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Sônia Guajajara comandará o Ministério dos Povos Originários

A nova pasta irá aglutinar as principais reivindicações e soluções para os 305 povos indígenas brasileiros na conservação de seus modos de vida e territórios

Débora Pinto ·
29 de dezembro de 2022 · 1 anos atrás

A ativista indígena, ex-coordenadora executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e deputada federal eleita Sônia Guajajara (Psol) será a primeira indígena a estar à frente do recém criado Ministério dos Povos Originários. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (29). Lula também anunciou que a Fundação Nacional do ìndio (FUNAI) e a Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI) estarão sob o comando de representantes dos povos indígenas a partir de 2023.

Guajajara foi escolhida pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2022, na categoria Pioneiros, pelo seu trabalho em defesa dos povos indígenas e de seus territórios. Nascida na Terra Indígena Araribóia, no interior do Maranhão, desenvolveu seu ativismo desde a juventude, diante das dificuldades enfrentadas na defesa de seu território de origem.

A nova ministra formou-se em Letras e Enfermagem pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e concluiu uma pós-graduação em Educação Especial. Em 2003, passou a estar à frente da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima) e, em 2009, foi eleita vice-coordenadora da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Em 2013, assumiu o seu lugar de liderança na Apib.

“Me sinto muito honrada e feliz com essa nomeação. Mais do que uma conquista pessoal, esta é uma conquista coletiva dos povos indígenas do Brasil, um marco na nossa história de luta e resistência. A criação do Ministério dos Povos Indígenas é a confirmação do compromisso que o presidente Lula assume conosco, garantindo a nós autonomia e espaço para tomar decisões sobre nossos territórios, nossos corpos e nossos modos de viver”, declarou Sônia.

Em entrevista exclusiva ao ((o))eco, Sônia explicou a importância da coletividade na consolidação de seu papel de liderança e enfatizou a importância de um tratamento amplo às necessidades indígenas além de um único Ministério. “Nós queremos discutir com um provável governo Lula a participação indígena em todas as áreas. Desejamos estar presentes na construção da política cultural, de educação,  de saúde, no Ministério da Justiça e, é claro, no Ministério do Meio Ambiente”, afirmou.

O Ministério dos Povos Originários terá o grande desafio de aglutinar políticas voltadas aos 305 povos indígenas brasileiros, assim como a defesa de seus territórios. O Grupo de Trabalho da transição já solicitou a demarcação de 13 Terras Indígenas que não contam com nenhum entrave legal.

Garimpo e visto na região do rio Couto de Magalhães, na Terra Indígena Yanomami. Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real.

Construção coletiva

A nomeação de Sônia Guajajara para o Ministério dos Povos Indígenas é resultado da lista tríplice da Apib para assumir o comando da pasta. Com o objetivo de assegurar a autodeterminação dos povos e a garantia de condições de vida, saúde e educação para os povos originários, no dia 12 de dezembro a Apib publicou a carta aberta “Nossa União para reconstruir o Brasil indígena”.

Apresentada para Lula, a carta possuía três indicações para o Ministério: Joenia Wapichana, deputada federal por Roraima e primeira mulher indígena a ocupar o cargo; Weibe Tapeba, liderança com vasta participação nas políticas indígenas e vereador de segundo mandato na cidade de Caucaia (CE); e Sônia Guajajara.

Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib, reforça que a criação do Ministério dos Povos Indígenas ocorreu de forma gradativa e que os nomes indicados na lista tríplice foram escolhidos de forma democrática.

“Precisamos nos manter unidos. Sabemos o quanto foi sofrido nesses quatros anos com Bolsonaro, mas a luta continua e juntos seremos ainda mais fortes na reconstrução do Brasil indígena”, afirma Tuxá.

  • Débora Pinto

    Jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, atua há vinte anos na produção e pesquisa de conteúdo colaborando e coordenando projetos digitais, em mídias impressas e na pesquisa audiovisual

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Comentários 1

  1. wilson candido ferreira diz:

    Vi no Instagram uma foto estarrecedora centenas de cestas básicas .uma unidade do Exército Brasileiro que destinava aos índios Yanomami e estão armazenadas nesta unidade do exército é necessário apurar se é procedente e por que não foi entregue aos indígenas que estão em estado de penúria.