Flávio Ferreira, arquiteto e professor da FAU-UFRJ, apontou na sua tese de doutorado um quadro bem diferente da ideia de que os portugueses eram desleixados. Na tese, ele mostra que as cidades coloniais mineiras foram cuidadosamente planejadas, sempre fundadas ao longo de riachos, afluentes de um rio principal, mas nunca próximas a eles.
Os fundadores da cidade, sabendo dos riscos de cheia nestes rios, mantinham as ruas e sobrados à distância segura. Os seus traçados seguiam de maneira orgânica o curso de pequenos riachos e o relevo dos morros suaves.
As cidades mais novas como Brumadinho escolheram outro parâmetro na sua fundação e desenho de suas ruas: seus núcleos urbanos estão próximos às ferrovias e suas estações. A questão é que os engenheiros que traçaram as ferrovias, aparentemente buscaram áreas mais planas, onde o trem pudesse passar sem vencer desníveis. E geralmente, em Minas Gerais, essas áreas mais planas são fundos de vales onde correm os rios principais, como é o caso do rio Paraopeba, que inundou Brumadinho há 5 dias.
![]() |
Entretanto, não se animem em mudar o núcleo para Conceição de Itaguá: Antes descubramos como anda a represa da Copasa-MG, que represou o Rio Manso a alguns metros acima dos dois núcleos urbanos…
Esta situação se repete em cidades como Caçapava, no Vale do Paraíba, e diversas outras cidades pelo Brasil. Veja abaixo o exemplo de Caçapava e Caçapava Velha.
![]() |
Veja o texto completo do trabalho de Raul Bueno sobre o assunto |
Mapas com relevo e hidrografia de todo o Brasil podem ser baixados gratuitamente no IBGE para estudos rápidos como este (infelizmente as bases mais detalhadas não são atualizadas desde 1975)
A base cartográfica para Brumadinho pode ser baixada aqui
Para os hackers de Google Earth: Cartas do IBGE da região em questão sobrepostas ao Google Earth: uma verdadeira viagem no tempo de apenas 67mb. Baixar e abrir no google earth.
Leia também

Águas de março
A música teria sido composta em seu sítio, na Região Serrana do Rio de Janeiro – que, ironicamente, foi destruída pelas chuvas em janeiro de 2011 →

Drones: a nova fronteira tecnológica para o monitoramento da fauna
Cada vez mais o aparelho, munido de câmera termal e colorida, tem ajudado pesquisadores a fazerem registros de animais em áreas de difícil acesso →

Justiça é última barreira de leis e decretos que fragilizam a proteção ambiental na Amazônia Legal
Projetos aprovados por Assembleias Legislativas ou decretos de governadores entram em conflito com legislação nacional, e são anulados pelo Judiciário; classe política local segue alinhada ao bolsonarismo →
num país de faz de conta, por mais deploráveis que sejam as iniciativas de algumas casas legislativas estaduais, e dos próprios especuladores, criminosos ambientais, que surfam na esperança da impunidade, a lentidão da justiça apenas reforça a sensação dessa impunidade. Enquanto o Brasil não se tornar um país sério, em que as leis e a constituição são para valer, as lamentações dos ambientalistas, como eu e outros, serão inócuas. Triste e desanimador reconhecer essa realidade, que favorece aos que causam danos ao meio ambiente. Privatizam-se os ganhos às custas dos estragos ao meio ambiente – perda de todos – socialização dos prejuízos…