A velocidade média de desmatamento no Cerrado em 2022 foi de 2.240 hectares por dia, sendo que, somente nos sete primeiros meses do ano, o bioma perdeu 472,8 mil hectares de vegetação nativa (ou 4.728 km²). A área é equivalente a quatro vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
Isto é o que revela o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), ferramenta desenvolvida por pesquisadores brasileiros, lançada nesta segunda-feira (12).
Entre 1º de janeiro e 31 de julho deste ano, o SAD Cerrado detectou mais de 50 mil alertas de desmatamento. O número de alertas foi maior entre maio e julho, período de estiagem no bioma, quando 2.912 km² do bioma foram derrubados. O número é 15% maior do que o mesmo período do ano passado, quando 2.534 km² vieram ao chão.
Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), em parceria com a rede MapBiomas e com o Lapig (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento-UFMG), o SAD Cerrado funciona por meio de inteligência artificial com uso de imagens de satélite.
“Esperamos que o SAD Cerrado seja uma ferramenta para criação de políticas públicas voltadas a compatibilizar o desenvolvimento econômico e a conservação do Cerrado, um bioma extremamente importante para a dinâmica hídrica e para a estocagem de carbono”, disse André Guimarães, diretor-executivo do IPAM, durante lançamento da plataforma.
A ideia, segundo pesquisadores da organização, é que ele complemente o sistema oficial de alertas de desmatamento do bioma, o DETER-Cerrado, criado em 2016 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
“O sistema oficial é obrigação do Estado, mas, ao mesmo tempo, a sociedade civil tem que ter seus próprios sistemas [de alerta de desmatamento]. É salutar que existam, inclusive, com metodologias diferentes e que, no fundo, funcionem como contrapeso um do outro”, disse o pesquisador Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do INPE.
A ferramenta de monitoramento lançada nesta segunda-feira revelou uma maior concentração de áreas desmatadas no Maranhão, que, com 1.247 km² desmatados, acumula 26,4% de todo o desmatamento detectado no bioma em 2022. O Tocantins apresentou a segunda maior área de alertas, 1.087 km², a maior parte na região norte do estado, em áreas de expansão do cultivo de soja.
“O que a gente percebeu é que a soja está descendo os chapadões, se implantando em áreas que não tem tanta aptidão, mas que são favorecidas pela proximidade da estrutura da produção agrícola. É importante prever essa ampliação e ter medidas específicas nos municípios da região com comunidades tradicionais. No norte do Maranhão, por exemplo, há conversão em pequenos fragmentos, territórios de quebradeiras de coco que estão sendo invadidos”, explicou Juan Doblas, pesquisador do IPAM, responsável pela ferramenta.
Entre os municípios que mais desmataram, Balsas, no Maranhão, foi o que mais desmatou, com mais de 12 mil hectares (120 km²). Em segundo lugar está o município de São Desidério, na Bahia, com 9,5 mil hectares desmatados (95 km²). A cidade baiana concentra a terceira maior produção de soja no país, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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