
Nas obras do artista asháninka Enrique Casanto, homens se confundem com tamanduás ou jacarés. Para Rember Yahuarcani, pintor de antepassados huitotos, “as culturas amazônicas são uma só com a floresta”. Como concordam Gino Ccecarelli e Luisa Elvira Belaunde (ele pintor e ela antropóloga), os artistas da Amazônia possuem uma sensibilidade que nasce de suas próprias cosmovisões. Vemos céus, terras, árvores e animais em imagens que, explícita o implicitamente, destilam ar conservacionista e inspiram o cuidado ambiental.
Como diz Ccecarelli, os pintores modelam em suas obras o que estão vendo e o que podem vir a deixar de ver. O asháninka Noé Silva, para citar um caso, pintou um quadro chamado “Shihuahuaco”, nome de uma árvore já muito derrubada na floresta peruana. Segundo Belaunde, através deste quadro o espectador “é chamado a ver através dos olhos de Noé” e a olhar esta espécie de maneira mais respeitosa.
Luisa argumenta que, além de pintar tal planta, animal, rio, paisagens amazônicas provocam “uma experiência que quebra nossos preconceitos e nos permite refletir que, para conservar a floresta, temos que compreendê-la de dentro para fora”, ou seja, é necessário despertar a sensibilidade. Talvez porque, como diria Paul Cézanne, o famoso pintor pós-impressionista, “a natureza está no interior”. “Eu nunca estive na Amazônia, mas quando vejo esses quadros me sinto atraída pelas cores, pela exuberância de uma paisagem abundante e me pego com vontade de preservar esse ecossistema”, afirma a limenha Charo Noriega.
Meu próprio trabalho, de tantas viagens e reportagens, se alimenta dessa quase tela contínua que parece existir entre a floresta e a arte amazônica. Quando a gente entra na floresta, se sente parte de um grande mural natural que pode nos acolher ou ameaçar. Uma maneira intensa de reviver essa sensação, tão útil para o meu trabalho, é me deixar levar por um desses belos quadros, muitas vezes reveladores em suas paisagens, incluindo as que, infelizmente, já deixaram de existir.




Leia também

Câmara aprova norma com retrocessos ao Código Florestal e à Lei da Mata Atlântica
“Jabutis” colocados em Medida Provisória 1150/202 fragilizam regularização ambiental e aumentam possibilidade de desmatamento em vegetação primária na Mata Atlântica. SNUC também foi afetado →

Recursos chineses podem ampliar impactos em estados pantaneiros
A reaproximação Brasil-China pode azeitar investimentos, inclusive em usinas no rio Cuiabá. Os aportes já somam ao menos R$ 38 bilhões →

Despreparo do Congresso sobre clima prejudica investimentos internacionais no país, diz especialista
Novas regras da União Europeia poderão causar desarranjos na produção de commodities, mas ainda não são suficientes para fazer do clima uma pauta para além do espectro ‘direita e esquerda', segundo análise de Mônica Sodré, da Rede de Ação Política pela sustentabilidade →