Quem gosta de meio ambiente foi presenteado com bastante antecedência neste Natal. Para comemorar os 15 anos do Globo Ecologia, o primeiro programa dedicado ao assunto que realmente vingou na TV brasileira, as séries de maior audiência começaram a ser reprisadas no dia 3 deste mês. A colher de chá dura até fevereiro.
Nos próximos meses, quem já está de pé às 7h15 da manhã de sábado poderá conferir na Rede Globo programas dedicados ao mico-leão dourado, a personagens como o marechal Cândido Rondon e Orlando Villas-Bôas, e uma série sobre os Estados Unidos. Quem não é de cair da cama, pode ligar a televisão, no mesmo dia, às 10h05 na Globonews, às 13h na TVE ou às 21h no Canal Futura.
O Globo Ecologia foi idealizado pelo jornalista Cláudio Savaget (foto acima). Ele foi contratado pela Globo em 1978 para trabalhar nos telejornais, mas três anos depois conseguiu casar a sua carreira na empresa com o assunto que mais lhe interessava: meio ambiente. Ao cobrir o surgimento dos primeiros projetos de preservação no Brasil, como o Tamar e o Peixe-Boi, teve a idéia de produzir documentários de média metragem sobre educação ambiental. Além de uma série de reportagens para televisão e mídia impressa. Em parceria com a Fundação Roberto Marinho, divulgou o material de graça em escolas e universidades e a iniciativa ficou conhecida oficialmente como Projeto Ecologia.
“O movimento ambiental no Brasil começou a decolar em 1981. Nessa época, me aproximei da Fundação Roberto Marinho e trouxe para eles esta proposta. Como tinha financiamento, me preocupava apenas em distribuir os documentários e as matérias”, conta Savaget. O projeto foi premiado por três anos consecutivos.
Em 1984, Cláudio Savaget foi para o Globo Repórter, onde sugeriu os primeiros temas ambientais abordados pelo programa. Um assunto corrente era a valorização dos parques nacionais, que começavam a se proliferar. “O Boni não se convencia tão facilmente. Sempre repetia que lá vinha eu com aquele papo de bichinhos, quando tinha tanta gente morrendo de fome”, revela o jornalista.
Produção independente
Foi de Savaget a idéia de criar um programa que tratasse exclusivamente de ecologia, em 1988. Dois anos depois, com patrocínio do Ibama, o Globo Ecologia foi ao ar em 4 de novembro, num domingo de manhã. O primeiro formato já tinha 20 minutos de duração e trazia notícias ambientais e iniciativas positivas, dicas de preservação e até imagens realizadas pelos próprios telespectadores. A responsabilidade pela produção era toda de Savaget, como é até hoje, por meio de sua produtora Raiz Savaget.
O patrocínio do Ibama durou dez programas. Depois, foi a vez da ong WWF adotar a atração durante cinco episódios. A partir de então, a produção da Raiz Savaget foi bancada pela própria Globo.
A partir do quinto ano, o programa passou para sábado e os episódios se tornaram monotemáticos. “Gastávamos muito tempo e dinheiro para apresentar algo multifacetado”, diz Savaget. Surgiram então as grandes séries, uma tentativa de aprofundar os temas e atrair audiência. A idéia deu certo e o programa viajou por todos os estados brasileiros, América Latina, Estados Unidos e vários países da África.
O Globo Ecologia também passou a apresentar ao público pessoas que trabalhavam de alguma forma com a natureza. Foram seus convidados a atual ministra Marina Silva, ainda em 1994, o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro e o artista plástico Frans Krajcberg. “Dessa forma, conseguíamos manter uma visão abrangente dos temas ambientais”, explica Savaget.
Usar quase todo o elenco da novela das oito como apresentadores também foi uma maneira encontrada de atrair audiência ao longo dos anos. E a união de jornalismo com aventura, como sugere o formato do programa, firmou-se como opção para abordar a questão ambiental, com histórias de preservação e denúncias.
“Não é possível manter um programa desses por 15 anos sem usar certos artifícios”, revela Savaget. “Buscamos aliar meio ambiente até com poesia”. A proposta deu certo. Hoje, o Globo Ecologia tem cerca de 6,5 milhões de telespectadores, com média de 3 a 4 pontos no Ibope, apesar do horário ingrato. O programa já ganhou 18 prêmios.
Leia também

As águas que sustentam o Brasil
Por que um novo projeto de lei propõe o Sistema Nacional de Rios de Proteção Permanente para garantir segurança hídrica, energética e alimentar →

Entrando no Clima #44 – Petróleo, o elefante na antesala da COP30
Suely Araujo, ex-presidente do Ibama e coordenadora de Políticas Públicas do OC, traz detalhes dos planos brasileiros de exploração de petróleo →

A educação ambiental para além das escolas
Planeta A aborda a história da educação ambiental no mundo, sua importância nos dias de hoje e formas ampliadas de enxergar a vivência em sociedade →