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Publicado originalmente por Observatório de Justiça e Conservação
De 2021 a 2030 foi declarada a Década do Oceano, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar e engajar as pessoas sobre a importância da conservação da biodiversidade costeira e marinha. Se você está acostumado apenas com o turismo de guarda-sol, na beira da praia, com cerveja e sorvete, prepare-se para abrir seus horizontes para todas as possibilidades dessa imensidão azul que nos cerca.
Os oceanos são o lar de criaturas incríveis e abrigam uma biodiversidade gigantesca, grande parte ainda desconhecida. O litoral paranaense é um dos menores no Brasil, com cerca de cem quilômetros de costa em contato com o Oceano Atlântico Sul, mas é uma das áreas mais importantes do mundo quando o assunto é biodiversidade. O potencial de turismo de natureza é imenso, de passeios de barco a esportes náuticos, da observação de golfinhos ao mergulho em profundidades variadas. Esse pequeno trecho da costa brasileira possui diversas ilhas e vários pontos de recifes artificiais ricos em vida marinha perfeitos para a prática do mergulho.
A Associação MarBrasil, com sede em Pontal do Paraná (PR), trabalha com conservação, educação ambiental e desenvolvimento sustentável em ambientes marinhos e costeiros, com incentivo à pesquisa científica e acadêmica sobre os oceanos e a vida aquática. Ao longo dos últimos anos, a MarBrasil acompanhou, com ajuda de mergulhadores, a evolução da fauna marinha. O aumento da biodiversidade marinha no Paraná tem sido substancial a partir da implementação do Projeto RAM (Recifes Artificiais Marinhos) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Após diversos estudos, foi feita uma intervenção inédita do estado para melhorar as condições de reprodução e abrigo de algumas espécies, algumas gravemente ameaçadas de desaparecimento.
“Em 2001, foram afundadas cerca de duas mil estruturas de concreto e mais duas balsas graneleiras, entre o Parque Nacional Marinho de Currais e as Ilhas Itacolomis, formando o ponto conhecido como Parque dos Meros. Além disso, a Associação MarBrasil com o Programa REBIMAR, instalou 5500 estruturas de concreto para a manutenção e recuperação da biodiversidade marinha, paralelos à costa de Pontal do Paraná, sendo este o primeiro projeto do Brasil de recifes artificiais com licença do IBAMA e do Ministério do Meio Ambiente”, detalha Robin Loose, coordenador de Logística e Operações Náuticas na Associação MarBrasil.
O programa foi um sucesso do ponto de vista científico e ambiental porque, além de criar um ambiente protegido para a vida marinha, também possibilita uma exploração saudável do oceano por meio do turismo. A instalação de recifes artificiais e o naufrágio das antigas balsas criaram uma paisagem fantástica que pode ser visitada por mergulhadores. É um novo cartão postal submerso que encanta pelas imagens e pela possibilidade de contato com criaturas extraordinárias.
“Sem dúvidas, o que torna especial a atividade de mergulho no litoral paranaense são os recifes artificiais, com paisagens submersas ricas em biodiversidade. Os recifes artificiais são verdadeiros berços para multiplicação e preservação de espécies antes consideradas até extintas em nosso litoral. O maior exemplo identificado é o Mero que pode pesar de 250 a 400 quilos e medir até três metros. Dóceis e curiosos, eles conferem características únicas para a prática do turismo de mergulho”, acrescenta Robin.
O mergulho nas balsas é considerado o melhor ponto para a prática da atividade no estado do Paraná. A profundidade varia entre 21 a 27 metros, a temperatura de 20°C a 26°C e a visibilidade de 2 aos 30 metros em dias de mar e ventos calmos. São duas estruturas naufragadas, a Dianka, mais ao sul, e a Espera 7, mais ao norte. Nos mergulhos é possível encontrar os belos Meros, além de muitos cardumes de dezenas de espécies de peixes.
