Reportagens

Dois lados da moeda

Durante audiências públicas do licenciamento ambiental da usina de Angra 3, realizadas há uma semana, O Eco entrevistou duas pessoas com visões opostas sobre a energia nuclear.

Felipe Lobo ·
28 de março de 2008 · 16 anos atrás

Na sexta-feira (28/03), terminou o ciclo de audiências públicas do licenciamento ambiental da usina nuclear de Angra 3, com uma reunião Ubatuba (SP). A história desta fase, no entanto, começou no último dia 25, quando representantes do Ibama, Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Eletronuclear, sociedade civil e da empresa responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental se reuniram para conversar sobre o projeto no Iate Clube de Aquidabã, em Angra dos Reis.

Em junho do ano passado, o mesmo local foi palco da primeira audiência da iniciativa que pretende ressuscitar o Programa Nuclear Brasileiro, criado na década de 70 pelo governo militar. Mas, pelo que se viu na terça-feira, a população local permanece com muitas dúvidas sobre o impacto social e ambiental que a terceira estação da central Almirante Álvaro Álvaro Alberto pode causar. Questões como a destinação final dos rejeitos radioativos e o plano de evacuação dos moradores no caso de acidente foram recorrentes.

A energia elétrica produzida através da fissão do urânio enriquecido artificialmente ainda gera muitas dúvidas. Há argumentos fortes tanto com relação aos seus benefícios, quanto aos riscos. O Eco conversou com duas pessoas de opiniões absolutamente contrárias sobre a nova planta. As entrevistas com Iukio Ogawa, superintendente de licenciamento e meio ambiente da Eletronuclear, e José Rafael Ribeiro, coordenador da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ) aconteceram um pouco antes do diretor interino de Licenciamento do Ibama, Valter Muchagata, iniciar a audiência pública do Iate Clube, em Angra dos Reis.

De acordo com Ogawa, a população que vive no entorno do local escolhido para erguer Angra 3 pode ficar tranquila: não há qualquer risco da usina liberar material radioativo para a atmosfera. “A estrutura conta com várias barreiras (para cortar a radiação), os operadores são treinados para enfrentar essas situações anormais, e há vários sistemas de alarme, detenção e monitoração para orientar a ação de nossos trabalhadores. Então, o projeto já é voltado para reduzir a níveis insignificantes a possibilidade de um acidente”, diz.

Já Ribeiro enxerga perigos latentes. Segundo ele, ainda não existe solução para a destinação final segura dos rejeitos radioativos em nenhum lugar do mundo. Além disso, sugere que o plano de evacuação montado pela estatal é ineficiente e conta que há trabalhadores temporários expostos à radiação nos momentos de parada das usinas. “Se o empreendedor levasse os problemas a sério, não iria construir uma planta no nível do mar, sendo que há previsões de que ele vai se elevar nos próximos anos. Será o primeiro cemitário nuclear submerso”, lamenta.

Para conferir às duas entrevistas na íntegra, clique nos arquivos abaixo

Entrevista com Iukio Ogawa, superintendente de licenciamento e meio ambiente da Eletronuclear.

Entrevista com José Rafael Ribeiro, coordenador da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ).

  • Felipe Lobo

    Sócio da Na Boca do Lobo, especialista em comunicação, sustentabilidade e mudanças climáticas, e criador da exposição O Dia Seguinte

Leia também

Notícias
22 de maio de 2024

Desmatamento na Mata Atlântica caiu 27% em 2023, mas encraves em outros biomas preocupam

Segundo dados da SOS Mata Atlântica, desmatamento em florestas maduras foi de 14.697 hectares; derrubadas em encraves no Cerrado e na Caatinga superou 69 mil hectares

Salada Verde
22 de maio de 2024

No dia da Biodiversidade, ICMBio cria quatro unidades de conservação privadas

RPPNs estão inseridas em três diferentes biomas, em área somada de cerca de 500 hectares. RPPNs de todo Brasil protegem cerca de 800 mil hectares

Análises
22 de maio de 2024

Código Florestal como peça fundamental para enfrentamento da crise climática

A recuperação dos passivos de vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros não impedirá futuras tragédias climáticas, mas além de contribuir para mitigá-las, certamente reduzirá seus impactos

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.