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Tartarugas da Bahia não se deixam levar pela correnteza

Monitoramento via-satélite demonstra que tartarugas-cabeçudas da Bahia resistem às correntes marítimas, para ficar longe da praia e permanecer no mar

Vandré Fonseca ·
6 de dezembro de 2017 · 7 anos atrás
Crédito: Projeto Tamar.
Crédito: Projeto Tamar.

As tartarugas-cabeludas (Caretta caretta), uma das cinco espécies encontradas no litoral brasileiro, nascidas no litoral da Bahia, tem um comportamento diferente das parentes do Hemisfério Norte. Logo após sair dos ovos, as daqui nadam ativamente e se orientam para se manter no mar, enquanto as da parte de cima do Equador seguem passivamente as correntes oceânicas.

A conclusão vem de um estudo realizado pelo Projeto Tamar em parceria com a Universidade da Flórida Central e a Agência Americana para a Atmosfera e Oceano (Noaa), que acompanhou via satélite 19 tartarugas-marinhas na costa brasileira, durante o período de eclosão dos ovos. O estudo foi publicado na edição desta quarta-feira da Proceedings of Royal Society B.

O monitoramento durou 120 dias e ajuda a explicar o comportamento da espécie nos chamados “anos perdidos”, ou seja, logo após o nascimento até a primeira década de vida, quando elas retornam para a costa. “Este estudo completa algumas lacunas de dados de longa duração em nosso conhecimento do ciclo de vida entre tartarugas brasileiras”, afirma a bióloga María de los Milagros Lopez Mendilaharsu, do Projeto Tamar, uma das autoras do artigo.

Para avaliar o comportamento de nado das tartarugas, foram lançados ao mar drifter, equipamentos flutuantes que são carregados pelas correntes marítimas enquanto são acompanhados via satélite.

A surpresa foi verificar que enquanto, em menos de um mês, os equipamentos flutuantes eram levados para a praia e acabavam encalhando, as tartarugas brasileiras continuavam no mar, seguindo seu caminho. Esse resultado demonstra que as tartarugas não seguem passivamente a correnteza, mas se esforça para se manter no alto mar.

Após o primeiro mergulho, as tartarugas do litoral da Bahia seguem direções diferentes, conforme o período e as correntes marítimas que correm pelo litoral. No início do período, elas acompanham as correntezas em direção ao sul do litoral. Mas com o passar do tempo, mudam o destino.

“Após o primeiro mergulho, as tartarugas do litoral da Bahia seguem direções diferentes, conforme o período e as correntes marítimas que correm pelo litoral”.

Quando as correntezas começam a variar em direção ao norte, elas também mudam de trajeto. Embora a maioria continue a seguir em direção ao sul, algumas já vão na direção contrária. Finalmente, no final do período, quando as correntezas vão para o norte e nordeste, as tartarugas viajam para o norte e oeste.

“Isto é importante, a partir de uma perspectiva de conservação, entender para onde as jovens tartarugas marinhas vão e como elas interagem com o ambiente”, afirma a bióloga Kate Mansfield, da Universidade da Flórida Central, que liderou o estudo.

“Saber que elas se dispersam em diferentes direções, dependendo de mudanças nas correntes oceânicas vai nos ajudar a ter um melhor senso sobre onde e quando precisamos agir para continuar a garantir a sobrevivência dessa espécie ameaçada”, conclui a pesquisadora.

Anos perdidos

Após o nascimento, as jovens tartarugas passam muitos anos em mar aberto e duas décadas nas águas costeiras, até atingir a maturidade sexual e começar a se reproduzir. Devido ao longo período de amadurecimento e de vida, conhecer e compreender a vida das tartarugas jovens e um desafio, segundo a bióloga Mansfield.

Em um estudo publicado em 2014, ela já havia verificado, com uso da mesma técnica, que as tartarugas deixaram inesperadamente as correntes da região subtropical do Atlântico Norte, para entrar no Mar dos Sargaços, uma região do mar menos movimentada, que fica entre as grandes Correntes Oceânicas do Hemisfério Norte. Embora exista uma região similar no Atlântico Sul, por aqui elas não agem da mesma forma.

Nathan Putman, da empresa de pesquisas privada LGL Research e um dos autores do estudo, compara os padrões encontrados entre as tartarugas brasileiras à diversificação de investidores no mercado financeiro, para reduzir o risco de perdas. E parece funcionar.

“Ao contrário de algumas outras populações que sofreram declínios ou aumentos dramáticos, essas parecem ser bastante estáveis – como o dinheiro investido em um conjunto diversificado de ações”, disse Putman.

 

 

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Comentários 1

  1. Chato de Galocha diz:

    "tartarugas-cabeludas" foi bom! Fiquei imaginando os penteados.