Reportagens

Baby-boom de focas

Na Alemanha, ambientalistas comemoram uma explosão de nascimentos que marca a volta das focas cinza. Leis rigorosas e a criação de um parque nacional explicam a novidade.

Cristiane Ramalho ·
17 de abril de 2008 · 16 anos atrás


A novidade confirma que as focas cinzas estão de volta ao pedaço. Em apenas dois anos, o número de bebês dobrou.

O novo baby-boom pode ser explicado por uma legislação ambiental rigorosa – adotada pela Alemanha nos anos 70 – que passou a proteger essas espécies. Desde 1974, por exemplo, está proibida a caça de qualquer espécie de foca na Alemanha.

Foi preciso, no entanto, esperar dez anos para festejar a chegada das primeiras focas cinzas adultas com coragem de botar o nariz novamente na ilha de Helgoland. E mais uns cinco anos até ver o primeiro bebê dar o ar de sua graça.


As fêmeas podem ser mães a partir dos três ou quatro anos de vida. Já os machos, só a partir dos oito ou dez anos.

Pelas estimativas de Rolf Blädel, um dos responsáveis pela proteção ambiental em Helgoland, nas próximas duas ou três fornadas, deverá nascer uma centena de foquinhas.

Blädel explica que, desde 1981, as águas até três milhas náuticas ao redor de Helgoland têm status de Parque Nacional – chamado de Naturschutzgebiet Helgoländer Felssockel. “Qualquer um que seja pego desafiando a lei dentro dos limites do parque é obrigado a pagar multas pesadíssimas, que podem chegar a 10 mil euros”, estima Blädel.


Foi assim que Blädel viu o nascimento de Emma, a primeira foquinha cinza a sobreviver da leva de novos partos: “Os primeiros nascimentos aconteceram em outubro de 2007, mas as foquinhas não sobreviveram porque nasceram prematuras. No dia 12 de novembro, Emma veio ao mundo. Pesava quase dez quilos, e eu a deixei ‘voar’ ao continente. Ela foi para a estação de focas de Frikedrichskoog e sobreviveu”.

Com a ajuda do leite materno, que apresenta mais de 60% de gordura, os bebês ganham cerca de dois quilos por dia. Depois de três a quatro semanas de vida, já perderam a pele branca e são desmamados – precisam descobrir como prosseguir sozinhos.


O vigilante conhece bem a região. De 1979 até 2006 atuou como chefe da polícia náutica que patrulhava as águas ao redor da ilha. “Na costa da Alemanha, há barcos da alfândega e de controle da pesca ilegal. Todos estão à procura de pescadores e dessa forma ostensiva conseguem mantê-los longe de toda a área”, explica.

Navegar dentro dos limites do parque nacional só é permitido aos que vivem em Helgoland – e é obrigatório que o barco seja licenciado no próprio porto local. Bem em frente da ilha, a apenas cinco minutos de barco, ficam as praias de Dune – ilhota disputada não só pelas focas cinzas, mas também por leões-marinho e por inúmeras espécies de pássaros.

A bióloga Tanja conta que Dune se tornou especialmente atraente nos últimos anos por conta das condições desfavoráveis perto da ilha de Sylt (no estado de Schlewig-Holstein), onde as focas também gostam de dar à luz. “Tivemos várias tempestades na região, então as fêmeas procuraram lugares melhores, como as praias de Dune”. Nas colônias nas praias do Mar do Norte e no Mar Báltico, as focas cinzas coexistem pacificamente com as focas ‘harbor’ – a outra espécie da Alemanha.


Depois de permanecerem por séculos longe das praias continentais da Europa – além do perigo da caça, havia a ameaça dos pescadores, que as consideravam concorrentes na busca dos peixes mais procurados – as focas encontram agora um porto seguro em Helgoland.

Mesma sorte não têm as que freqüentam as águas mais ao norte. Segundo Rolf Blädel, na Escandinávia elas ainda são caçadas para serem dadas como alimento aos cães que puxam trenós. “Na Alemanha, nossos pescadores precisam – alguns ainda rangendo os dentes – aceitar e conviver com elas.”, diz o vigilante.

Links sugeridos:
Site da estação das focas da Tanja
Site oficial da ilha – turístico, em inglês

Cristiane Ramalho é jornalista em Berlim

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