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Mais de 60% da população das maiores cidades do país não frequenta parques, diz pesquisa

Distância é citada como entrave à visitação, mesmo em relação a parques urbanos. Custos com viagem e questões culturais também aparecem como motivo para a baixa frequência

Daniele Bragança ·
12 de março de 2020 · 4 anos atrás
Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins. Visitação de parques ainda é coisa de minoria. Foto: Adriano Melo.

Cerca de 64,5% da população de seis grandes regiões metropolitanas do país – São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Manaus e Brasília – nunca foi ou vai esporadicamente a parques, sejam eles urbanos ou naturais. Este é um dos resultados da pesquisa “Parques no Brasil Percepções da População”, divulgado nesta quinta-feira (12) pelo Instituto Semeia, organização sem fins lucrativos que fomenta parcerias para aumentar e qualificar o acesso da população a áreas naturais. Para a realização do levantamento, foram ouvidas 1.198 pessoas, entre homens e mulheres, de 16 a 70 anos, de todas as classes sociais.

Em relação aos parques naturais, 36% dos entrevistados afirmaram que nunca estiveram em um e 26%, que visitam de forma esporádica. Apenas 19% disseram visitar este tipo de parque várias vezes ao ano. Os principais motivos para a falta de visitas são: custo de viagem (47%), custo de hospedagem (29%) e distância (18%). Falta de informação sobre este tipo de parque e sobre as atividades oferecidas por eles também foram fatores citados como barreiras à visitação.

Apesar dos entraves, o fator cultural como a preferência por outros destinos – também é forte influenciador de decisões, segundo Fernando Pieroni, diretor-presidente do Instituto Semeia. “Os paulistanos preferem demorar até 12 horas para ir às praias do litoral norte do Estado sem se darem conta que passam muito próximo ao Parque Nacional do Itatiaia, o mais antigo e um dos mais importantes parques do País”, disse.

Mesmo em relação aos parques urbanos, bem mais próximos da população, os dados mostram que a baixa visitação se mantém. 67% do total de entrevistados disse que visita de forma esporádica (50%) ou nunca foi (17%) a este tipo de área. Apenas 17% disseram frequentar semanalmente parques urbanos. Também neste caso, as barreiras de distância (31%) e hábito cultural se repetem (23% disseram preferir ficar em casa e 15%, que geralmente estão muito cansados). Aliado a isso, outros fatores relacionados à gestão dos parques, como falta de segurança (17%) e banheiros e instalações ruins (10%), foram apontados como impeditivos para a visitação desses espaços.

“Este quadro mostra que os parques não estão no imaginário das pessoas, não fazem parte da rotina e do dia a dia delas […] A mensagem que tiramos é que existe um espaço grande para aumentar a visitação, se comparado a outros países. A visitação dos parques nacionais do Brasil foi de 15 milhões em 2019, enquanto nos Estados Unidos, se considerarmos a visitação a parques e monumentos naturais, esse número chega a 330 milhões de pessoas” disse Pieroni.

Concessões e parcerias

Uma das alternativas para fomentar a visitação a parques brasileiros é a concessão de serviços e parcerias com a iniciativa privada. Nos Estados Unidos, citado Fernando Pieroni como exemplo bem sucedido de visitação, os serviços em parques nacionais são, em sua maioria, terceirizados.

Sobre este tópico, a pesquisa do Instituto Semeia mostrou que a maioria dos entrevistados é favorável à alternativa – 53% em relação a parques naturais e 64% a parques urbanos. Outro ponto capturado pelo estudo é a expectativa dos respondentes em relação à adoção de concessões/parcerias nos parques. Em linhas gerais, a proporção daqueles que acreditam na melhoria desses espaços com a implementação desse modelo de gestão prevalece, tanto em parques naturais (58%) como em urbanos (66%).

Para os parques naturais, a expectativa de melhoria se concentra em atividades de limpeza (73%), iluminação (71%) e segurança (71%). Nos parques urbanos, as pessoas entrevistadas disseram esperar melhores condições de iluminação (78%); limpeza (77%); equipamentos de lazer (75%); e banheiros (75%). “Temos visto no Brasil um número crescente de programas de parcerias em parques. Entender os hábitos e os anseios da população são fundamentais para modelar bons projetos”, avalia Pieroni.

De acordo com o Mapa das Parcerias do Instituto Semeia, há atualmente no Brasil 102 parques sendo considerados para concessão, em projetos conduzidos por governos nos três níveis da federação – alguns ainda na fase de estudos e planejamento pelas entidades responsáveis, outros em licitação ou em via de assinar contratos com a iniciativa privada.

 

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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Comentários 1

  1. Cristiano diz:

    Olá , gostei da matéria e utilizei os dados da pesquisa como fonte para um trabalho de Estatística. Mantive os créditos. Se houver algum problema me avisem que apago, e busco outra fonte. Att. Cristiano.