Reportagens

“O rio está carcomendo os terrenos”

Fermín Rojas e Cristina Rojas, em Arapicos, contam os problemas que eles têm com a falta de água potável e com a contaminação do rio

Maricela Rivera ·
27 de agosto de 2012 · 12 anos atrás
Poluição e a força do rio são ameaças para os agricultores que trabalham perto do Rio Palora. Crédito: Rubén Ramírez, Finding Species
Poluição e a força do rio são ameaças para os agricultores que trabalham perto do Rio Palora. Crédito: Rubén Ramírez, Finding Species
a
Em Palora o sol sai cedo, são oito da manhã e já começa a se sentir o calor, hoje será um dia de sol intenso. Nove da manhã e Pedro, nosso motorista de taxi, nos recolhe para começar o percurso até o Rio Palora. O caminho está cheio de plantações de cana de açúcar e de pitaia.

Em amplos terrenos, duas pessoas preparam o pulverizador. Paramos, porque Pedro os conhece. Eles são Fermín e Cristina Rojas, agricultores que dependem totalmente do rio e seus movimentos. Fermín chegou a Arapicos quando era muito jovem, e ali sempre se dedicou à agricultura. Dos três hectares que eles têm, um está muito perto do Rio Palora.

“O rio está carcomendo os terrenos, quando cresce vem cavando a terra, se o vilarejo está quase sendo levado pelo rio”, diz Fermín enquanto mostra o ultimo pedaço de terra que foi levado pelo rio. Apesar das denúncias na Central de Riscos nada foi feito. As vacas e os bezerros também vão com a água quando a terra desliza. “Necessitamos de uma ponte, a correnteza aqui é muito forte. Antes esta parte não era assim, todo era mais para lá, mas o rio foi carcomendo a terra e já formou um desvio”.
 
Enquanto Fermín procura pitaias, Cristina nos conta que os rios pequenos que desembocam no Palora, como o Rio Arapicos, sofrem mais. “Claro que existem problemas de poluição, se aqui na beira do rio duas famílias colocaram há um ano um chiqueiro e todas as sujeiras vão para o rio, porque os poços estão na beira. Mais para baixo vivem mais pessoas que ocupam o rio, há crianças que vão à escola”, conta Cristina enquanto mostra os chiqueiros. “Nós pegamos água em baldes para dar ao gado, mas eles não tomam porque a água tem cheiro à bosta de porco, e esse é um problema para nós porque se o gado não toma água, morre”.   

Fermín retorna com unas pitaias na mão, põe o pulverizador nas costas e se despede, e é que o sol está mais intenso e eles têm muito para dedetizar. Antes de se despedir, ele nos conta que apesar de estar rodeados de água não possuem água potável. “Os rios têm que ser cuidados, protegidos. Este é o único rio que nos abastece, mas as autoridades não fazem nada. Aqui não temos água potável, a água que temos chega por mangueiras desde o rio”, termina, enquanto nos entrega umas pitaias para saborear. “Voltem quando vocês quiserem” nos dizem, enquanto se perdem entre os cactos.

Leia também

Reportagens
30 de abril de 2024

Ambientalistas acusam multinacional japonesa de lobby contra a criação do Parna do Albardão

A denúncia foi levada ao MPF no Rio Grande do Sul com pedido de providências. Empresa de energias renováveis nega acusações e afirma não ser contra a proteção ambiental da área

Notícias
30 de abril de 2024

Plásticos são encontrados em corpos de botos-cinzas mortos

Estudo identifica microplásticos em todas as doze amostras de botos-cinzas mortos encontrados no Espírito Santo. Um resíduo de 19,22 cm foi retirado de um deles

Reportagens
30 de abril de 2024

Para salvar baleias, socorristas de México e EUA arriscam a própria vida

Registros de baleias presas em equipamentos de pesca estão crescendo na costa oeste do México, no Atlântico Norte e no resto do mundo — assim como os esforços para libertá-las

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.