Mais de 600 profissionais e 29 organizações da sociedade civil divulgaram um manifesto público pedindo a revogação do Decreto nº 12.689/2025, publicado em 21 de outubro, que adia por quatro anos a exigência de georreferenciamento e certificação de imóveis rurais de todos os tamanhos pelo Incra. A medida, que transfere a obrigatoriedade para 2029, é classificada pelos signatários como um “retrocesso institucional, econômico e jurídico”, com risco de desorganizar o ordenamento territorial e fragilizar os mecanismos de combate à grilagem e aos conflitos fundiários no país.
O georreferenciamento e a certificação são instrumentos essenciais de governança fundiária moderna, permitindo verificar sobreposições de áreas e garantir precisão nos registros de imóveis. A certificação, feita via Sistema de Gestão Fundiária (SIGEF), já resultou em mais de 1,6 milhão de parcelas certificadas, cobrindo cerca de 415 milhões de hectares, metade do território nacional. Segundo o manifesto, a suspensão da obrigatoriedade poderá ampliar a informalidade nos cadastros rurais, permitindo que cartórios aceitem levantamentos autodeclarados e sem validação técnica, “agravando o caos fundiário historicamente conhecido no país”.
Instituída pela Lei nº 10.267/2001 e regulamentada pelo Decreto nº 4.449/2002, a exigência da certificação teve prazos ajustados em diferentes momentos, mas sempre com foco em imóveis menores. O novo decreto, porém, paralisa o processo para todas as propriedades rurais, algo inédito. Para as entidades, a justificativa do governo, custos e dificuldades técnicas não se sustentam, uma vez que pequenos produtores já possuem isenção legal e o país dispõe de tecnologias e profissionais capacitados para execução em larga escala.
Entre as organizações que assinam o manifesto estão o Instituto Socioambiental (ISA), WWF-Brasil, Imazon, Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). Elas defendem a revogação imediata do decreto e a manutenção dos prazos estabelecidos anteriormente, de modo a preservar os avanços obtidos em transparência territorial e fortalecer o combate à grilagem de terras públicas.
Leia também
Suspensão do georreferenciamento de imóveis rurais ‘abre porta’ para a grilagem, alertam especialistas
Decreto adia para propriedades rurais de todos os tamanhos a necessidade de georreferenciamento em casos de transferência →
Um sexto do território brasileiro não tem dono, aponta estudo
141 milhões de hectares não estão registradas nos bancos de dados do governo. Situação fundiária no Brasil favorece grilagem e impede implementação de políticas públicas →
61% das Florestas Públicas ainda não destinadas na Amazônia estão registradas como privadas
Observatório das Florestas Públicas possibilita monitoramento do status das áreas ainda sem alocação específica. Governo publica norma sobre assunto →




