Notícias

ICMBio lança “Caminhos da Serra do Mar”

Amantes de montanhismo poderão fazer travessia de 6 dias na Serra dos Órgãos, começando em Magé e seguindo até Teresópolis, sede do parque.

Fabíola Ortiz ·
19 de julho de 2013 · 11 anos atrás
Silhueta da Serra dos Órgãos. Foto: Cecilia Cronemberger
Silhueta da Serra dos Órgãos. Foto: Cecilia Cronemberger

Rio de Janeiro – Para os amantes de montanhismo, aventura e caminhadas que contemplem vistas panorâmicas de 360°, a dica está na nova travessia de longa duração na Serra dos Órgãos. Apelidada de os “Caminhos da Serra do Mar”, a travessia será oficialmente inaugurada no dia 15 de agosto com nova sinalização e cartilha para o andarilho.

São seis dias de percurso passando pelas cidades de Magé, Petrópolis, Teresópolis e Friburgo. Entre os ambientes que o visitante irá percorrer estão a mata de encosta, campos de altitude, além de paredões rochosos, picos, poços e cachoeiras.

Segundo disse a ((o))eco Leandro Goulart, chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o principal objetivo de criação desta trilha é o de favorecer a conservação ambiental na Serra do Mar, integrar diversas unidades do mosaico da Mata Atlântica e assegurar assim uma estratégia de conservação através do uso público dos espaços.

A ideia de fazer uma trilha de longo curso já era antiga, afirmou Leandro, mas só em abril de 2012 começou a ser concretizada.

O começo da travessia

Para os corajosos que desejam completar os seis dias de caminhada, a travessia se inicia na Vila Inhomirim, em Magé. A recomendação é começar por volta das 8h. São 7 quilômetros pelo antigo caminho do ouro, uma subida considerada leve-superior, pois começa em uma altitude 20 metros e chega até 700 metros. A caminhada varia entre quatro e cinco horas.

O pernoite será feito no bairro Morin, em Petrópolis. Morin é uma comunidade urbana próxima ao parque e lá há opção de hospedagem em pousadas. Não é possível acampar ainda nesta área dentro do parque.

Segundo Leandro, a administração está com o projeto de ampliar as áreas de camping, mas ainda é preciso alterar o plano de manejo.

O segundo dia começa bem cedo entre 6h e 7h e o ponto de partida é as Três Pedras para acessar a travessia Cobiçado Ventania – uma caminhada de nível pesado. “São 12 quilômetros com uma vista deslumbrante da cadeia montanhosa em que o visitante tem uma visão 360 graus. Em dias ensolarados, sem nuvem, é possível avistar a Baía de Guanabara, a cidade do Rio de Janeiro, a ponte Rio-Niterói, assim como a serra de Petrópolis”, afirmou Leandro.

A altitude neste dia chega a 1.740 metros. A trilha é considerada difícil pelos poucos pontos de água (recomenda-se levar 3 litros), a subida é íngreme e há muito desnível de terreno, além de ter pouca sombra.

Nesta noite, o visitante dormirá na comunidade rural de Caxambu, em Petrópolis, onde vivem cerca de 100 habitantes. “A área tem poços de água, produção de flores e os moradores estão animados para abrir suas porteiras para montar barracas ou alugar camas”, comentou.

Uricanal, Açu e Pedra do Sino

Uricanal. Foto: Bruno Nepomuceno
Uricanal. Foto: Bruno Nepomuceno

O terceiro dia é marcado pela trilha do Uricanal, é um caminho antigo usado por caçadores. A trilha liga o vale do Caxambu ao vale do Bonfim. No caminho, o visitante atravessa pequenos poços, cachoeiras de águas cristalinas e fria, assim como mirantes.

São 8 quilômetros que podem ser feitos em cerca de quatro horas de caminhada até chegar à comunidade rural do Bonfim. De lá, o visitante pode escolher subir o Pico da Alcobaça de 1.800 metros de altitude, cerca de uma hora de subida.

A comunidade do Bonfim está dentro dos limites do parque e seus moradores são muito receptivos para acampar, afirma Leandro.

Em Bonfim está localizada numa das sedes do Parnaso e lá é cobrado um ingresso de R$ 22 por pessoa. O brasileiro tem desconto de 50% e paga R$ 11, enquanto moradores de Magé, Guapimirim, Petrópolis e Teresópolis pagam R$ 2,20. Menores de 12 anos e maiores de 60 anos são isentos.

Ainda é cobrada uma taxa de trilha para quem sobe o Morro do Açu no dia seguinte e custa R$ 16,50.

No quarto dia, são 8 quilômetros (cerca de seis horas) até o Morro do Açu de 2.200 metros. Lá em cima, há estrutura de abrigo de montanha para acolher 30 visitantes e 70 dormindo em barracas.

“É uma caminhada pesada e cansativa, e tem que levar água”, recomenda o chefe do parque.

