
Sete toninhas (Pontoporia blainvillei) já foram encontradas mortas este ano, nas praias de Guriri e Pontal do Ipiranga, no norte do Espírito Santo. Apesar da espécie ser encontrada desde Itaúna (ES) até a Argentina, a população capixaba está isolada, o que torna as mortes ainda mais preocupantes, segundo ambientalistas. A situação já foi relatada ao Instituto Chico Mendes de Consevação da Biodiversidade (ICMBio), ao Ibama e às autoridades estaduais.
Os animais mortos estão sendo levados para o Instituto Baleia Jubarte, na Bahia, para serem examinados. Vários foram encontrados com tecidos já retirados. “Ou estão sendo capturados propositalmente ou não, mas está havendo a retirada de tecidos, das vísceras e da musculatura, aí sobram apenas ossos e pele”, detalha o diretor de Pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, o veterinário Milton Marcondes.
A retirada das vísceras, mesmo de animais mortos acidentalmente, também é preocupante porque pode criar um mercado para esses tecidos e incentivar a matança de golfinhos, segundo Marcondes. O correto é devolver o animal ao mar, se estiver vivo. Em caso de morte acidental, o pescador poderia entregá-lo às autoridades, mas muitos preferem não fazer para evitar encrenca.
Marcondes conta que a maioria das carcaças tinha marcas de rede, mas não é possível afirmar que a captura desses animais tenha sido proposital. Uma possibilidade é que os animais sejam vítimas acidentais de redes de pesca. Elas são colocadas perpendicularmente às praias, se estendendo por centenas de metros mar adentro. São puxadas em direção à areia, formando cercos onde peixes e outros animais marinhos ficam aprisionados. Sem poder respirar, eles se debatem e podem morrer devido às convulsões.
“Um animal chegou inteiro, em boa condição, e a gente conseguiu fazer uma necropsia adequada”, conta o Marcondes, que é veterinário. “Ele tinha vários hematomas e restos de peixe no esôfago, indícios de que morreu na rede mesmo”, completa.
As toninhas são golfinhos que medem aproximadamente 1,8 metros e podem pesar até 50 quilos. Elas preferem águas rasas, com até 30 metros de profundidade, perto da praia. São consideradas vulneráreis à extinção, pelos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Entre as ameaças que enfrenta, estão as redes de pescadores e, especialmente no Espírito Santo, projetos para a construção de portos, que podem alterar muito o ambiente onde vivem.
“O Espírito Santo tem mais de 20 licenciamentos de portos, muitos nem vão ser transformados em portos mesmo. Mas o litoral está sendo ocupado muito rápido”, afirma o diretor de Pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes. “Muitas vezes, na análise de impacto ambiental e no processo de licenciamento, a presença das toninhas é considerada de pouca importância ou nem sempre é considerada. Então, a gente precisa colocar a toninha no mapa do Espírito Santo”, completa.
Saiba Mais
Plano de Ação Nacional para a Conservação da Toninha
Leia Também
Proteção para a toninha não cair nas redes
Projeto Golfinho Rotador completa 21 anos
Botos do Araguaia não nadam no Amazonas
Leia também

Na Cúpula do Clima, Lula confirma entrada do Brasil na OPEP+
Sociedade civil chama de "escárnio" o anúncio, feito durante evento que busca acordo global de eliminação dos combustíveis fósseis, causadores da mudança no clima →

Entrando no Clima ep #6: Brasil na OPEP?
Para comentar as repercussões do segundo dia de COP 28, ((o))eco conversa com Claudio Angelo, do Observatório do Clima →

Fala de ministro brasileiro sobre entrada do Brasil na OPEP+ repercute mal em Dubai
Governo Lula lança fundo global para proteção das florestas e reforça compromisso do país com o plano de transição ecológica →