Como as balsas ficam em mar aberto e longe da costa, a recomendação é apenas para mergulhadores experientes com habilitação avançada e com equipamentos de segurança, acompanhados de profissionais que conhecem os naufrágios.
A empresa Acquanauta Mergulho, com sede em Curitiba, opera mergulhos e fez uma parceria de pesquisa com a MarBrasil, cedendo fotos e imagens subaquáticas das espécies avistadas. Parte do valor cobrado dos mergulhadores também é repassada para a ONG e contribui com o trabalho de conservação, ecologia e pesquisa científica.
“Está no inconsciente coletivo encontrar um tesouro embaixo d’água. O nosso tesouro são os Meros e o mergulho em naufrágios que despertam uma curiosidade muito grande. As surpresas são fantásticas. Recentemente, tivemos um encontro com Raias-chitas e, durante a formação de oficiais do Corpo de Bombeiros como mergulhadores técnicos, avistamos uma Baleia-minke que ficou brincando com o grupamento”, conta Reinaldo Alberti, sócio da Acquanauta Mergulho.
Os mergulhos no litoral do Paraná têm um custo um pouco mais elevado do que em Santa Catarina. São levados grupos menores, seis mergulhadores por vez, porque os pontos são protegidos e mais frágeis. Além disso, existe também uma condição ambiental mais dura. Apenas a Ilha de Currais tem abrigo, suportando situações mais agitadas do mar.
“Nos outros pontos de mergulho no Paraná é preciso que o mar esteja calmo e sem ressacas. Não é possível ir na lua cheia nem na lua nova, quando a variação de maré pode provocar mais ondas e prejudicar a visibilidade. De qualquer forma o custo é bom porque é possível sair de Curitiba às 5h da manhã e retornar para casa às 17h, sem envolver gastos com hotel, por exemplo”, complementa Reinaldo, da Acquanauta.
Parque Nacional da Ilha dos Currais
No Paraná está o terceiro Parque Nacional Marinho do país, depois de Abrolhos e Fernando de Noronha, que é o Parque Nacional Marinho das Ilhas de Currais. A unidade de conservação foi criada em 2013 e possui 1.360 hectares de extensão. A área abriga três ilhas do arquipélago e seu entorno, protegendo um rico ecossistema marinho e terrestre.
As ilhas não possuem praias, apenas costões de rochas e pedras que afloram do mar. Vivem na área mais de 8 mil aves, chegando a nascer cinco mil atobás nas ilhas. É o principal berço desta ave em todo o litoral brasileiro, de acordo com levantamento do ICMBio.
Por ser um ambiente protegido por lei, não é permitido desembarcar ou pescar dentro da área do parque. Os mergulhos só podem ser feitos com autorização prévia.
Mergulhar no litoral paranaense é uma experiência única. Se você fizer um safári na África, terá que ficar em um carro fechado para ver um leão, um rinoceronte ou uma girafa. No mergulho no Paraná, há a possibilidade de passar por tubarões, meros e outros animais de qualquer tamanho de forma muito próxima e com segurança. Muitas espécies estão na lista de extinção e são muito difíceis de encontrar em outros pontos da costa brasileira. É uma grande possibilidade de contato com a natureza se compararmos com outras atividades turísticas existentes.
Quer ser um mergulhador?
O primeiro passo é fazer o curso Open Water Diver, um credenciamento internacional que permite mergulhos em qualquer lugar do planeta, uma licença para atividade. Para ter a carteirinha, procure uma escola e um curso com qualidade, o que inclui formação teórica, muitas horas de piscina e pelo menos quatro bons mergulhos no mar.
No litoral paranaense são permitidos apenas mergulhadores credenciados, justamente pela fragilidade do ambiente. A pessoa precisa ter um bom controle de flutuabilidade para o contato com os Meros e outros animais. A operadora que vai levar o grupo também precisa oferecer toda a segurança de embarcação e navegação, com guias acompanhando os mergulhadores.
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Adoro mergulhar e não sabia da riqueza do litoral do Paraná!
Vou colocar em minha agenda uma visita! Mas… só depois da pandemia!