Salada Verde

Sem arpão, Curumim tem cirurgia descartada

Lança do olho do boto-cor-de-rosa saiu naturalmente após dias de movimentação. Cetáceo ainda permanece sob observação no interior do Amazonas, informou ICMBio

Michael Esquer ·
31 de maio de 2023
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

A aguardada cirurgia que iria remover o arpão de Curumim, boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) mais antigo do “Flutuante dos Botos” – projeto que desempenha o turismo de interação com os cetáceos no Parque Nacional (Parna) de Anavilhanas, em Novo Airão (AM) –, foi descartada. Isso porque a lança que ficou alojada no olho do animal, possivelmente vítima da caça ilegal, se soltou de seu corpo. 

“A equipe que está cuidando do boto Curumim constatou que o arpão saiu naturalmente durante a sua movimentação”, disse o ICMBio em nota encaminhada à reportagem na tarde desta terça-feira (30). “Felizmente o ocorrido gerou alívio e descartou o procedimento cirúrgico que seria realizado”. 

Como mostrou ((o))eco, o boto foi visto ferido no Parna de Anavilhanas no dia 18. Ou seja, até esta terça, quando houve o desprendimento do arpão, já haviam se passado 12 dias. A primeira tentativa de resgate do cetáceo foi realizada pelo ICMBio no dia 20, na comunidade Santo Antônio – para onde o animal se dirigiu e tinha permanecido, pelo menos até esta terça –, que fica distante 40 km do Parna. Entretanto, a operação não teve êxito. 

A nova tentativa, que contaria com uma equipe maior do ICMBio e mais estruturada para esse tipo de situação, ainda não tinha sido realizada, mas estava prevista para acontecer nos próximos dias. Isso segundo tinha dito o ICMBio à reportagem na segunda-feira (29). 

Em vídeo publicado nas redes sociais, Marisa Granjeiro disse que a queda do arpão já era um processo esperado, mas demorado. “Por isso que ele estava no medicamento”, disse a técnica ambiental credenciada pelo ICMBio, que atua no Flutuante dos Botos, no Parna. Para monitorar a saúde de Curumim, ela ficou na comunidade Santo Antônio, onde vinha sendo hospedada por ribeirinhos. 

“Uma operação é complicada e tem seus riscos”, disse Marisa ao comemorar o descarte da cirurgia. “Ao longo dos dias, nós tivemos altos e baixos. Teve dias que ele estava bem, teve dia que ele não estava tão bem. Mas todos esses dias ele foi bem alimentado, medicado, seguimos todas as orientações dos veterinários”, completou a técnica ambiental. 

Apesar de descartada a cirurgia, Curumim ainda requer atenção. “Nos próximos dias, o mamífero permanecerá em observação para receber medicações e cuidados especializados”, informou o ICMBio ao destacar que, desde que foi comunicado sobre o caso, iniciou força tarefa para tratar da saúde do animal. 

  • Michael Esquer

    Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com passagem pela Universidade Distrital Francisco José de Caldas, na Colômbia, tem interesse na temática socioambiental e direitos humanos

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