O resort Costão do Santinho é um dos orgulhos do turismo catarinense. Seu complexo de Primeiro Mundo à beira-mar atrai para a cidade artistas globais e turistas do exterior, impulsionando a indústria sem chaminés. O Santinho tem tanta importância que conseguiu da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Vereadores a alteração do Plano Diretor de Florianópolis, em 2003, para aumentar sua área.
Foi então, e para agradar seu público sofisticado, que o empreendimento deu sua maior tacada: iniciou a construção de um condomínio com 350 residências em torno de um campo de golfe, em área de meio milhão de metros quadrados.
A bola foi pra fora: a tecnologia usada para implantar o campo coloca em risco o aqüífero que abastece os 30 mil moradores do norte de Florianópolis. O Ministério Público Federal (MPF) entrou no jogo, pedindo seu embargo e uma multa de 200 mil reais por dia se a obra continuar. O caso está na Justiça.
A procuradora Analúcia Hartmann entrou com a ação solicitando a interdição da obra porque o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) desconsiderou a existência de três poços na área a ser construída. Além disso, ela questionou as licenças concedidas pela Fatma (fundação ambiental do estado) e pela Prefeitura.
Especialistas suspeitam que os produtos químicos necessários para a manutenção do campo de golf sejam prejudiciais ao lençol freático e contaminem o aqüífero. Desde 2003 a Procuradoria vinha pedindo explicações de qual seria a forma para evitar que a contaminação acontecesse.
A resposta só veio depois do pedido de embargo. A empresa construtora, da família Marcondes de Mattos, garantiu que os riscos de poluição são “inexistentes”. Segundo ela, “a Fundação de Ensino e Engenharia de Santa Catarina (Feesc) irá participar da gestão integrada do gramado e do controle de pragas, além de controlar os traços de elementos químicos nos recursos hídricos da região”.
A ação do MPF foi baseada em um abaixo-assinado com mais de 2.500 assinaturas de pessoas preocupadas. Outra dúvida é a construção de um teleférico entre os morros que separam a Praia do Santinho e a localidade de Capivari, em Ingleses do Rio Vermelho. Apesar de toda polêmica, durante a semana passada máquinas e caminhões continuavam trabalhando na construção do novo resort.
* Carla Lins tem 21 anos e é recém-formada jornalista em Florianópolis.
Leia também
Ultradireita ameaça ação climática no berço do Acordo de Paris
Freio a renováveis e abandono da cooperação internacional preocupam ativistas na França; esquerda e centro tentam “cordão sanitário” após derrota inicial →
Em plantão, vice-presidente do STJ obriga volta parcial de servidores ambientais em greve
Liminar do ministro Og Fernandes determina que servidores nas áreas de licenciamento e de gestão de Unidades de Conservação retornem; fiscalização ambiental não foi afetada pela decisão →
STF adia julgamento final sobre a Cota Zero da pesca em Mato Grosso
Prejuízos a 15 mil famílias são desconsiderados e Corte ainda não decidiu sobre a inconstitucionalidade da legislação estadual →