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A empresa chegou em Santana em 83. Em 95, aconteceu a primeira mortandade de peixes. De lá para cá, o fato já se repetiu mais três vezes, a mais recente em 14 de janeiro deste ano conforme relato dos próprios moradores. “A água tem odor forte, a população cava poço para beber água, mas o lençol freático está contaminado, as pessoas comem ou já comeram peixes do Igarapé do Corrêa e também devem estar contaminadas. O desastre é maior, porque este mesmo igarapé desemboca suas águas no rio Amazonas através do rio Matapi”, afirma Mário Ricardo Nascimento de Oliveira, presidente da Associação de Moradores da Vila Amazonas.
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De acordo com ele, isso vem acontecendo devido aos resíduos químicos da empresa que são despejados no igarapé. “Coletamos amostras de água e de peixes”, afirma Nascimento.
A fábrica confirma que despeja efluentes no igarapé, mas informa que em 2000 colocou em funcionamento uma estação de tratamento e que direciona a água tratada a um tanque com peixes tambaquis, antes de dispensar os efluentes.
“Fazemos análises internas e externas, contratamos laboratórios. Diariamente de quatro em quatro horas monitoramos o que vai para o igarapé. Pelos dados que temos, nossos efluentes não são os causadores da mortandade”, afirma Dahlson Abreu, gerente industrial do Grupo e até o começo deste ano gerente ambiental na empresa.
Desde que os peixes passaram a morrer, Nascimento afirma que moradores do local têm chamado a atenção das autoridades. “Nunca fomos atendidos pelo poder público local, que não toma nenhuma providência no que diz respeito aos danos ambientais que esta fábrica de bebidas vem causando. O impacto é alarmante”, diz Nascimento.
Maurício Souza, diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá (IMAP) confirma que de fato as gestões anteriores não deram andamento nas denúncias. “De agora em diante o órgão será cada vez mais transparente e está de portas abertas para receber os comunitários. Eles podem me procurar pessoalmente”, garante.
“Queremos ser ouvidos. Sabemos o que está acontecendo e não podemos permanecer calados. Procuramos a empresa e nunca fomos recebidos. Ela nega as acusações perante a imprensa”, afima, em contraponto, o líder comunitário. A comunidade diz que nunca recebeu nenhum tipo de compensação pelos danos causados.
Abreu, do Grupo Simões, afirma que “não dá para falar em compensação quando não existe a comprovação de que nossa empresa é o agente causador do que vem ocorrendo”. “Estamos abertos para dialogar e identificar de que forma podemos colaborar para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que ali residem”, responde a empresa, por meio de sua assessoria de comunicação.
Investigação
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A Secretaria de Estado e Meio Ambiente do Amapá recebeu em janeiro uma denúncia dos moradores que acusam o Grupo Simões de danos ambientais ao igarapé. No mesmo mês o IMAP foi até a empresa e fez uma vistoria. “O igarapé é pequeno e vamos verificar se ele tem capacidade de receber a carga da fábrica e se autodepurar”, diz Souza.
Ele afirma que a mortandade está de fato acontecendo, mas que faltam dados técnicos para responsabilizar o Grupo Simões. “Isso pode ter como causa uma série de fatores: resíduos químicos da empresa, temperatura da água, esgoto doméstico. Vamos analisar a qualidade da água e aguardar os resultados”, afirma.
Se comprovado que os efluentes resultantes da fabricação de refrigerantes têm causado a poluição das águas do local, a empresa será autuada. “Ela terá que fazer as readequações necessárias. Também podemos entrar com medida compensatória junto às comunidades, acionar outros órgãos públicos e disponibilizar infraestrutura sanitária para aliviar a pressão sobre o igarapé”, complementa Souza.
Abreu observa que a fábrica está disposta a colaborar nas investigações sobre a mortandade.
“A maioria das famílias que morava nas proximidades foi embora por causa da poluição. Os processos são decididos entre eles e os laudos se perdem, mas não vamos desistir”, afirma Nascimento. Conforme o diretor do IMAP, na semana que vem amostras da água serão enviadas para um laboratório independente. O resultado das análises deve sair dentro de dez a 15 dias e dirá quem está com a razão.
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