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Cachalote: a baleia que tem veia literária

A cachalote, maior dos cetáceos, serviu de inspiração para Moby Dick. Se no livro, o animal sobrevive; na realidade, a espécie corre risco.

Redação ((o))eco ·
8 de junho de 2014 · 10 anos atrás

Um bando de cachalotes ao largo da costa da ilha Maurícia. Foto:
Um bando de cachalotes ao largo da costa da ilha Maurícia. Foto:

A baleia cachalote (Physeter macrocephalus) é o maior dos cetáceos odontocetos: o animal pode medir até 18 metros de comprimento. Ela é amplamente distribuída nos oceanos e pode ser encontrada em quase todo o planeta, especialmente em regiões de grande profundidade. É relativamente abundante entre o Ártico e o Equador. Suas populações foram muito reduzidas em razão das intensas caçadas empreendidas por baleeiros durante os séculos 18, 19 e 20, uma redução de cerca de 67% dos números iniciais. A recuperação ocorre, mas é lenta. 

Também conhecido por cacharréu, a pele do dorso do cachalote apresenta protuberâncias que constrasta com a pele suave da maioria das baleias. A maioria tem cor cinza uniforme, mas há registros de cachalotes albinos/brancos. Por certo, eles inspiraram o escritor Herman Meville na criação da mais famosa das cachalotes, Moby Dick.

A espécie é exemplo de um acentuado dimorfismo sexual: os machos são 30% a 50% mais compridos do que as fêmeas e cerca de duas vezes mais pesados. Os indivíduos machos variam entre 14 a 18 metros, com peso de 45 a 60 toneladas, enquanto as fêmeas atingem de 12 a 14 metros e pesam entre 15 e 25 toneladas.

Outra característica marcante da cachalote é o tamanho de sua cabeça, sobretudo nos machos, que corresponde a aproximadamente um terço do seu comprimento total, que não só abriga o maior e mais pesado cérebro dentre todos os animais conhecidos, como abriga o espermacete, uma protuberância gordurosa localizada à frente e por cima do crânio da baleia. O espermacete serve de órgão para facilitar o mergulho ou de flutuação e especula-se que auxilie na ecolocalização de presas, já que o cachalote se alimenta a grandes profundidades, onde a falta de luz impede a visibilidade.

As cachalotes se aglomeram em regiões próximas das plataformas continentais, pois lá é mais fácil obter alimento. Sua dieta inclui várias espécies marinhas, como lulas, polvos e vários peixes. Estes animais passando mais e 70% de seu tempo em atividades de obtenção de alimento, e podem comer cerca de 3% do seu peso diariamente.

Diferente do personagem literário Moby Dick — criatura solitária cuja fúria era capaz de afundar navios–, é uma espécie social. As fêmeas adultas formam grupos sociais, com jovens e filhotes, distribuídos pelas águas tropicais e subtropicais. Os machos, que deixam suas famílias entre 4 e 6 anos de idade, o fazem para se associar a outros machos em águas mais frias. Ao se tornarem sexualmente ativos e fisicamente maduros, entre os 18 e 30 anos, abandonam os seus grupos de solteiros e migram periodicamente para águas tropicais em busca de fêmea.

As fêmeas atingem o estágio reprodutivo por volta dos 9 anos de idade. As fêmeas dão à luz uma vez cada quatro a seis anos, com um período de gestação de pelo menos 14 a 16 meses, podendo atingir os 18 meses. Um único filhote nasce e ele será amamentado durante um ou dois anos. Os machos mantêm-se em crescimento até cerca dos 50 anos de idade, quando atingem o seu tamanho máximo. As cachalotes podem viver cerca de 80 anos.

Historicamente, a maior ameaça às baleias cachalotes foi caça. Baleeiros buscavam o esparmacete do animal: a substância oleosa possui várias aplicações comerciais em óleos, lubrificantes, cosméticos, velas, produtos de limpeza, vitaminas e muitos compostos farmacêuticos.

Embora esta ameaça tenha sido proibida nos anos 80, a ameaça da baleação não desapareceu. Ainda hoje são vítimas da baleação científica praticada por países como Japão, em contrapartida à proteção que a espécie desfruta em quase todo o mundo. Os produtos desta prática acabam por ser vendidos em mercado aberto japonês, país em que a carne de baleia é muito apreciada. Outras ameaças humanas são as colisões com grandes embarcações, a prisão em redes de pesca, ingestão de resíduos sólidos lançados aos mar, derrames de petróleo, despejo de resíduos industriais e a poluição sonora oriunda de operações de prospecção e tráfego naval.

Apesar destas ameaças, a espécie é amplamente distribuída e está em recuperação dos anos da baleação, mesmo sendo este um processo lento. Mas o risco ainda existe e é por isto que a IUCN classifica a espécie como Vulnerável. Uma avaliação seguida pelo ICMBio uma vez que, no Brasil, informações conhecidas sobre a espécie são disponíveis a partir dos registros de avistagem e encalhes ao longo de todo o litoral.

 

 

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