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Newsletter O Eco+ | Edição #214, Setembro/2024

O futuro incerto da Ilha do Marajó, pesquisas afetadas por mudanças climáticas e caça em reservas de Mata Atlântica

Newsletter O Eco+ | Edição #214, Setembro/2024

22 de setembro de 2024

No Rio Grande do Sul, acordos dão margem para caça em unidades de conservação, mostra reportagem de Aldem Bourscheit. Dois termos podem abrir alas ao assentamento de 110 indígenas Xokleng Konglui e Kaingang Konhum Mág nas florestas nacionais de São Francisco de Paula e de Canela, que somam quase 2,2 mil hectares de Mata Atlântica no Rio Grande do Sul. Os acordos judiciais permitem o abate de javalis, espécie exótica, e estudos para a caça de animais nativos, além do uso de algumas plantas. Isso exigirá mudanças nos planos de manejo das florestas, “manuais de uso” até então alinhados à lei federal, que não permite a caça, só um “uso sustentável” de florestas, pesquisas e a permanência de populações tradicionais que lá viviam quando elas foram criadas. Especialistas apontam que o melhor caminho de conciliação pode ser a redefinição dos limites das Flonas.

Na outra ponta do país, o maior arquipélago fluviomarítimo do planeta já sofre com as mudanças climáticas tanto pela sensação de maior calor quanto por fortes erosões que trazem perigo à população. O especial “O Futuro do Marajó”, de Alice Martins Morais e Matheus Melo traz uma série de reportagens que ilustram como diferentes territórios da Ilha podem ser impactados. Em Soure e Salvaterra, a erosão costeira devastou casas e ameaça uma escola quilombola. No Afuá, a cidade construída sobre palafitas enfrenta altos níveis de vulnerabilidade climática. E São Sebastião da Boa Vista pode sofrer grande impacto na economia local, muito dependente do açaí, cuja produção já está sendo fortemente afetada pelas mudanças do clima.

Além dos impactos diretos sobre diferentes espécies, as mudanças climáticas interferem diretamente na atividade dos próprios profissionais que buscam pesquisar e proteger esses animais, alerta a reportagem de Bernardo Araújo. Da Amazônia ao Pampa, projetos vêm sendo afetados pela imprevisibilidade dos fenômenos climáticos como a seca nos rios que dificulta a navegabilidade e o acesso aos pontos de pesquisa. No caso dos que se dedicam a estudar os peixes das nuvens, que vivem em poças temporárias e dependem das chuvas para dar início ao seu ciclo de vida, os locais de estudo simplesmente desaparecem ou não seguem mais o calendário “tradicional” devido às irregularidades nos regimes de chuva.

Boa leitura!

Redação ((o))eco

· Destaques ·

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· Conservação no Mundo ·

Corais fortalecidos. Em 2023, o Mar das Caraíbas (Oceano Atlântico) registou um calor sem precedentes: em março, as temperaturas da superfície do mar em toda a região variaram entre 1°-3°C mais quentes do que o normal. Este evento provocou o pior evento de branqueamento de corais registado na história das Caraíbas, branqueando 60-100% de alguns recifes. Um novo estudo descobriu que certas espécies de corais modificadas em laboratório e depois transplantadas para restaurar recifes em cinco países mostram poucos sinais de branqueamento, apesar da prolongada onda de calor marinho, tendo um desempenho melhor do que os corais selvagens ou os corais propagados a partir de fragmentos. [Mongabay]


Boom de espécies. A Austrália é conhecida pela sua abundância de espécies únicas – desde coalas e cangurus até vombates e insetos dignos de filmes de fantasia. Agora, o sapo risonho ocidental e uma aranha que homenageia Tom Hardy estão entre as 750 novas espécies reconhecidas no país, que já contabiliza mais de 150 mil espécies de fauna e flora. O ecologista de vida selvagem baseado em Melbourne, Euan Ritchie, diz que 750 pode parecer muito, mas esse número é apenas a ponta do iceberg: “A realidade é que pensamos que cerca de 70% das espécies nativas da Austrália continuam ‘por descrever’”. [NPR]

· Dicas Culturais ·

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📅 23/09 às 19h | Mobilidade urbana

📅 25/09 às 19h | Gestão de Resíduos e saneamento

📅 30/09 às 19h | Qualidade do ar e saúde

📅 02/10 às 19h | Desastres ambientais e adaptação climática

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