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Islândia anuncia suspensão da caça à baleia

Governo islandês interrompeu a prática após relatório apontar morte “lenta e dolorosa” dos animais; a temporada de caça, que começaria amanhã, seria a última realizada no país

Gabriel Tussini ·
20 de junho de 2023

O governo da Islândia decidiu suspender a temporada de caça a baleias deste ano, um dia antes de seu início. Segundo comunicado divulgado hoje (20) pelo Ministério da Alimentação, Pesca e Agricultura do país nórdico, a caça de baleias-comuns está proibida temporariamente até o dia 31 de agosto, para que seja avaliada a possibilidade de se criar “regras que garantam que a caça de baleias seja realizada de acordo com padrões mínimos obrigatórios estabelecidos na Lei de Bem-Estar Animal”. A temporada de caça vai até meados de setembro.

A decisão vem após um relatório da Autoridade de Alimentação e Veterinária da Islândia demonstrar que, durante a temporada do ano passado, mais de 40% das 148 baleias mortas sofreram um fim “lento e doloroso”, com um tempo médio de sobrevida de 11,5 minutos após serem atingidas por um arpão carregado com explosivos – chegando a até duas horas em um caso. Após a publicação, o governo reuniu um conselho de especialistas em bem-estar animal, que avaliou que a caça é realizada fora dos parâmetros legais.

A ministra da Alimentação, Pesca e Agricultura, Svandís Svavarsdóttir, do partido Movimento de Esquerda Verde, colocou em dúvida a continuidade da prática após as conclusões do relatório. “As condições da Lei de Bem-Estar Animal são obrigatórias. Essa atividade não pode continuar no futuro se as autoridades e os licenciados não podem garantir o cumprimento dos requisitos de bem-estar”, afirmou no comunicado.

Prática em declínio

As baleias são caçadas há pelo menos 900 anos na Islândia, um dos últimos três países (além da Noruega e do Japão) que ainda permitem a caça comercial. Mas, em meio a décadas de crescentes críticas de ambientalistas, a prática tem entrado em decadência e já estava prevista para acabar a partir de 2024, após o governo citar uma queda na demanda. O maior mercado consumidor da carne de baleia islandesa é o Japão, que por sua vez retomou suas próprias caçadas em 2019.

O país ainda tem uma única empresa dedicada à caça, a Hvalur, cuja licença se encerra neste ano. Segundo a Al-Jazeera, ainda há dúvidas se ela fará sua última caçada caso a suspensão não seja prorrogada ou tornada definitiva, já que restariam poucos dias de temporada.

O país, uma ilha gelada entre a Groenlândia e a Escandinávia, chegou a interromper a caça de baleias a partir de 1986, em meio a uma suspensão global dessa prática. Em 2006, porém, após 20 anos, o país retomou a prática, alegando que ela era “essencial para a economia”. Outra interrupção aconteceu em 2019, ano da retomada da prática no Japão, quando a Hvalur não conseguiu acertar acordos de venda para o país asiático e desistiu de ir ao mar. Emendada pela pandemia da COVID-19, a interrupção durou justamente até a temporada de 2022, alvo do relatório que inspirou a atual suspensão da atividade – possivelmente a última vez que ela foi realizada no país.

Ultimamente, a economia islandesa tem se beneficiado das baleias de outra forma – com o turismo. Apenas em 2019, ano sem caçadas, 364 mil turistas visitaram o país para passeios de observação dos animais. Em 2022, com a volta do fluxo de turistas, mas também da caça às baleias, integrantes do setor turístico local criticaram fortemente a prática, citando danos à imagem do país e repercussões junto a possíveis visitantes.

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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