Salada Verde

Desmate nos últimos 6 meses já ultrapassa todo o ano de 2018

De agosto a janeiro área de alertas já era 3% maior do que em todos os 12 meses da série do ano retrasado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Claudio Angelo ·
3 de fevereiro de 2020 · 5 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Desmatamento na Amazônia. Foto: Agência Brasil.

Os alertas de desmatamento na Amazônia somaram 4.707 km2 até o dia 23 de janeiro, segundo o sistema Deter-B, do INPE. Com isso, o período de seis meses da série de 2020 já ultrapassou todos os 12 meses de 2018 (4.571 km2) e de 2017 (4.640 km2). Com seis meses de dados ainda a apurar, já é a terceira taxa de alertas mais alta desde a estreia do sistema, em 2016.

E o que é mais preocupante: o período compreendido entre novembro e abril é geralmente o de redução no ritmo das derrubadas, devido à estação de chuvas (o “inverno”) na Amazônia. Se nada for feito para refrear as motosserras, quando a seca chegar, nos meses de maio, junho e julho, o Brasil terá mais um ano de desmatamento recorde – e bem pior do que o ano passado.

O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu no final do ano passado que o governo não tem controle sobre as motosserras. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo antes da COP25, a conferência do clima de Madri, Salles havia dito que seria “uma conquista” se a taxa de desmatamento em 2020 subisse menos que os 29,5% estimados pelo INPE para 2019.

O desmatamento na Amazônia é medido de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Assim, quando se fala em “taxa de 2020”, está-se referindo ao período que vai de agosto de 2019 a julho de 2020.

A devastação é monitorada por satélite em tempo quase real pelo sistema Deter, do INPE. Esses dados servem para municiar a fiscalização do Ibama e pegar infratores com a boca na botija, detendo a destruição (daí o nome). Toda semana são publicados na página do Deter na internet novos dados de alertas do sistema, que permitem acompanhar a dinâmica do desmate mês a mês tanto na Amazônia quanto no Cerrado.

No entanto, a agilidade do Deter existe às custas de uma menor resolução. Por conta da relativa “miopia” dos satélites usados, o sistema não consegue capturar todo o desmatamento que ocorre, nem é bom em enxergar sob nuvens. Por isso o INPE alerta para que não se use o Deter para estimar área desmatada – apenas para analisar a tendência. O cálculo de área desmatada é feito uma vez por ano pelo Prodes, um sistema mais acurado, mas necessariamente mais lento.

Nos primeiros quatro meses do governo de Jair Bolsonaro, o Deter vinha mostrando uma queda nos alertas de desmatamento. Isso provavelmente se deveu à intensa cobertura de nuvens, que impediu as detecções do sistema. A partir de maio, o céu amazônico limpou e a taxa começou a subir. Mês a mês, foram verificados aumentos expressivos: 34% em maio, 91% em junho, 278% em julho e 224% em agosto. Na série de 2020, iniciada em agosto do ano passado, somente outubro e dezembro não registraram desmate recorde para o mês.

O governo não só não fez nada para reverter a situação, como criou um novo incentivo legal ao desmatamento: em dezembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assinou uma Medida Provisória que anistia a grilagem de terras praticada na Amazônia até o ano de sua eleição. Como a maior parte do desmatamento é resultado de grilagem (invasão de terras públicas), a MP dá um incentivo legal para a ampliação desse crime.

Pressionado pela comunidade internacional de investidores reunida em Davos neste mês, Bolsonaro tuitou que criaria um Conselho da Amazônia, coordenado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão.

Com o Ministério do Meio Ambiente desmontado, a fiscalização do Ibama subfinanciada e todo o resto do governo jogando contra, porém, o conselho, se for mesmo criado, terá eficácia limitada.

Leia Também 

Queimadas na Amazônia sofreram aumento de 30% em 2019, afirma INPE

85% do desmatamento ocorrido em Mato Grosso é ilegal, diz ICV

Grilagem de terra é responsável por 35% do desmatamento na Amazônia, diz Ipam

  • Claudio Angelo

    Jornalista, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima e autor de "A Espiral da Morte – como a humanidade alterou a ...

Leia também

Notícias
20 de novembro de 2019

Grilagem de terra é responsável por 35% do desmatamento na Amazônia, diz Ipam

Segundo o Instituto, as florestas estão sendo destruídas para que terras públicas fiquem nas mãos de poucas pessoas

Salada Verde
12 de dezembro de 2019

85% do desmatamento ocorrido em Mato Grosso é ilegal, diz ICV

Mais da metade da derrubada ocorreu em áreas privadas cadastradas no Cadastro Ambiental Rural. Relatório aponta para a fragilidade e diminuição da fiscalização

Notícias
9 de janeiro de 2020

Queimadas na Amazônia sofreram aumento de 30% em 2019, afirma INPE

Foram ao todo 89.178 focos, enquanto 2018 totalizou 68.345, segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. Paulo diz:

    Basta ver os sites. Confirmado, "essa p******* de árvore".

    Claro que aconteceria, obvio.