A dica é acordar bem cedo no penúltimo dia para ver o nascer do sol e depois seguir na travessia Açu-Pedra do Sino. São 9 quilômetros que podem ser feitos entre 7 e 8 horas.

Este será mais um dia pesado em que o visitante percorre sete vales. “Mas é a caminhada mais gratificante. O visitante avista toda a cadeia da Serra dos Órgãos”, garante Leandro.
Neste dia, o principal atrativo são os Portões de Hércules, um mirante com um paredão de 700 metros.

A última noite será no abrigo do Sino que fica na base da Pedra do Sino de 2.275 metros.

No sexto dia, o andarilho já realiza o caminho de descida até Teresópolis. São 12 quilômetros até alcançar a sede do parque. Recomenda-se chegar até 16h.

Dicas de caminhada

Algumas dicas práticas: o celular quase não pega, mas existem pontos na crista das montanhas e é possível ter algum sinal.

É recomendado levar lanterna e GPS. O parque dá um mapa de referência e é possível fazer a caminhada sem guia, mas para quem não conhece, recomenda-se ir acompanhado de um condutor.

O chefe do Parnaso indica ainda que seja comunicado por e-mail à administração do parque aqueles decidirem fazer toda a travessia começando em Magé, pois lá não há controle de entrada.

No verão, as temperaturas alcançam as máximas de 30 graus e, no inverno, já foi registrado uma mínima de -3 graus.

Mosaico da Mata Atlântica

Castelos do Açu, PARNA Serra dos Órgãos. Foto: Flávio Varrichio
Castelos do Açu, PARNA Serra dos Órgãos. Foto: Flávio Varrichio

A ideia é que a trilha não termine em Teresópolis. Os “Caminhos da Serra do Mar” é um projeto de criação de uma trilha de longa duração que tem como ambição percorrer algumas das unidades de conservação do Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense.

“Estamos negociando com o Parque Estadual dos Três Picos gerido pelo Inea para expandir a travessia. Já estão em levantamento mais trilhas. Queremos ter uma travessia de 15 dias de aventura para inaugurar na temporada de montanhismo de 2014, entre abril e outubro”, anunciou Leandro.

Nesta grande travessia, será possível chegar até a região de Salinas em Nova Friburgo, ao Sana e se estender até Casimiro de Abreu.

O parque tem a maior rede de trilhas do Brasil com mais de 130 quilômetros para trekking em todos os níveis de dificuldade – como a trilha suspensa e a travessia Petrópolis-Teresópolis com 30 km de subidas e descidas pela parte alta das montanhas.

As escaladas também são algumas das atrações como o Dedo de Deus e a Agulha do Diabo. Todas estas trilhas e atrativos do parque podem ser visitados sem o acompanhamento de guias.

Sobre a Serra dos Órgãos

Criado em 30 de novembro de 1939, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos tem como objetivo a proteção da paisagem e da biodiversidade na Serra do Mar. A Unidade de Conservação abriga cerca de 2.800 espécies de plantas catalogadas e 130 animais ameaçados de extinção e espécies endêmicas que só existem lá.

A fauna é rica e diversa. Entre os mamíferos destacam-se o muriqui (Brachyteles arachnoides), maior primata das Américas, e grandes predadores carnívoros, como o puma, ameaçado de extinção. Em 2008, pesquisadores encontraram rastros da onça pintada, considerada extinta na região.

Entre as aves ameaçadas estão a jacutinga e o tietê-de-coroa, ave endêmica da Serra dos Órgãos. Um cuidado que se deve ter é com as cobras venenosas, como a jararaca e jaracuçu.

Segundo Leandro Goulart, a caça é uma das maiores dificuldades que a UC enfrenta, especialmente de paca, pássaros para tráfico, tatu, jacu e macaco.

O parque tem apenas três fiscais que trabalham em parceria com a Unidade de Polícia Ambiental (UPAM). Existe apenas um fiscal para cada 20 mil hectares.

“O desmatamento e a ocupação irregular estão contidos. Nós apostamos no uso público da UC com visitação para combater esses crimes como a caça”.

A situação fundiária ainda é um desafio, pois apesar de ser o terceiro parque nacional mais antigo do Brasil, tem apenas 20% de sua área regularizada.

  • Fabíola Ortiz

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

Leia também

Colunas
5 de março de 2013

Precisamos de mais visitantes nas unidades de conservação

Queira a burocracia ou não, existe demanda para que áreas protegidas sejam abertas à visitação. Isso é uma coisa boa que deve ser aproveitada.

Notícias
24 de junho de 2013

Chapada dos Veadeiros inaugura primeira travessia com pernoite

Amantes da natureza poderão explorar as belezas naturais do cerrado e conhecer as Sete Quedas, a mais nova atração da Unidade de Conservação.

Notícias
14 de novembro de 2024

Sombra de conflitos armados se avizinha da COP29 e ameaça negociações

Manifestantes ucranianos são impedidos de usar bandeira de organização ambientalista por não estar em inglês

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.