Uma espécie endêmica da Amazônia Central, o sauim-de-coleira (Sanguinus bicolor) está restrito a uma região bem limitada dentro e ao norte dos limites da cidade de Manaus e em algumas áreas pouco conhecidas dos municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara, neste somente até a região do rio Urubu. Ao norte do rio Amazonas a espécie ocorre até o km 35 da BR174, com uma área de sobreposição com outra espécie, o sagui-de-mãos-amarelas (Saguinus midas).
Também chamado de sagüi-de-duas-cores ou sauim-de-manaus, o corpo deste pequeno macaco mede entre 21 a 23 cm, sua cauda de 33 a 42 cm, e pesa cerca de 450 gramas. O nome científico bicolor se justifica pelas duas cores do pelo: a parte frontal, os braços, pescoço, tórax e parte das costas tem pelagem branca; a parte traseira do corpo é marrom alaranjada no dorso, na barriga e parte interna das pernas. A cabeça e a face não possuem pelos. Outra característica peculiar é que, com exceção do dedo polegar, suas unhas são como garras bem afiadas, apropriadas para escalar árvores.
O Sanguinus bicolor vive em grupos familiares de 2 a 15 indivíduos, com pouca concorrência interna. Somente a fêmea alfa do grupo terá filhotes. A reprodução das demais fêmeas é comportamentalmente suprimida. Entretanto, todo o grupo ajuda com o cuidado dos jovens, servindo de modelo para que aprendam a caçar e se alimentar. O período de gestação dura de 140 a170 dias e as mães geralmente dão à luz a gêmeos. Os jovens são atendidos principalmente pelo pai e entregues à mãe apenas para mamar.
Onívoro, a dieta do sauim consiste de frutas, flores, néctar, insetos, aranhas, pequenos vertebrados e ovos de aves.
As ameaças à sobrevivência de longo prazo da espécie são múltiplas e decorrem, principalmente, da destruição do habitat e da competição interespécies. Com o crescimento desordenado da cidade de Manaus nos últimos anos a floresta vem sendo derrubada de maneira descontrolada. O desmatamento e a fragmentação reduzem drasticamente as áreas de habitação e alimentação do animal.
Além disso é ameaçado pela competição com o sagui-de-mãos-douradas, também presente nas áreas de entorno da cidade de Manaus. Nesta relação de exclusão competitiva, S. bicolor tem perdido áreas de florestas para S. midas e é gradualmente deslocado em direção às florestas secundárias da área urbana de Manaus, onde é a espécie acaba sendo vítima de atropelamentos. E ainda há um agravante: a significativa barreira geográfica dos rios Negro e Solimões impede que este primata tente sobreviver em outros locais.
A espécie integra o nível mais grave de ameaça à extinção do ICMBio (criticamente em perigo) e, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), é considerada espécie ameaçada. No Brasil, um Plano de Ação lançado em dezembro 2011 pelo ICMBio pretende reduzir a taxa de declínio populacional e assegurar áreas protegidas para a espécie com pelo menos oito populações viáveis de 500 indivíduos cada. O plano tem uma vigência até 2016.
Leia Também
Fauna marinha: a anêmona-gigante
Coral-de-fogo: o toque que queima
O albatroz-real-do-norte
Leia também
Aridez avança e 3/4 do planeta ficaram mais secos nas últimas décadas, diz estudo da ONU
Relatório apresentado na COP da Desertificação, que acontece na Arábia Saudita, aponta que 40,6% das terras do mundo são áridas; aridez cresce no Nordeste e Amazônia corre risco →
Surucucu Solteira Procura
Os casamenteiros do Museu Biológico buscam um noivo que possa ser enviado por algum criadouro para ser match da Surucucu do Butantan →
Diretor-presidente do Ipaam é afastado após envolvimento em suposto esquema de fraude ambiental no Amazonas
Além de Juliano Valente, outros membros da diretoria do órgão foram presos preventivamente pelos crimes contra o Meio Ambiente, Patrimônio Genética contra a Flora →
O que realmente as autoridades estão fazendo para preservar esse legítimo amazonense. Não ao acaso, algumas pessoas tentam de alguma forma e, sem conhecimento de causa, salvar da extinção esse primata amazônico que teima em sobreviver em meio a um avanço selvagem de urbanização humana. Me questiono se não está na hora de domesticar essa espécie, visto que, todos os animais que foram envolvidos neste processo, estão vivos até hoje. Do contrário iremos, com certeza, vê-los em um zoológico particular na Europa. E aí será tarde demais…