No final de novembro, o filhotão de tartaruga-cabeçuda que você vê aí em cima, medindo 18cm e pesando 750g, apareceu entre as vizinhas praias de Tramandaí e Imbé, a cerca de 120km de Porto Alegre. Em sua fase adulta, a espécie atinge 150kg e chega a um metro e meio. “Essas tartarugas desovam nas praias entre os meses de setembro e março, do Maranhão ao Rio de Janeiro. Aqui não há desovas. Elas só aparecem adultas para se alimentar”, explica Márcio Borges Martins, biólogo do Museu de Ciências Naturais do Rio Grande do Sul.
A incidência de filhotes no estado pode ajudar a desvendar mistérios sobre as rotas migratórias e esclarecer detalhes sobre seu ciclo de vida. Segundo o biólogo, a expressão “ano perdido” não é exata. “Às vezes elas podem ficar uma década no oceano, sem se aproximarem da praia”.
Novas pesquisas
Márcio Martins também fez contato com pesquisadores do Projeto Tamar, do Ibama, que devem visitar o Rio Grande do Sul para um trabalho conjunto com instituições do estado. Desde 1994, Márcio Martins faz parte de uma equipe que pesquisa as tartarugas, em parceria com a PUC, o Ceclimar e a ONG Gemars, monitorando praticamente toda a costa gaúcha, de Torres a Mostardas.
O Projeto Tamar foi criado pelo Ibama em 1980, para a proteção das tartarugas marinhas, já acompanhou o desenvolvimento e soltou 7 milhões de filhotes no mar. Tem 21 bases no país. A mais recente foi criada em abril deste ano, em Florianópolis, estado onde, como o Rio Grande do Sul, não ocorre reprodução mas é importante para a alimentação desses animais. No Brasil, vivem cinco das sete espécies de tartarugas marinhas existentes no mundo.
Sue Nakashima explica que a espécie do filhote encontrado em novembro é conhecida como cabeçuda porque elas têm o crânio grande e a mandíbula forte para quebrar carapaças de suas presas. Alimentam-se de moluscos, crustáceos e peixes. A cabeçuda está classificada internacionalmente como em perigo de extinção. As tartarugas fêmeas levam de 15 a 30 anos para estarem prontas para reprodução.
Todas as tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil estão protegidas por leis federais e acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário. As cinco espécies que aparecem no Rio Grande do Sul estão incluídas na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção. A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), a cabeçuda e a tartaruga-verde (Chelonia mydas) são mais freqüentes no estado. A tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) são mais raras.
Segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul (Editora PUC 2003), devido ao comportamento migratório desses animais em oceanos de todo o mundo, “é difícil avaliar criteriosamente a magnitude das ameaças à sua sobrevivência em escala regional”. O livro cita a carência de informações históricas e recentes sobre as populações dessas espécies e de estimativas sobre mortalidade relacionada à pesca, especialmente em áreas de alimentação do sul do Brasil.
* Cristina Ávila é jornalista freelancer em Porto Alegre.
Leia também
Em reabertura de conselho indigenista, Lula assina homologação de duas terras indígenas
Foram oficializadas as TIs Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT); representantes indígenas criticam falta de outras 4 terras prontas para homologação, e Lula prega cautela →
Levantamento revela que anta não está extinta na Caatinga
Espécie não era avistada no bioma havia pelo menos 30 anos. Descoberta vai subsidiar mudanças na avaliação do status de conservação do animal →
Lagoa Misteriosa vira RPPN em Mato Grosso do Sul
ICMBio oficializou a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural Lagoa Misteriosa, destino turístico em Jardim, Mato Grosso do Sul →