Reportagens

Festa merecida

Globo Ecologia, iniciativa pioneira na TV, completa 15 anos reprisando suas melhores séries. O programa foi concebido e é dirigido até hoje por Cláudio Savaget.

Juliana Tinoco ·
8 de dezembro de 2005 · 19 anos atrás

Quem gosta de meio ambiente foi presenteado com bastante antecedência neste Natal. Para comemorar os 15 anos do Globo Ecologia, o primeiro programa dedicado ao assunto que realmente vingou na TV brasileira, as séries de maior audiência começaram a ser reprisadas no dia 3 deste mês. A colher de chá dura até fevereiro.

Nos próximos meses, quem já está de pé às 7h15 da manhã de sábado poderá conferir na Rede Globo programas dedicados ao mico-leão dourado, a personagens como o marechal Cândido Rondon e Orlando Villas-Bôas, e uma série sobre os Estados Unidos. Quem não é de cair da cama, pode ligar a televisão, no mesmo dia, às 10h05 na Globonews, às 13h na TVE ou às 21h no Canal Futura.

O Globo Ecologia foi idealizado pelo jornalista Cláudio Savaget (foto acima). Ele foi contratado pela Globo em 1978 para trabalhar nos telejornais, mas três anos depois conseguiu casar a sua carreira na empresa com o assunto que mais lhe interessava: meio ambiente. Ao cobrir o surgimento dos primeiros projetos de preservação no Brasil, como o Tamar e o Peixe-Boi, teve a idéia de produzir documentários de média metragem sobre educação ambiental. Além de uma série de reportagens para televisão e mídia impressa. Em parceria com a Fundação Roberto Marinho, divulgou o material de graça em escolas e universidades e a iniciativa ficou conhecida oficialmente como Projeto Ecologia.

“O movimento ambiental no Brasil começou a decolar em 1981. Nessa época, me aproximei da Fundação Roberto Marinho e trouxe para eles esta proposta. Como tinha financiamento, me preocupava apenas em distribuir os documentários e as matérias”, conta Savaget. O projeto foi premiado por três anos consecutivos.

Em 1984, Cláudio Savaget foi para o Globo Repórter, onde sugeriu os primeiros temas ambientais abordados pelo programa. Um assunto corrente era a valorização dos parques nacionais, que começavam a se proliferar. “O Boni não se convencia tão facilmente. Sempre repetia que lá vinha eu com aquele papo de bichinhos, quando tinha tanta gente morrendo de fome”, revela o jornalista.

Produção independente

Foi de Savaget a idéia de criar um programa que tratasse exclusivamente de ecologia, em 1988. Dois anos depois, com patrocínio do Ibama, o Globo Ecologia foi ao ar em 4 de novembro, num domingo de manhã. O primeiro formato já tinha 20 minutos de duração e trazia notícias ambientais e iniciativas positivas, dicas de preservação e até imagens realizadas pelos próprios telespectadores. A responsabilidade pela produção era toda de Savaget, como é até hoje, por meio de sua produtora Raiz Savaget.

O patrocínio do Ibama durou dez programas. Depois, foi a vez da ong WWF adotar a atração durante cinco episódios. A partir de então, a produção da Raiz Savaget foi bancada pela própria Globo.

A partir do quinto ano, o programa passou para sábado e os episódios se tornaram monotemáticos. “Gastávamos muito tempo e dinheiro para apresentar algo multifacetado”, diz Savaget. Surgiram então as grandes séries, uma tentativa de aprofundar os temas e atrair audiência. A idéia deu certo e o programa viajou por todos os estados brasileiros, América Latina, Estados Unidos e vários países da África.

O Globo Ecologia também passou a apresentar ao público pessoas que trabalhavam de alguma forma com a natureza. Foram seus convidados a atual ministra Marina Silva, ainda em 1994, o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro e o artista plástico Frans Krajcberg. “Dessa forma, conseguíamos manter uma visão abrangente dos temas ambientais”, explica Savaget.

Usar quase todo o elenco da novela das oito como apresentadores também foi uma maneira encontrada de atrair audiência ao longo dos anos. E a união de jornalismo com aventura, como sugere o formato do programa, firmou-se como opção para abordar a questão ambiental, com histórias de preservação e denúncias.

“Não é possível manter um programa desses por 15 anos sem usar certos artifícios”, revela Savaget. “Buscamos aliar meio ambiente até com poesia”. A proposta deu certo. Hoje, o Globo Ecologia tem cerca de 6,5 milhões de telespectadores, com média de 3 a 4 pontos no Ibope, apesar do horário ingrato. O programa já ganhou 18 prêmios.

  • Juliana Tinoco

    Juliana Tinoco é jornalista multimídia especializada na cobertura de Meio Ambiente, Ciência e Direitos Humanos. Por quinze an...

Leia também

Reportagens
14 de maio de 2025

Ao menos 6 milhões de cabeças de gado no Pará estão irregulares entre indiretos

Números são do 2º ciclo unificado de auditorias do MPF. Transparência aumentou entre frigoríficos instalados na Amazônia, mas ainda existem gargalos

Notícias
14 de maio de 2025

Cientistas descobrem espécie de peixe que vive solitária na Amazônia

População de peixe-anual foi encontrada numa única poça temporária próxima do Rio Madeira, no estado do Amazonas e pode estar sob grave risco de extinção

Salada Verde
14 de maio de 2025

Evento no RJ discute protagonismo da juventude no enfrentamento da crise climática

IV Fórum Terra 2030 reúne jovens lideranças, especialistas e organizações para debater soluções sustentáveis e colaborativas no contexto da Agenda 2030

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.