Uma nova espécie de peixe foi descoberta na Amazônia: o Ammoglanis obliquus, uma espécie de bagre que cresce até no máximo 1,5 centímetros e que possui um corpo semi-transparente. O peixe recém-descrito pela ciência foi encontrado num curso d’água parcialmente destruído, no município de Rio Preto da Eva, a 78 km de Manaus, Amazonas. A descoberta ajuda a entender a morfologia da evolução dos bagres, que possuem 956 espécies conhecidas pela ciência somente na bacia do rio Amazonas.
O gênero Ammoglanis, entretanto, composto por esses bagres minúsculos e semi-transparentes – não possuía ainda nenhum registro na região. A descoberta foi liderada pela bióloga brasileira Elisabeth Henschel e publicada no periódico internacional Zoosystematics and Evolution em fevereiro, junto com uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Sistemática e Evolução de Peixes Teleósteos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A pesquisa contou com o apoio da National Geographic Society.
O registro da nova espécie foi feito pela primeira vez por acaso, em agosto de 2019, enquanto Henschel e dois colegas da UFRJ iniciavam uma expedição de pesquisa na Amazônia para estudar um outro grupo de peixes, o candiru.
O Ammoglanis obliquus se diferencia dos outros peixes do gênero pela quantidade e formato de ossos, dentição, e pelo número e localização de nadadeiras. Além disso, seu padrão colorido, composto por manchas espalhadas por todo o corpo, só é encontrado em outro peixe do gênero, o Ammoglanis pulex, encontrado na bacia do rio Orinoco, na Venezuela. A espécie recém-descoberta vive em bancos de areia perto de Rio Preto da Eva e se alimenta do sangue e da mucosidade de animais maiores ou em decomposição.
A distribuição geográfica restrita, característica comum a maioria dos bagres, pode ser o maior risco do Ammoglanis obliquus, cujo curso d’água onde foi descoberto, por exemplo, está localizado no meio de um sítio de construção. Ter um habitat reduzido aumenta a suscetibilidade de uma espécie aos riscos de extinção, pois qualquer desequilíbrio ou supressão do seu habitat pode comprometer a existência da espécie inteira.
“A conservação é geralmente focada nas espécies maiores, porém, quando destruímos as correntes e os pequenos cursos de água onde estes pequenos peixes moram, tem implicações desconhecidas no médio e longo prazo. Nosso papel como cientistas é oferecer conhecimento que depois possa ser utilizado para compreender a importância desses peixes pequenos para o ecossistema”, explica Elisabeth Henschel.
Leia Também
Barragens no Rio Madeira impedem migração do bagre maratonista, diz estudo
Leia também
Os bagres de Lula
Técnicos do Ibama concluem que usinas Santo Antônio e Jirau não possuem viabilidade ambiental. O próprio Lula reclamou do parecer, mas os problemas vão muito além dos bagres. →
Barragens no Rio Madeira impedem migração do bagre maratonista, diz estudo
O monitoramento de uma população de grandes bagres no rio Madeira confirma que duas usinas hidrelétricas praticamente impediram a migração da espécie que faz a mais longa migração de água doce do mundo →
Número de portos no Tapajós dobrou em 10 anos sob suspeitas de irregularidades no licenciamento
Estudo realizado pela organização Terra de Direitos revela que, dos 27 portos em operação no Tapajós, apenas cinco possuem a documentação completa do processo de licenciamento ambiental. →
Mais um bagre pro colo do Barba!