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Luta contra a fome e a sede: realidades duras enfrentadas pela fauna pantaneira

Macacos-pregos ficam entusiasmados após verem que o Grupo de Resgate de Animais em Desastres estava com frutas e param de evitar contato. Escassez de alimentos explica mudança no comportamento

Leandro Barbosa · Victor Del Vecchio · Gabriel Schlickmann ·
13 de setembro de 2021 · 3 anos atrás

Apesar dos incêndios estarem ocorrendo em menor proporção que no ano passado, há focos na Transpantaneira, em especial no Parque Encontro das Águas. Umas das técnicas usadas para evitar que estes incêndios se alastrem é o aceiro, que é a limpeza de uma determinada área a fim de prevenir a passagem do fogo para locais de vegetação. Apesar da técnica ser indicada, podem ocorrer acidentes e mortes de animais durante a limpeza dos terrenos. Hoje, infelizmente, registramos uma situação dessas. Acompanhamos a luta de uma cobra pela vida, após ter sido atropelada por um trator.

Mesmo com todo esforço do GRAD (Grupo de Resgate de Animais em Desastres) para salvar a cobra, ela acabou morrendo poucos minutos depois de seu resgate. Felizmente, esta foi a única morte que presenciamos no dia. Acompanhamos por todo o dia o GRAD em diversos pontos da Transpantaneira à procura de bichos feridos, na vistoria de câmeras trap e na distribuição de alimentos. Fomos na van do projeto, uma vez que nosso carro ainda segue quebrado.

Cremos que duas palavras que sempre irão aparecer neste diário são fome e sede. Realidades duras enfrentadas pela fauna pantaneira. São diversas frentes de ação. Por exemplo, enquanto o GRAD procurava bichos que pudessem estar em risco e, em alguns casos, oferecia frutas e ovos, a equipe da AMPARA Silvestre, orientada pelo Ibama, distribuía tuviras nos corixos que ainda têm algum volume de água no decorrer da estrada, a fim de que os animais que vivem neles tenham o que comer.

Uma cena impactante foi a reação de um grupo de macacos-pregos ao notar que o GRAD estava com alimentos. Animais não domesticados, em uma região distante de pousadas, agiram como se o humano não fosse um risco devido à fome. Se aproximavam para pegar os alimentos e corriam de volta às árvores ao redor do local onde estavam as frutas. Vê-los desta maneira foi extremamente triste. 

Os profissionais GRAD improvisaram um meio para também dar o que beber aos animais: cortaram uma garrafa pet ao meio e enterraram parte dela no chão, no recipiente foi depositada a última água gelada que a equipe ainda tinha, em um Pantanal com 40°C, por volta das 16h. Para os pregos foi como se tivessem encontrado um oásis em meio à terra seca. Para os humanos que se importam foi motivo de grande preocupação, por ser um sinal de falta de alimentos disponíveis na natureza. Mas, por hoje, tuviras e frutas saciaram alguns animais do Patrimônio Natural da Humanidade, o Pantanal. 

Galeria do Dia

Cobra atropelada. Foto: Gabriel Schlickmann.
Foto: Gabriel Schlickmann.
Atendimento. Foto: Gabriel Schlickmann.
Foto: Gabriel Schlickmann.
Tuviras. Foto: Gabriel Schlickmann.
Foto: Gabriel Schlickmann.
Garrafa pet cortada ao meio e enterraram no chão. No recipiente foi depositada a última água gelada que a equipe ainda tinha, em um Pantanal com 40°C, por volta das 16h. Foto: Gabriel Schlickmann.
Foto: Gabriel Schlickmann.
Foto: Gabriel Schlickmann.

Ajude a alimentar os animais do Pantanal

Sempre recebemos perguntas em nossas redes sociais sobre como ajudar os animais por aqui. Cooperar com a compra de tuviras é uma forma. E é urgente. Caso você tenha interesse em ajudar o PIX do GRAD é: 04085146/0001-38. O favorecido é o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. Sua ajuda garante a sobrevivência de bichos ilhados pela seca.

Pantanal ameaçado é um projeto de Leandro Barbosa, Victor Del Vecchio, Lina Castro e Gabriel Schlickmann, financiado coletivamente e que conta com o apoio da iniciativa Observa-MT.

  • Leandro Barbosa

    Jornalista, com publicações nos jornais The Intercept Brasil, Ponte Jornalismo, Globoplay, El País Brasil, UOL, Yahoo, Agência Pública e na revista americana Atmos

  • Victor Del Vecchio

    Advogado e mestrando em Direito Internacional pela USP, professor da Casa do Saber

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