em que atua pode ser constatado neste trecho de uma entrevista sua datado de 2006 para a revista Ambiente Legal, onde explica a defasagem que nosso país enfrenta neste campo: “O Direito Ambiental da Biodiversidade nasceu e tem grande força no Hemisfério Norte e não, como seria natural, em países como o Brasil, denominados de megabiodiversos, onde sequer essa disciplina tem a importância que merece. É uma contradição lamentável, pois a matéria ambiental não pode mais ser encarada como algo de pouca relevância ou que interessa tão-somente a advogados ou operadores do direito. Essa disciplina jurídica interessa, sim, a todas as profissões e carreiras, pois hoje não se pode admitir que economistas, biólogos, administradores, entre outros recém-formados e também seus colegas mais experientes não detenham esse tipo de conhecimento”.
Do Catolé do Rocha para o mundo
Se o direito ambiental nasceu no Norte e veio parar no Sul com anos de atraso, o caminho do ministro parece ter sido inverso. Nascido em Catolé do Rocha, Paraíba, Antônio Herman Benjamin não se limitou a territórios específicos e sempre foi avançado no tempo. Sua atuação é vasta no Brasil e no mundo, e hoje tem renome internacional no campo do direito ambiental. Preside há anos a Comissão de Legislação Ambiental da União Internacional da Conservação da Natureza (International Union for the Conservation of Nature – IUCN), instituição referência para organizações da sociedade civil, governos e até setor privado mundo afora. Nesse fórum, defende a integração das demais comissões de diferentes saberes, a inclusão de interesses geracionais, o fortalecimento de estruturas institucionais, o desenvolvimento educacional e econômico dentro de parâmetros legais com bases científicas para as orientações que devem ser seguidas, bioma a bioma, numa visão planetária.
No Brasil, suas contribuições são inúmeras. Muitos anos de sua carreira foram dedicados à defesa do consumidor, durante os quais fundou o Centro de Apoio Operacional do Consumidor. Com o tempo, incluiu a natureza em seu rol de defesas, acabando por dirigir o Centro Operacional do Meio Ambiente. Seu currículo vai da ONU, PNUMA, ao CONAMA e outros órgãos nacionais e multilaterais, sempre ligados à Justiça Ambiental. Professor há mais de 30 anos, ministra aulas no Brasil e no mundo sobre temas afins aos seus interesses maiores, mantendo a natureza como pano de frente. Responsável por contribuir com grande número de leis que defendem a natureza, publicou mais de 30 livros e artigos, espalhando sua sapiência no Brasil e no exterior. Recebeu inúmeros prêmios, dos quais se destaca o Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França (Chavalier de l’Ordre National de la Légion d’Honneur de France).
A qualidade de sua atuação profissional é, portanto, indiscutível, sempre pautada por uma qualidade invulgar. Herman impõe respeito e dignidade num país que tem tudo para refletir as belezas que esbanja na natureza e na sociedade. Resta saber se podemos aprender as lições por ele deixadas do que vale a pena. Nesses últimos dias de julgamento da chapa Dilma-Temer, assistimos disparates absurdos, mas também vimos surgir belos exemplares de lótus, desses três ministros merecedores de nossa mais profunda apreciação: Antonio Herman Benjamin, Rosa Weber e o Luiz Fux.
As lendas regem que a flor de lótus representa beleza pura, pois não se contamina com a sujeira das águas que a envolvem. A crença hindu enaltece sua beleza interior, por existir no mundo sem se deixar influenciar pelo que está ao seu redor. Já no Egito, a flor de lótus simboliza fonte da manifestação, renascimento.
Que seja um renascimento! E devemos esse sentimento ao ministro Herman Benjamin e seus colegas! Só os índios não contatados da Amazônia (e aqueles que não comungam dos princípios que podem levar o Brasil a um outro patamar de dignidade), podem deixar de reconhecer o talento desse ministro e dos outros dois que o acompanharam fidedignamente, nos trazendo alento com suas palavras claras e destemidas. Antonio Herman Benjamin e seus dois colegas vão passar para a história pela solidez de suas posturas, que nos asseguram a existência de lótus valiosos, que nos dão diretrizes para um novo Brasil justo, limpo, digno, belo, do qual podemos nos orgulhar! Nosso mais sincero OBRIGADA a ele a aos seus companheiros que nos representaram com tanta honradez!
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Essa Suzana deve estar tomando algum chá alucinógino. Acorda Poliana!
Maravilha de artigo parabéns
Suzana você expressou corretamente aquilo que sentimos. Não devemos perder a fé, pois ainda existem pessoas honradas.
Excelente artigo, Suzana. Muito obrigado.
Eu já admirava o ministro, mas desconhecia sua atuação na área ambiental.
Parabéns pelo texto, Prof. Suzana!! Viva Catolé do Rocha! Prof., gostaria de lhe perguntar como ser um fellow da Ashoka??? Marco Gomes, Biologo.
Olá Marco, Se quiser me escrever, por favor mande uma mensagem para [email protected] Obrigada pela sua mensagem!
"Infeliz a nação que precisa de heróis."
Excelente ponto de vista, Suzana… em vez de tristeza pelo acontecido, Alegria. Sim, temos que nos alegrar, pois perdemos uma batalha, mas seremos vitoriosos amanhã.
Pena que tão poucos no meio desse "mar de lama" (para não dizer de outra coisa), até no próprio TSE!!!
Artigo Fantastico! Parabens Suzana Padua por conseguir traduzir o nosso sentimento ao assistir a este julgamento!