O mundo se move cada vez mais rápido e, cada vez mais, precisamos buscar o equilíbrio em lugares que permitem um ritmo diferente de viver, onde não existem máquinas, pressões e o progresso é o barulho de uma engrenagem distante. O Caminho da Mata Atlântica será um desses lugares no Brasil. Porque não é só o cantor da banda Steppenwolf que “nasceu para ser selvagem” (“born to be wild”). Muitas pessoas gostam de “ser selvagem” de vez em quando.
Para estas pessoas que preferem as árvores aos prédios, existem oportunidades para se conectar mais profundamente com a natureza exuberante do Brasil. Uma delas é o trabalho voluntário no manejo da trilha de longo curso que atravessa a Floresta Atlântica pela da costa brasileira, de Santa Catarina até o Rio de Janeiro. O Movimento Borandá, criado pela ONG WWF, oferece essa oportunidade para os verdadeiros amantes da natureza. Borandá é um neologismo que combina as palavras “bora” – que significa vamos – e “andá”, ou seja, andar. O principal objetivo do movimento é conectar diversas áreas protegidas através de uma trilha com mais de 2.000 quilômetros. O Caminho da Mata Atlântica irá passar por 70 Unidades de Conservação (UCs) através de quatro estados: Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Eu decidi fazer parte desse trabalho voluntário em duas frentes, no Rio (RJ) e em Florianópolis (SC), porque esse é o meu tipo favorito de viagem.
O motivo?
Trabalhar na trilha é uma oportunidade de passar os finais de semana no coração da floresta, conhecer pessoas interessantes apaixonadas por natureza e preparar o caminho – literalmente – para outros viajantes.
No Rio de Janeiro:
No Rio de Janeiro, o time responsável pela Trilha Transcarioca organiza eventos todo final de semana. O trabalho de sinalização e manejo nos trechos é constante. Normalmente esses eventos reúnem grupos de 4 a 8 pessoas. O processo de sinalização é semelhante ao de trilhar, mas com tintas, esponjas e moldes com a pegada que se tornou o logo da Transcarioca. Você faz a marca e segue adiante. Os melhores lugares são árvores e pedras grandes, porque são estáticos e impedem a sinalização seja alterada. Com bom clima e bom humor é possível sinalizar entre 5 e 8 quilômetros de trilha em um dia. Por esse motivo, também é importante saber como usar o sistema de coordenadas que posteriormente podem ser carregadas no Google Maps para que outras pessoas possam seguir o caminho que você preparou.
Durante o meu trabalho voluntário no Rio de Janeiro, eu descobri muitos lugares interessantes que eu não teria conhecido por conta própria. Por exemplo, passei por um grande jequitibá com 700 anos de idade que comportava com folga eu e outros nove voluntários. Vi cachoeiras convidativas ao banho depois de um dia duro de trabalho sob o calor tropical. Tentei coletar algumas jacas – imensas! -, mas elas ainda estavam verdes e não tão atraentes para o consumo. Cruzei rios no meio da floresta e bebi água direto da fonte. Descobri mirantes de tirar o fôlego. O Rio de Janeiro se entregou sob os meus pés com uma paisagem colorida, com sol e nuvens, veleiros e pontes, prédios e aviões, praias e montanhas. E ninguém estava por perto, nenhum turista com suas câmeras e barulhos, somente o nosso grupo e a beleza da natureza presente no momento.
No trabalho voluntário eu tive a chance de conversar com muitos profissionais que atuam na proteção da natureza. Nós discutimos de tudo, desde o aumento dos eucaliptos australianos ao estilo de vida tradicional dos índios e os projetos marinhos no Brasil. Foram diversas informações úteis que me permitiram entender a realidade brasileira muito melhor do que através de exposições ou artigos.
Em Florianópolis:
Em Florianópolis existem muitas trilhas diferentes para serem descobertas e conectadas. Os trechos pela costa são os melhores para apreciar as ondas e a imensidão do oceano; os trechos feitos em barcos através de lagoas são incríveis para descobrir o modo de vida dos pescadores; e os trechos nas montanhas garantem lindas vistas do topo. Tudo junto cria uma atmosfera mágica que está bem próxima da cidade com seus bares, hotéis, casas e escolas de surfe. Em Florianópolis eu senti que natureza e civilização podem existir em harmonia, em complemento uma à outra, sem esforço.
Lá, o trabalho de sinalização foi mais interessante porque a maioria das trilhas nunca havia sido marcada. Isso nos deu a chance de sermos verdadeiros pioneiros, descobrindo trilhas e ajudando a achar o melhor caminho para desbravar o estado de Santa Catarina através dessa grande trilha.
Uma das coisas mais marcantes foi ter contato com os pescadores das vilas que moram em Santa Catarina. É possível observar o seu modo tradicional de vida, que resiste há centenas de anos. Por exemplo, quando o filho de um pescador vem ao mundo, seu pai planta uma árvore. Quando o filho completa 18 anos de idade, o pescador corta a árvore e faz uma canoa a partir do tronco para presenteá-lo por atingir a maioridade.
Em Santa Catarina, comunidades indígenas ainda existem. Os índios cuidam das abelhas selvagens, fazem mel, pescam, e não falam português, mas o seu próprio dialeto local. Esse tipo de vida, completamente diferente do jeito urbano de viver, é capaz de ensinar muito, principalmente valores como a calma e a simplicidade, assim como a viver em harmonia com a natureza e consigo próprio.
Visuais de outro mundo como o do Cânion Espraiado, no Parque Nacional São Joaquim, irão inspirar você rumo à próxima descoberta na natureza selvagem. O Brasil é realmente rico, belo e repleto de verdadeiros presentes aos olhos. A maioria dos parques naturais está aberto à visitação, basta um pouco de coragem e estar disposto a se aventurar que muitos caminhos irão se abrir para você.
E aí? Borandá?
*Traduzido por Duda Menegassi.
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