Manaus, AM – A presença do bobo-pequeno (Puffinus puffinus) no litoral brasileiro é conhecida desde o descobrimento, quando Pero Vaz de Caminha registrou a presença dos furabuchos, outro nome popular da espécie, logo nos primeiros dias de chegada ao Novo Continente. Já era uma ave bem conhecida pelos portugueses, pois ela se reproduz em ilhas do Atlântico Norte, principalmente no Reino Unido, mas também nos Açores, na Madeira e nas Canárias.
Ele mede cerca de 35 centímetros de comprimento e as asas, quando abertas, podem chegar a quase 90 centímetros de uma ponta a outra. Porém, o que mais impressiona nessa ave é a longa migração. De regiões ao norte, ela viaja até 20 mil quilômetros, ida e volta, até o litoral sul-americano, onde aproveita o verão no Hemisfério Sul. É realmente uma espécie cheia de surpresas: há alguns anos foi encontrada no Brasil uma ave dessas que havia recebido uma anilha na Europa 31 anos antes!
Agora, pesquisadores britânicos descreveram com detalhes diferentes padrões de comportamento do bobo-pequeno ao longo de sua migração. Eles utilizaram um método computadorizado para analisar dados sobre comportamento dos animais, denominado Ethoinformática. O resultado do estudo foi publicado no jornal Interface da Royal Society e está disponível na internet.
“Nós conseguimos obter uma quantidade sem precedentes de informações sobre esses indescritíveis andarilhos dos oceanos”, afirma Tim Guilfor, professor da Universidade de Oxford e um dos autores do artigo. “Nós tentamos compreender o processo que governa o comportamento das aves no mar e as decisões que elas podem tomar durante a migração e forrageamento”, completa.
Para tornar possível o monitoramento das aves durante um longo período e em grandes distâncias, os pesquisadores tiveram de driblar as restrições do uso de equipamentos de GPS, limitados pelo peso, custo elevado e vida útil. Os pesquisadores desenvolveram um modelo de análise que utiliza informações simples, como sinais emitidos por localizadores quando eram submersos na água.
Além de muito leves, pesam menos de dois gramas, esses localizadores são mais baratos e podem emitir sinais durante anos seguidos.
Primeiro, foram determinados padrões de comportamento, com base em uma grande quantidade de dados obtidos com equipamentos de GPS de alta resolução, durante a estação de reprodução, em ilhas do Reino Unido. A partir desses padrões, eles foram capazes de prever, com 74% de acerto, o comportamento das aves, com base nas informações emitidas pelos localizadores.
Depois de três anos de estudo ao longo das rotas de migração, entre o Norte e o Sul, eles concluíram que o bobo-pequeno gasta mais tempo buscando alimentos ou em voo durante o período de reprodução do que quando estão no Hemisfério Sul.
Enquanto aproveitam o verão aqui do Sul, eles preferem permanecer mais tempo descansando. O estudo identificou também que quando estão no litoral do Sudeste brasileiro, as aves passam um bom tempo buscando comida.
Os dados indicam também uma relação entre o comportamento das aves e as condições ambientais, como temperatura da água, quantidade de clorofila e produção primária. Durante a migração, quando encontram áreas com grande produtividade primária, é mais comum encontrar as aves descansando.
É bem possível que quando Caminha esteve por aqui, ele se deparou com os bobo-pequenos no sentido inverso ao que ele fazia. Em maio começa o período de reprodução nas ilhas do norte. Em abril, as aves estão retornando para lá, depois de aproveitar uns meses no sul e aproveitarem o almoço na costa brasileira.
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