
Após descobrir, pela imprensa, que as queimadas na Amazônia estão aumentando, o vice-presidente Mourão, responsável pelo Conselho da Amazônia, teorizou sobre um “inimigo” dentro do INPE que estaria disponibilizando apenas os dados negativos para prejudicar o governo.
Mourão não soube apontar quem, mas livrou de pronto a cara do diretor interino, o militar Darcton Policarpo Damião, que assumiu a direção do INPE após a saída de Ricardo Galvão.
“Eu recebo o relatório toda semana. Até dia 31 de agosto, nós tínhamos 5 mil focos de calor a menos do que 31 de agosto do ano passado, entre janeiro a agosto. Agora, o INPE não divulga isso. Por quê?”, indagou. “Não é o INPE que está divulgando, é o dr. Darcton [Policarpo Damião] lá, que é o diretor do INPE, que falou isso? Não. É alguém lá de dentro que faz oposição ao governo. Eu estou deixando muito claro isso aqui. Aí, quando o dado é negativo, o cara vai lá e divulga. Quando é positivo, não divulga”.
Os dados de queimadas do INPE estão disponíveis na internet para qualquer cidadão verificar, analisar e divulgar (Veja aqui) e são atualizados automaticamente. A mesma coisa ocorre com os números do desmatamento.
A fala de Mourão, de reclamar dos números e do mensageiro, ao invés de combater os crimes ambientais, repete uma dinâmica ocorrida ano passado, tendo como protagonista Bolsonaro, que acusou o então diretor do INPE, Ricardo Galvão, de divulgar dados do desmatamento (os dados são públicos): “ele deve estar a serviço de alguma ONG”, disse, na ocasião. Galvão respondeu no dia seguinte, em entrevista ao Estadão. Defendeu o trabalho realizado há décadas pelo INPE e declarou que o presidente “tomou uma atitude pusilânime e covarde”. Foi demitido duas semanas depois, e o INPE iniciou uma reestruturação silenciosa, que ainda não terminou. (Daniele Bragança)
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