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PGR pede que Supremo derrube lei em Mato Grosso que limita criação de áreas protegidas

Mudança na lei prevê que só poderão ser criadas novas unidades de conservação no estado após regularização fundiária de 80% das já existentes

Cristiane Prizibisczki ·
3 de julho de 2025

A Procuradoria Geral da República (PGR) entrou, na última segunda-feira (30), com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar uma mudança na Constituição de Mato Grosso que limita a criação de novas áreas protegidas do estado. 

A norma – Emenda à Constituição 119/2024 –, de autoria do governador Mauro Mendes (União Brasil – MT), prevê que a criação de novas áreas protegidas só poderá ocorrer após a regularização fundiária de 80% das unidades de conservação já criadas em Mato Grosso, e somente se houver garantia que o governo tenha dotação orçamentária para indenização de propriedades sobrepostas.

Além disso, a mudança aumenta de dois para 10 anos o prazo que o Estado tem para a implementação das UCs já existentes. Pela nova regra, o governo estadual também fica autorizado a receber recursos, por meio de doações, para a criação de unidades de conservação de uso público.

A mudança foi aprovada pela Assembleia Legislativa em dezembro de 2024 e publicada no Diário Oficial do Estado no dia 20 daquele mês.

Segundo a PGR, as mudanças invadem a competência da União para legislar sobre proteção ambiental, bem como violam o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e os princípios da prevenção, ao impor restrições não previstas na legislação federal.

A petição argumenta que, segundo a legislação federal, a criação de unidades de conservação exige apenas estudo técnico e consulta pública, sem condicionar o processo à prévia regularização fundiária ou à existência de dotação orçamentária para indenizações.

“Os requisitos adicionais para a criação de unidade de conservação não encontram previsão na legislação federal de regência sobre a matéria”, diz a PGR na Ação de Inconstitucionalidade (ADI).

A Procuradoria Geral da República lembra, inclusive, que o STF já reconheceu como inconstitucionais outras normas que promoveram a diminuição de áreas especialmente protegidas, como as unidades de conservação.

Segundo o site Olhar Jurídico, no âmbito estadual, a oposição ao Governo já havia movido ação contra a Emenda. Em fevereiro, o Partido dos Trabalhadores (PT) acionou o Tribunal de Justiça de Mato Grosso, pedindo a derrubada da norma, alegando prejuízos ambientais ao estado, bem como retrocesso para privilegiar interesses particulares.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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