Notícias

Organizações denunciam tramitação antidemocrática de PL que flexibiliza Lei do Pantanal em MT

Mais de 40 entidades apontam que o projeto possui vício na tramitação e não escutou comunidades tradicionais afetadas. Proposta deve ser votada nesta quarta-feira (29)

Michael Esquer ·
28 de junho de 2022 · 2 anos atrás

Organizações da sociedade civil e representantes de comunidades tradicionais pantaneiras publicaram, nesta terça-feira (28), uma carta aberta contrária à aprovação do PL nº 561/2022, que propõe uma série de alterações na Lei nº 8.830/2008, também conhecida como a Lei do Pantanal. Entre as mudanças estão, por exemplo, a permissão para pecuária extensiva em áreas protegidas do bioma, para atividades que não tenham necessidade de elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) e para obras de empreendimento e infraestrutura.  

Para as entidades, o PL desrespeita a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ao não realizar audiência pública e consulta prévia às comunidades possivelmente impactadas. Conforme as organizações que assinam o texto, a proposta tem sido conduzida levando em consideração apenas um lado, o de agropecuaristas e empresários do turismo. “Se tratando de um projeto dessa envergadura, se faz necessária a participação das comunidades que serão impactadas por ele, como as comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas que vivem no Pantanal e que da sua biodiversidade dependem”, disse ao ((o))eco Edilene Fernandes do Amaral, consultora jurídica e de articulação do Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT), uma das organizações que assinam a carta. 

O PL nº 561/2022 foi apensado, no dia 14 deste mês, ao PL nº 03/2022, que também pretende alterar trechos da Lei do Pantanal. As propostas são de autoria de lideranças partidárias e da Comissão de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Minerais da ALMT. Conforme Amaral, o PL apresenta vício na tramitação, uma vez que, ao ter sido apensado, o PL nº 561/2022 seguiu direto para votação em plenário. Ela explica que sem este recurso, o documento ainda teria mais alguns passos em sua tramitação, onde poderia ser discutido com maior profundidade. 

“Além do vício […], as entidades que assinam a carta aberta […] pedem estudos científicos mais aprofundados, haja visto que o estudo da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], contratado pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso [ALMT], apontou ressalvas e possíveis danos, mas isso não foi levado em conta pelas lideranças partidárias que apresentaram a proposta”, explica a consultora.

Além disso, as organizações também reclamam que, por conta da celeridade de tramitação, outras discussões sobre as recomendações do estudo técnico da Embrapa – fruto de um termo de cooperação técnica firmado entre a ALMT, Embrapa e Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) – não puderam ser feitas, como por exemplo, os possíveis danos e afetação climática. “Recomendações relevantes para a proteção do bioma não estão contempladas na proposição em tramitação. Vale salientar ainda que as recomendações devem considerar um cenário de mudança do clima, que já impacta o Pantanal”, diz trecho da carta. 

Além do Observa-MT, também assinam a carta o Observatório do Pantanal, organização que reúne 43 instituições socioambientais que atuam no âmbito da Bacia do Alto Paraguai (BAP), tanto no Brasil quanto na Bolívia e no Paraguai, e outras entidades. Leia a carta na íntegra

Sobre a votação

Prevista para a última quarta-feira (22) na ALMT, a votação do Projeto de lei (PL) nº 3/2022 foi adiada após pedido de vista conjunta dos deputados estaduais Lúdio Cabral (PT-MT) e Valdir Barranco (PT-MT). Na sessão ordinária, Lúdio disse que o PL não seguia as recomendações apontadas no estudo técnico realizado pela Embrapa e, por isso, a votação foi adiada. A pauta, entretanto, pode ser retomada já nesta quarta-feira (29). O documento citado pelo deputado analisou as normativas sobre os impactos do manejo em áreas restritas e da formação de pastagens no Pantanal mato-grossense, tendo como objetivo subsidiar as atualizações propostas pelo PL à Lei do Pantanal.

  • Michael Esquer

    Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com passagem pela Universidade Distrital Francisco José de Caldas, na Colômbia, tem interesse na temática socioambiental e direitos humanos

Leia também

Salada Verde
22 de junho de 2022

Votação do projeto que flexibiliza proteção no Pantanal é adiada após pedido de vista

Parlamentares disseram que o PL, que altera Lei do Pantanal, não segue recomendações da Embrapa. Votação pode ser retomada na próxima semana

Notícias
21 de junho de 2022

Projeto que flexibiliza proteção no Pantanal pode ser votado nesta quarta

A proposta, que altera a Lei do Pantanal e libera obras de infraestrutura e pecuária extensiva em áreas protegidas no bioma, foi incluída na pauta da Assembleia Legislativa do Mato Grosso

Notícias
8 de junho de 2022

MT quer liberar pecuária extensiva em áreas protegidas no Pantanal

Projeto de lei muda atual norma e autoriza a realização da atividade nas áreas de preservação permanente e reserva legal do bioma

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. Davilson Brasileiro diz:

    Não é possível, esse nível de barbárie criminosa contra um Bioma único, considerado um patrimônio da humanidade. Quem conhece o Pantanal tem absoluta certeza de que toda aquela região deve ser preservada como ainda está, para evitar sua degradação completa, que já é sentida na presença de agrotóxicos nas águas dos rios, e na quantidade, tamanho e qualidade dos peixes. O Pantanal é um dos últimos refúgios para a vida natural e selvagem dos Estados do MT e MS, aves, repteis e animais estão sendo expulsos pelo agronegócio e só contam com aquela região para se abrigarem e reproduzirem. A grande maioria dos brasileiros não conhecem o Pantanal, mas os estrangeiros que pagam fortunas para conhece-lo são unânimes em classifica-lo como uma das regiões de vida selvagem, mais maravilhosas do planeta!