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Sobre flores, massas e críticas

Primavera começa em São Paulo em meio da semana do Dia Mundial Sem Carro. E exemplos para mudanças no trânsito florescem nas principais capitais do Brasil.

Redação ((o))eco ·
23 de setembro de 2011 · 13 anos atrás

Cerejeira apucaranense. Foto: Beatriz Bevilaqua

A primavera começou hoje, 23 de setembro, e, como prometido no texto “Floração das árvores em São Paulo e o medo do mato“, voltamos a conversar neste espaço sobre percepções, tempo e flores. A pressa e a velocidade da vida nas cidades muitas vezes impedem que o colorido do caminho seja observado e apreciado. Passamos sem perceber por árvores majestosas como essa cerejeira fotografada em Apucarana, no Paraná, pela leitora Beatriz Bevilaqua. Ou como os ipês amarelos e rosas flagrados pela Camila Oliveira, que publicou as fotos no blog miloliv / pedalina de oz e escreveu contando que também desistiu da ideia de desistir de São Paulo. “Desde que comecei a pedalar já não sinto e nem vejo lógica nessa necessidade de fugir da cidade grande pra encontrar paz!”. A Mila não descobriu só árvores no caminho, mas também uma coleção de periquitos e sabiás que só quem anda com calma pela cidade conhece.

Mas as flores que se abrem nesta primavera em São Paulo e em centenas de cidades do Brasil não são só as das árvores e jardins. A estação começa na semana do Dia Mundial Sem Carro, celebrado ontem, 22 de setembro, e é impossível não falar neste espaço da série de eventos que aconteceram nos últimos dias e que estão planejados para os próximos. Foram organizados festivais de cinema, concursos de foto, debates sobre mobilidade, oficinas comunitárias, discussões no parlamento, manifestações e debates. São flores de sementes plantadas nos últimos anos por gente que a mais de duas décadas tem brigado por mudanças necessárias. O Outras Vias apresentou uma agenda nacional da semana do DMSC, e abriu espaço para os leitores comentarem a data.

Bicicletada de São Paulo (Foto: Daniel Santini)

E, como nos outros anos, coroando essa série de iniciativas planejadas para chamar a atenção para alternativas no trânsito da cidade, aconteceu uma edição especial da Bicicletada, ou Massa Crítica, na noite do Dia Mundial Sem Carro. Para quem não conhece esse tipo de protesto, trata-se de uma manifestação coletiva sem líderes em que centenas de ciclistas pedalam juntos, lado a lado, defendendo menos carros e mais bicicletas na cidade. Normalmente, os encontros são alegres, com gente fantasiada, tinta, gritos originais e festa. Amizades nascem entre conversas sobre a cidade, sobre políticas públicas e sobre pedalar rotineiramente. É ambiente fértil para novas ideias de como transformar e melhorar o ambiente urbano.

Ontem foi um pouco diferente. Foi uma pedalada rápida, passando por vias expressas como a Avenida 23 de Maio e a Marginal Tietê. Mais rápida até do que a do ano passado, que já cortou vias importantes da cidade. E, ao atravessar avenidas com velocidade, é fácil perder o contato com o entorno, como todo mundo que dirige sabe bem. É fácil ignorar o resto da cidade, o diálogo com o diferente, a tolerância. O que pode ser bem perigoso em movimentos de massa (vide Elias Canetti, Hannah Arendt e outras referências no assunto).

Não, não aconteceu nada de tão sério e, felizmente, nenhum alemão com bigodinho esquisito tentou se apropriar de uma manifestação coletiva de amor à cidade. Mas teve quem provocou motoristas só por provocar – protegido covardemente pela maioria -, e quem bloqueou a circulação dos ônibus constantemente só por bloquear. Alguns fizeram isso em momentos apropriados com bons argumentos sobre o risco de se deixar veículos pesados passarem perto da massa; outros apenas exerceram pequenos poderes, abusando da vantagem numérica com um raciocínio sem sentido que coloca ciclistas e usuários de transporte público em lados opostos.

Estes devem assistir ao vídeo abaixo, uma das melhores críticas já feitas às massas críticas. Assistir até o fim. E ler o que é legal e o que não é legal fazer em manifestações coletivas. E tentar observar com mais calma as flores que têm nascido na cidade.

 

Os demais estão convidados a participar do Pedal Verde no domingo, dia 25. Bora plantar mais flores no asfalto cinza de São Paulo.

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