Em uma semana, pelo menos quatro pessoas foram atropeladas e mortas nas vias que circundam o Aterro do Flamengo, espaço da maioria dos eventos da Cúpula dos Povos, que concentrou as crítica e manifestações democráticas da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. As mortes foram confirmadas ao Outras Vias por agentes que ficaram responsáveis por monitorar o trânsito na região, e também por outras testemunhas, além de amigos das vítimas. Procurada, a assessoria de imprensa da Companhia de Engenharia de Tráfego da cidade diz não ter estatísticas a respeito das vítimas no trânsito. O Corpo de Bombeiros, por sua vez, afirma ter registro de apenas uma morte.
Agente de trânsito Marco Antonio Santos de Souza aponta para o local de um dos atropelamentos
“Quatro pessoas morreram, uma delas na minha frente. Foi uma paraguaia de 19 anos. Eu pedi para ela atravessar na passarela, mas ela foi pela pista e acabou atropelada”, conta o agente de trânsito Marco Antonio Santos de Souza, que indica onde a tragédia aconteceu. No espaço em que a vítima tentou atravessar, ainda há resquícios de uma antiga faixa de pedestres quase apagada, hoje incompatível com a velocidade de 90km/h permitida nas vias que circundam o Aterro do Flamengo.
Além da mulher paraguaia, também foi atropelada uma estudante gaúcha chamada Marília Feijó, segundo amigos seus presentes no evento. Completam a lista dois catadores de material reciclável, segundo Anderson Lopes de Miranda, presidente do Movimento Nacional da População de Rua. “A Rio+20 não foi organizada para nós, para quem não tem carro. Os eventos oficiais foram realizados no RioCentro, que é longe. Isso não foi por acaso”, defende Miranda. Outros agentes de trânsito ouvidos pela reportagem confirmaram que pelo menos quatro pessoas foram atropeladas e mortas na região no período.
Velocidade
Apesar da gravidade da situação, não foi tomada nenhuma medida para redução da velocidade das vias durante a realização de eventos da Cúpula dos Povos. O limite em si, apesar de alto, 90 km/h, não é respeitado pela maioria dos carros ou motoristas de ônibus, estes últimos sempre apressados e agressivos. Questionada sobre o assunto, a CET não se pronunciou. Os agentes destacados para monitorar a região tentaram impedir que os pedestres atravessassem fora da passarela, mas pouco puderam fazer dada a circulação constante de centenas de pedestres pelo local. Durante toda a Rio+20 medidas para tentar garantir a circulação dos carros e impedir engarrafamentos foram a prioridade dos engenheiros de trânsito locais.
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Os engarrafamentos são comuns não só em eventos especiais, mas na rotina da cidade. Durante a conferência, foram realizados diversos debates sobre mobilidade sustentável e sistemas de trânsito mais eficientes, que priorizam transporte coletivo em detrimento de transporte individual, mas, na prática, a imprensa local pouco falou de mudanças possíveis. Manifestações populares foram apresentadas como mobilização de “desocupados e irresponsáveis”, simplificadas como meros obstáculos ao trânsito, mesmo as que visam mudanças para a melhoria da mobilidade de todos – como a Pedalada Mundial (World Bike Ride) que aconteceu na noite desta sexta-feira, 21.
Para o governo e para os telejornais locais, a prioridade foi o fluxo na Rio+20. E pelo menos quatro pessoas morreram atropeladas.
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