Reportagens

Devagar e sempre

Entre agosto e outubro desmatamento no Pará cresce apenas 4% em relação a 2006. Apesar da discreta elevação, pesquisa revela que derrubadas ainda estão em patamares altos.

Andreia Fanzeres ·
2 de dezembro de 2007 · 16 anos atrás

Nesta segunda-feira, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou seu segundo boletim sobre desmatamento no estado do Pará, de acordo com os registros do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). O primeiro deles analisou o desmatamento ocorrido em agosto de 2007, o que permitiu aos pesquisadores concluir que, entre aquele mês e outubro, 765 quilômetros quadrados de florestas foram para o chão. Isso significa um discreto aumento de 4% em relação aos mesmos meses do ano passado. Só em setembro, foram 468 quilômetros quadrados derrubados, e em outubro mais 102 quilômetros quadrados.

A comparação de um mês com o outro este ano chama atenção, mas de acordo com Adalberto Veríssimo, um dos autores do estudo, não é o que mais importa nas análises. Dados do SAD mostram que houve um aumento de 140% em setembro em relação ao mês de agosto, mas, em seguida, uma queda de 78% no desmatamento em outubro em relação a setembro. Segundo Veríssimo essa disparidade reflete a sazonalidade do desmatamento. “No Pará, os meses de alta correspondem ao período entre maio e setembro. Em outubro já começa a baixa estação no desmatamento, pois se iniciam as chuvas”, explica Veríssimo. Para ele, o mais importante é comparar o que aconteceu em um ano em relação ao anterior, especialmente quando em 2006 o Pará foi o estado que mais desmatou na Amazônia, desbancando até Mato Grosso. “O desmatamento no Pará mantém-se em uma tendência de alta, lembrando que isso ocorre também num patamar relativamente alto”, completa o pesquisador.

No mês de setembro, o que preocupou foi a taxa de desmatamento dentro de áreas protegidas no Pará. Ela chegou a 18,4% do total nas unidades de conservação e 2,4% nas terras indígenas, com destaque para os territórios mais afetados: Apyterewa e Mankaragnoti. Entre as unidades de conservação, a Área de Proteção Ambiental estadual Triunfo do Xingu foi a que mais perdeu florestas, com menos 72 quilômetros quadrados, seguida pela Floresta Nacional de Jamanxim, área federal, que teve subtraídos 5,1 quilômetros quadrados. A diferença entre a primeira e a segunda é gritante. Em números absolutos, foram 97,8 quilômetros quadrados derrubados ilegalmente nas áreas protegidas paraenses. Os assentamentos de reforma agrária foram responsáveis por 5,5% de todo desmatamento registrado naquele mês, sendo que as áreas que mais contribuíram com desmatamento no Pará foram Terra Nossa e Esperança, curiosamente dois dos “Projetos de Desenvolvimento Sustentável” que o Incra cria sob o pretexto de já nascerem respeitando o meio ambiente.

Assim como no mês anterior, em outubro a maior parte das derrubadas seguiram o padrão de ocorrerem dentro de áreas privadas, ou em algum estágio de posse. Mas a contribuição dos assentamentos cresceu para 11,3% do total, enquanto os desmatamentos ilegais dentro de unidades de conservação diminuíram para apenas 2,7% de todo restante. Mesmo assim, a Floresta Nacional de Jamanxim não conseguiu abandonar o ranking entre as unidades de conservação mais desmatadas, e teve registrados 2,2 quilômetros quadrados, dos 2,8 quilômetros quadrados derrubados nesta categoria. O SAD não detectou nenhuma derrubada dentro de terras indígenas em outubro no Pará.

Entre os municípios que mais desmataram em setembro, os pesquisadores destacam o desempenho de São Felix do Xingu, Cumaru do Norte e Altamira, seguida por Marabá e Novo Progresso. No mês seguinte, Cumaru do Norte pulou para a primeira posição, São Felix do Xingu caiu para a segunda e Santana do Araguaia apareceu em terceiro lugar.

Desempenho anterior

A exemplo do que acontece para Mato Grosso desde 2006, o Imazon começou a divulgar boletins sobre desmatamento no estado do Pará a partir do segundo semestre deste ano. Com imagens fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os pesquisadores concluíram que em agosto de 2007 naquele mês o estado derrubou 19 mil hectares de florestas, o que significou uma redução de 54% em sua taxa de desmatamento se comparada ao mesmo período anterior.

Apesar de um pouco animadores, esses dados revelam que a taxa de ilegalidade nos desmatamentos do Pará ainda é alta. As queimadas também preocuparam, pois aumentaram em 15% em relação a agosto de 2006. Como era esperado, a maior parte do desmatamento naquele mês ocorreu nas áreas mais próximas ao eixo da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), afetando áreas protegidas na região. A contribuição do desmate dentro de assentamentos de reforma agrária foi de 3% somente.

No acumulado de agosto de 2006 até julho de 2007, o SAD detectou 172 mil hectares de florestas derrubados no Pará, sendo 73% dele em áreas privadas ou em algum estágio de posse. O desmatamento em unidades de conservação foi considerado alto, atingindo 21% do total. Terras indígenas e assentamentos de reforma agrária contribuíram com 3% do desmate, em cada categoria.

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

Leia também

Notícias
3 de maio de 2024

Eletrobras contraria plano energético e retoma projetos para erguer megausinas no Tapajós

Há oito anos, as usinas do Tapajós estão fora do Plano Decenal de Energia, devido à sua inviabilidade ambiental. Efeitos danosos são inquestionáveis, diz especialista

Reportagens
3 de maio de 2024

Obra para desafogar trânsito em Belém na COP30 vai rasgar parque municipal

Com 44 hectares, o Parque Ecológico Gunnar Vingren será cortado ao meio para obras de mobilidade. Poderes estadual e municipal não entram em acordo sobre projeto

Salada Verde
3 de maio de 2024

Governo do RJ recebe documento com recomendações para enfrentamento ao lixo no mar

Redigido pela Rede Oceano Limpo, o documento foi entregue durante cerimônia no RJ. O plano contém diretrizes para prevenir, monitorar e conter o despejo de lixo nos oceanos.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.